German tinha tido um plantão extremamente estressante durante o dia e acabou voltando para casa mais cansado que o normal. Seu único desejo era dormir.
Entrou em casa e escutou a voz da Violetta. Presumiu que ela estivesse com algumas amigas na cozinha, então decidiu não interromper. Lidar com adolescentes era a última coisa que queria naquele momento.
Escutou outra voz bastante familiar e sentiu que o coração parou de bater por alguns segundos, tentando se recuperar do choque. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo.
Ela já passou tantas vezes por mim, mas em forma de gemidos. Pensou.
Balançou a cabeça, esquecendo dos momentos em que ela sussurrava no seu ouvido, provocativa. Estava se deixando levar apenas pelos seus pensamentos e sabia que aquilo não terminaria bem.
Deu alguns passos hesitantes até a cozinha e abriu um botão da camisa social xadrez, para conter o nervosismo.
Parou de caminhar a partir do momento em que seus olhos se ergueram e observaram os longos cabelos loiros. Quase jurou poder sentir o aroma da pele macia de sua ex mulher. Quase jurou poder sentir os toques dela novamente, escutar a risada.
– Papai? – A voz da menina saiu um pouco assustada, pois ela sabia o que tinha acontecido e achava que ele armaria um escândalo (como de costume).
Angeles congelou ao perceber que havia uma nova presença na cozinha e quase parou de respirar. O cheiro dele tomou conta de todo cômodo, o que a fez estremecer diante de Violetta.
Não conseguiram distinguir quanto tempo durou para que Angeles virasse para German, porque todos três estavam nervosos e sem saber como reagir com aquela situação.
Ele deu um passo lento para trás quando seus olhos se encontraram com os dela, verdes e grandes. Estava linda. Usava um vestido preto e curto, mas bastante discreto. Como sempre, estava de salto alto, o que não era nenhuma surpresa.
– Eu não sabia que você iria chegar em casa hoje, por isso chamei a Angie. Estava com saudades. – Violetta falou baixo, ficando ao lado da mulher.
– Tudo bem. – Ele falou o mais firme que conseguiu. Estava se esforçando.
Angeles não conseguia falar nada, até porque não se sentia tão dentro da conversa assim. Tinha medo do que ele poderia fazer se ela deixasse escapar pelo menos uma palavra sem ser chamada para fazê-lo.
Trocou o peso do corpo de uma perna para a outra, movimento esse que German também conseguiu perceber, uma vez que seus olhos estavam discretamente se mantendo nela.
O celular de Violetta tocou na hora em que ela ia falar algo para o pai. Ao ver de quem se tratava, sorriu para Angeles e saiu da cozinha quase correndo para atender.
– Depois nós conversamos, papai! – Gritou.
O homem entendeu que seria algum tipo de menino no qual sua filha estaria interessada, mas evitou tocar no assunto. Deixaria para brigar por isso mais tarde.
– Se eu soubesse que você estaria aqui... Não teria vindo. – Ela soltou baixo.
Ele suavizou um pouco o olhar ao escutar a voz dela novamente depois de pouco mais de um mês. Estava com saudades de observar como os lábios se moviam e de como ela se comportava ao estar com ele. Mas logo, toda essa saudade foi substituída por raiva e ele voltou para a mesma postura firme de antes.
– Não sei nem o motivo de você estar aqui. Acho que fui claro quando te pedi pra não aparecer mais na minha vida.
German 1, Angeles 0. Ela pensou.
Aquelas palavras haviam realmente machucado. E ela sabia que ele fizera de propósito, apenas para destruir a pouca esperança que tinha sobrado.
– Sua filha me chamou... Eu não tinha como deixar de ajudá-la. É difícil viver na adolescência sem uma mãe, ainda mais se você for mulher.
– Você não é a mãe dela.
– Muito menos você. – Encarou aqueles frios olhos que ele possuía e se orgulhou da sua coragem.
German 1, Angeles 1.
Ele se aproximou um pouco e não deixou de encará-la. Ambos estavam nervosos com o momento, mas também desejavam ver como seria se ousassem se tocar, ou só chegar um pouco mais perto.
– Eu sou o pai e ela ainda tem menos de 18 anos.
– Você não pode tratar a Violetta como se fosse uma criança.
– Por favor, não comece com os seus argumentos psicológicos comigo. Isso nunca funcionou.
– Nunca funcionou, porque você não admite que faz coisas erradas.
– Não me venha falar de coisas erradas, está sendo hipócrita. – Ele aumentou o tom de voz.
– Eu reconheci meu erro e pedi perdão. Inúmeras vezes. – Falou baixo.
– PERDÃO? – Ele se aproximou o máximo que conseguiu, quase colando seu corpo ao dela e fazendo-a encostar no balcão. Ele pôs as mãos no mesmo e a deixou sem saída. – Você acha que pedir perdão vai acabar com toda a minha dor?
Os lábios deles estavam tão próximos que Angeles sentiu a respiração de German durante todo o tempo. Enquanto ele falava, foi quase impossível impedir que as lágrimas escorressem pelo seu rosto.
Ele estava agindo por impulso, sem conseguir pensar muito bem no que estava fazendo. Aquela mulher o enlouquecia de todas as formas possíveis e estar tão perto depois de mais de um mês o enchia de vontades. Vontade de beijar a única boca que era capaz de tirá-lo do sério, de acariciar todo o seu corpo, de amá-la na sua cama pelo resto da noite.
Ele a desejava como nunca antes.
– Eu não sei mais como demonstrar todo o meu arrependimento. – Suspirou e levou uma mão para o resto dele, acariciando devagar. – Eu te amo, Castillo. Muito.
O amor e o desejo venceram.
Ele puxou a mão dela para baixo e colou suas bocas com um desespero quase irreconhecível para alguém como German Castillo. O beijo começou desordenado, com bocas nervosas e trêmulas que se tocavam como se fosse a primeira vez depois de anos. A língua dele foi em busca da dela com uma necessidade incontrolável. Angeles levou as mãos para o cabelo dele, puxando-o com vontade e mostrando todo o seu prazer apenas com aquele beijo. Ele mordia o lábio dela várias vezes para logo recomeçar o beijo com a mesma intensidade. Pôs as mãos na fina cintura dela e sentiu um choque ainda maior percorrer seus corpos. Sentia a falta de tocar aquela pele com tanta propriedade e admiração.
Encostaram ainda mais os corpos e ele pressionou sua cintura contra a dela, excitando-os ainda mais. Angeles pôde sentir o volume na calça dele e sorriu mentalmente ao perceber que ainda havia a mesma atração de sempre. Nem tudo estava acabado.
A mão dele desceu da cintura para suas nádegas, apertando devagar e fazendo-a soltar um gemido baixo.
Escutar aquele som novamente era música para os ouvidos de German. Ele agradeceria por aquilo em suas orações.
Quando ela estava quase sentando no balcão para continuarem com o episódio erótico, escutaram uma voz masculina e familiar ecoar pela casa.
Era Max.
Afastaram-se rapidamente e German demorou um tempo para processar o que acontecia. Quando o fez, negou com a cabeça para Angeles e sussurrou antes do padrasto dela entrar na cozinha:
– Desculpe. Eu não consigo te perdoar.

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It Must Have Been Love
RomanceGerman Castillo, neurocirurgião obcecado pelo trabalho e pela segurança de sua filha Violetta. Homem frio, calculador e duro com qualquer um que entre em seu caminho. Anos trabalhando no Hospital Central de Toronto, sempre procurou esconder as dores...