Capítulo 11

25 4 1
                                    

04 de Dezembro de 2017

Narrado por Eleonora

Não estava preparada psicologicamente para voltar a ver o Marco novamente.

Dizem que a timidez tal como a inocência são características adoráveis, infelizmente eu tenho de discordar.

Desde que me lembro da minha existência tenho convivido diariamente com a timidez, posso até considera-la a minha pior amiga.

Enquanto os amigos da minha avó se instalavam no sofá eu observava-os atentamente, mas ao mesmo tempo em que os meus olhos estavam postos no grupo de idosos o meu coração palpitava descontroladamente. Eu sabia que uma das senhoras com rastas, com roupas com um ou mais números acima dos seus era a avó de Marco. Sabia também que o homem que naquela tarde me prensou contra o lava-loiças e me beijou marcaria presença ao jantar.

Como iria eu encará-lo após o beijo? Será que também ele sentiu as tão clichés borboletas no estomago como eu senti?

Quando o moreno atravessa a porta, o meu coração intensifica ainda mais a palpitação descontrolada.

– Boa noite. – Marco cumprimenta os presentes na sala que não ouviram e caminham para a sala de jantar com a minha avó

Apenas a minha mãe e um homem bastante charmoso permanecem na sala juntamente comigo e com Marco.

Eu e o moreno à minha frente encaramo-nos sem sabermos o que dizer. Odeio momentos assim!

Sinto as minhas bochechas aquecerem brutalmente, como se tivesse saído do transe em que me encontrava caminho também para a sala de jantar sentando-me numa das cadeiras vazias ao redor da mesa.

Os mais velhos conversam entre sim animadamente enquanto eu encaro o prato azul ainda vazio à minha frente.

O perfume amadeirado invade as minhas narinas quando Marco se senta a meu lado, não preciso olhar para ter a confirmação que ele está próximo a mim, a tensão no meu corpo denuncia-o.

– Precisamos de conversar. – sussurra ao meu ouvido arrepiando-me. Engulo em seco e assinto. – Quando o jantar acabar vai ao teu quarto, eu vou lá ter contigo. – manda sem qualquer tom amistoso na voz.

É esta maneira mandona de ser que me excita em relação a Marco. Aquele jeito determinado!

Sirvo-me de três canelones que estão deliciosos, à minha frente o homem charmoso encara a minha mãe com saudade, já a mesma evita trocar qualquer olhar com ele.

– Eleonora, sabes que a Cristal é a avó do Marco? – a minha avó informa-me. Sorrio para a senhora que mantem o seu olhar preso no meu.

– Muito prazer, sou a Eleonora, neta da Clara e filha da Mila. – cumprimento-a e a mesma lança-me um sorriso encantador.

Tenho de admitir que conhecer os amigos da minha avó me causava um medo terrível, nunca tinha estado em contacto com alguém que tivesse outra ideologia de vida para além da que me habituaram. Irónico, eu sei, visto que a minha avó pertenceu a um grupo ligado à paz e ao amor.

– O prazer é todo meu, minha linda. – a senhora com dreadlocks brancos e com tatuagens alternativas nas mãos responde carinhosamente.

Acredito que todas as pessoas que aqui estão ao redor da mesa da sala de jantar já sofreram bastante por causa da sua aparência e do seu modo de vida, porém nada disso os impede de serem felizes com a escolha que tomaram.

O jantar seguiu com risadas, conversas animadas e gargalhadas entre os mais velhos.

Observo a minha mãe que também ela parece estar tensa. Ao seu lado o homem charmoso lança-lhe sorrisos safados idênticos aos que Marco me direciona desde que cheguei a Manarola e o ameacei com o cutelo.

O Despertar do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora