Capítulo 15

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Narrado por Mila

05 de Dezembro de 2017

Entrelaço o meu braço no da mulher que me deu a vida e a passos vagarosos descemos as escadas.

A cada dia que passa vejo que a minha mãe está mais debilitada e isso é uma preocupação para mim. A minha mãe sempre foi uma mulher com uma força fora do normal, com uma alegria contagiante e de sorriso fácil. É verdade que sempre tentei ser como ela.

Desde que regressei a Manarola tenho visto que a saúde da minha mãe está a piorar, há dias encontrei por cima da sua mesa de cabeceira um lenço ensanguentado porém não há sinal de qualquer tipo de ferimento no seu corpo. Ver aquele lenço levou-me a pensar na possibilidade de uma doença grave ter atingido a minha mãe, mas não há nada que demonstre essa mesma doença, excepto claro, uma pequena gripe. O que é totalmente normal dado as baixas temperaturas que se fazem sentir em Manarola e à idade avançada da Dona Clara.

Sei que a morte do meu pai também contribuiu bastante para o estado emocional da senhora a meu lado ficasse abalado. O que é completamente compreensível, afinal eles passaram uma vida inteira juntos com os mais variados obstáculos pela frente, onde o amor que sentiam um pelo outro era a sua armadura.

Eles eram aquele tipo de casal que embora casados há longos anos nunca se deixaram de amar.

- No que tanto pensas, filha? - a minha mãe pergunta quando terminamos de descer as escadas.

- No quanto tu e o pai se amavam. - revelo a observar a fotografia emoldurada que sempre prendeu a minha atenção.

Na fotografia o meu pai abraça a Dona Clara que sustem um sorriso de orelha a orelha, olhos brilhantes carregados de ternura ao segurar o braço do meu pai.

Era um amor assim que eu sonhava para mim e para o Ronny.

Mas isso nunca aconteceu...

Pelo arco que divide a sala da cozinha consigo observar a minha filha numa conversa animada, cheia de sorrisos e gargalhadas.

- Vai para lá também, a mãe vai acender a lareira, estou com frio. - diz a minha mãe caminhando para perto da lareira sendo acompanhada por Hera.

Confesso que tinha pavor da reação da Eleonora ao saber a sua verdadeira paternidade. Sempre prometi a mim mesma que este seria um segredo que levaria comigo para o túmulo, mas claro, nunca pensei que a ligação dos factos e a inteligência de Ronny me atraiçoa-se e eu me visse obrigada a quebrar a minha promessa e revelar tudo ao fim de 22 anos.

- E foi assim que eu conheci a tua mãe. - ouço Ronny terminar de contar o que penso ser a nossa história.

- Vocês têm um passado bonito. - a minha filha diz encantada. - Mas vocês ainda vão a tempo de mudar esse fim.

- É filha, realmente é bonito, mas houve uma coisa que eu aprendi na vida. Sabes qual foi? - Eleonora nega em silêncio. - Foi que o bonito não dura para sempre. - alfineta Ronny que me lança um olhar carregado de dor.

- Mas vocês podem conversar... - Eleonora propõe esperançosa antes de eu a interromper.

- Assim como tu e o Marco? - indago sem pensar. Rapidamente o rosto da mais nova fica ruborizado.

Este é o lado ruim de ter uma filha romancista! Ele vê romance em tudo!

- Eu e o Marco não temos nada, mãe! - Eleonora diz indignada. - Acho que vocês têm mesmo muito para conversar. Vou dar uma volta. - a minha filha determina e sai zangada da cozinha.

Caminho em direção ao lava-loiças em frente à janela da cozinha e encaro a rua coberta de neve. Consigo sentir dois olhos cravados em mim, até me arrisco a dizer que sou capaz de ouvir todos os pensamentos que estão a passar na sua cabeça. Não profiro uma única palavra, tenho receio que se inicie uma nova discussão com Ronny, as palavras duras que me dirigiu esta manhã ainda não saíram da minha mente.

- A Eleonora tem alguma relação com o Marco? - Ronny pergunta com o tom de voz baixo. Finjo não ouvir e continuo a encarar a rua.

Desde que sai da tribo a minha vida tornou-se num aproveitar de todas as oportunidades. O meu amor pelo homem sentado em frente à mesa da cozinha foi enorme admito, mas muitos erros e atitudes mal tomadas por ambos fizeram com que esse amor se transforma-se em indiferença e mágoa, até voltar a estar cara a cara com ele.

Embora a mágoa ainda seja grande, hoje sinto que o amor é muito maior. Porém não me posso deixar levar por esse mesmo amor.

A vida de Ronny é muito imprevisível, hoje está aqui a meu lado, mas amanhã pode estar a 800km de distancia.

E de tudo o que eu não estou a precisar neste momento é de me relacionar com um homem assim.

Como já afirmei, a partir da minha saída da tribo, comecei a desfrutar de todas os momentos, todas as circunstancias e todos os prazeres que a vida me coloca à frente do meu nariz.

E é assim que tenho e vou continuar a ser!

Esta é a nova Mila que me obrigaram a ser!

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