Capítulo 10

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04 de Dezembro de 2017

Narrado por Clara

Mila deixa todos os talheres espalhados por cima da toalha branca com detalhes azuis escuros que cobre a mesa e corre em direção à porta.

Toda a incrível euforia que a minha filha demonstra é única e exclusivamente para ver Ronny, o seu grande amor de infância e adolescência.

Mila e Ronny conhecem-se desde que eu e a mãe do menino estávamos grávidas – literalmente, - ambas pertencíamos à tribo hippie. Os dois cresceram e foram educados em simultâneo, quando Mila não estava na nossa Volkswagen Camper de 1964 ou normalmente apelidada de "Pão de Forma" com certeza que a encontraríamos na Volkswagen Camper dos pais de Ronny. E assim desenvolveram uma amizade maravilhosa, porém não conseguiram fazer uma rasteira ao destino e para além de amizade também o amor entre eles surgiu.

Ronny e Mila deram o seu primeiro beijo quando ambos tinham oito anos, começaram a namorar com catorze. Entretanto quando Mila completou o seu vigésimo primeiro aniversário, o namoro mais acarinhado pela tribo hippie rompeu-se. Mila seguiu a sua vida e engravidou de Eleonora. Já Ronny, continuou o legado dos seus pais acompanhando a tribo para todo o lado.

Mila e Ronny não se veem há exatamente vinte e dois anos. E particularmente não sei como irá correr o reencontro que está prestes a acontecer.

- Boa noite, sejam todos bem vindos. – ouço Mila dizer após abrir a porta.

Caminho para a sala encontrando Eleonora em frente à lareira analisando as três mulheres que acabam de entrar e os dois homens que as seguem. Cinco rostos conhecidos por mim e por Mila ocupam todos os lugares do sofá maior da sala. Martina, Cristal, Romeo, Petro e Giovanna.

Giovanna e Petro são os pais de Ronny. Cristal é a avó de Marco e Martina e Romeo são o casal que eu e Benito ajudamos a fugir da máfia.

Abraço com saudade os cinco individuos que fazem parte do meu passado. Continuo a tomar atenção à entrada para não perder os reencontros.

– Boa noite. – Mila diz automaticamente a um Ronny mais velho. Dificilmente a minha filha o reconhecerá. O antigo amor de Mila pega na sua mão e beija-a olhando profundamente nos olhos de Mila.

Ronny e os seus galanteios!

O cabelo castanho sempre cortado rente à cabeça foi transformado em dreadlocks loiros, o rosto limpo ganhou barbas longas também elas loiras, porém o seu olhar continua com a mesma tonalidade de castanho claro, com a mesma meiguice, com a mesma determinação.

A essência de um homem livre de qualquer opinião da sociedade ainda está presente na sua personalidade, foi assim que o menino agora homem foi educado, foi essa a ideologia que seguiu.

É assim que a tribo hippie é! Livre!

Reparo que Eleonora continua petrificada no mesmo lugar que ocupava há uns minutos, nenhum músculo mexe naquela rapariga, até que Marco entra pela porta ainda aberta.

As bochechas da minha neta voltam a ruborizar e um sorriso quase impercetível surge no seu rosto.

– Vai falar com ele. – aconselho ao seu ouvido para que só a menina envergonhada ouça. – Eleonora, se ele te fez feliz contra aquele lava-loiças enquanto te beijava, força minha neta, atira-te de cabeça, literalmente. – beijo a sua testa e caminho para perto dos meus amigos.

Mila fecha a porta com suavidade e junta-se a nós, a conversa é animada, as gargalhadas possivelmente são ouvidas ao fundo do bairro.

– Ronny, meu filho cresces-te tanto. – comento e vejo a minha filha surpreender-se quando olha para o homem a seu lado. Gargalho sendo acompanhada por Giovanna.

– É verdade tia Clara, o tempo também passa por nós, não é? – Ronny diz.

– Mannaggia! – Mila sussurra, sorrio transmitindo-lhe calma.

Compreendo a reação da minha filha, não é fácil deixar para trás um adolescente de vinte e um anos, com o corpo a desenvolver-se e agora passado vinte e dois anos encontrar um homem sarado, capaz de mexer com o psicológico de qualquer mulher, sentado ao seu dado e que por acaso foi o seu maior amor.

– Bom cambada, vamos comer. – todos assentem e começamos a caminhar para a sala de jantar.

Mila e Ronny continuam sentados no sofá a encararem-se. O olhar de ambos transmite milhares de emoções, encosto-me ao batente da porta e observo-os.

– Posso estar enganada, mas daquilo ali ainda se vai desenvolver alguma coisa novamente. – Giovanna diz a meu lado e aponta para o casal sentado no sofá.

– Eu acho que eles nunca se deixaram de amar. – digo e caminho de volta para a sala de jantar.

Sento-me no topo da mesa entre Giovanna e Cristal, a conversa flui alegremente, muitos sorrisos, muitas gargalhadas, muita amizade e muita saudade também.

Gostava que Benito estivesse presente neste reencontro de anos. Porém sei que onde ele esteja, está feliz de ver a família e os amigos reunidos.

Já falta pouco para nos reencontrar-mos meu Benito!


N/A: Esta semana o capítulo veio mais cedo! Yeeey! Peço-vos que comentem, eu  não sou autora de andar sempre a pedinchar, mas hoje peço sim! Comentem, o vosso comentário é importante! Beijo!  



O Despertar do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora