Capítulo 12

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05 de Dezembro de 2017

Narrado por Clara

Acordo com a claridade que entra pela janela, o céu cinzento apresenta sinais de mais um dia de chuva em Manarola, remexo-me na cama e constato pelo relógio que está por cima da mesa de cabeceira que dormi até tarde o que não me faz admirar pois deitei-me tarde e para melhorar a minha situação passei a maior parte da noite acordada por causa dos ataques de tosse que recentemente surgiram.

Mas o que mais me assusta não é propriamente a tosse, mas sim o lenço ensanguentado que eu coloco sempre à frente da boca quando tusso.

Tenho noção que algo de errado se está a passar comigo, porem não quero saber! Só quero acabar de contar a minha história a Eleonora e já posso morrer em paz.

Ontem enquanto o jantar decorria e relembrávamos tempos antigos, a minha neta desapareceu para o seu quarto e nunca mais regressou sendo seguida minutos depois de se ausentar da mesa por Marco.

Com Mila e Ronny aconteceu o mesmo, trocaram poucas palavras o que fez com que a minha filha subisse as escadas a correr fugindo do seu ex namorado.

Remexo-me novamente na cama tentando ganhar coragem para me levantar, um novo ataque de tosse atinge-me e novamente volto a ensanguentar o lenço que tinha nas mãos. Caminho até ao quarto de Eleonora que começa a acordar, Mila dorme a seu lado. Sorrio por as duas serem tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo.

- Bom dia avó. - a voz rouca da minha neta é ouvida.

- Bom dia meu amor. - sorrio docemente para a minha menina. - Preparada para mais uma sessão de escrita? - questiono e os seus olhos que antes estavam semicerrados arregalam-se tornando-se brilhantes.

- Nem precisas de perguntar. - Eleonora diz empolgada saindo da cama rapidamente o que faz com que Mila resmungue continuando a dormir. - Vai andando para a sala, vou apanhar os papeis.

E assim faço, caminho para a sala encontrando Cristal a dormir no sofá maior.

- Acorda, dorminhoca. - brinco abanado o corpo da minha velha amiga.

Tal como eu, Cristal também é viúva, o seu marido morreu numa das muitas viagens que fizeram.

- O que é o pequeno-almoço? - Cristal pergunta.

Dois grandes vícios da minha amiga são: comer e dormir. Quando Cristal não está a dormir, com certeza estará a comer. Quando Cristal não está a comer, com certeza estará a dormir.

Gargalho e caminho para a cozinha sendo seguida pela mulher que dormia no sofá, poucos instantes depois a minha neta junta-se a nós.

- Não se preocupe dona Cristal, eu faço o pequeno-almoço. - Eleonora diz.

- Ah filha, não me trates por dona nem por você. Se quiseres podes tratar-me até por nonna. - Cristal brinca fazendo com que as bochechas da minha neta fiquem vermelhas e a mesma começa a preparar os três pequenos-almoços.

- Vamos para a sala? - incentivo e Eleonora sorri largamente, senta-se no sofá depois de acender a lareira e pega em todos os seus apontamentos.

Cristal observa-nos confusa.

- Estou a escrever um livro sobre a vida da minha avó. - Eleonora explica à minha amiga.

- És escritora minha linda? - Cristal questiona fazendo Eleonora assentir. - E vão em que parte?

- Onde a minha avó é obrigada a casar com Dimitri. - a menina informa.

- Ainda tens muita coisa para descobrir... - a minha amiga diz pensativa.

O Despertar do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora