Capítulo 16

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23 de Dezembro de 2017

Narrado por Clara

Duas semanas se passaram após a revelação da verdadeira paternidade de Eleonora. Os ânimos acalmaram e o Ronny passou a frequentar assiduamente a minha casa para estar e conhecer a filha. A Mila é que não gostou muito de ter o Ronny sempre por perto, mas com o tempo começou a aceitar a ideia.

A minha neta com o facto de conhecer o seu verdadeiro pai esqueceu-se durante umas semanas da continuação do seu livro, o que me preocupou um pouco, pois sinto que estou a piorar gradualmente. Até hoje.

Estou sentada no sofá a aguardar por Eleonora que prepara o seu monte de papeis e liga o computador rapidamente. A Mila e o Ronny também estão presentes, mas claro afastados um do outro. A minha filha está sentada na cadeira de baloiço que pertencera durante muito tempo ao meu falecido Benito e o meu ex genro está sentado numa almofada em frente há lareira que está acesa desde hoje de manhã.

- Então avó, pelo que conta aqui nos meus apontamentos ficamos onde tu e a tua mãe fogem e entram para a tribo. - Eleonora informa.

- Já sei... - digo começando a relembrar-me daqueles tempos.

25 de Fevereiro de 1948                                                                                                 Flashback ONN

A nossa vida não tem sido fácil e ao mesmo tempo não tem sido difícil, digamos que este será o padrão de normalidade perante as situações que atravessámos e estamos a atravessar.

A minha mãe mudou de identidade logo assim que chegamos a Manarola. O seu nome que antigamente era Mirela Conacchini passou a ser Milena Bonatti.

Foram quinze horas dentro do carro que a minha mãe furtou da mansão do Mateo, no total percorremos mil trezentos e vinte e dois quilómetros. O caminho foi calmo, embora tivéssemos com o coração aos saltos, confesso que pensei que alguém da mansão nos interceta-se. Mas não! Também foi uma aventura, porque convenhamos tanto eu como a Mirela/Milena estávamos habituadas a ter motoristas e encontrar-nos com um carro nas mãos sem sabermos que caminho seguir foi de facto uma valente aventura. Porém tudo correu bem, a minha mãe foi a condutora e eu a sua copiloto indicando-lhe ajudada claro por um mapa as estradas que deveria seguir.

Estamos longe de Sicília e das mãos dos poderosos Mateo e Dimitri há dois dias. Parámos para descansar e tentar estabelecer residência em Manarola. Esta pequena aldeia turística conta com trezentos e cinquenta e três habitantes o que impossibilita que o amante da minha mãe descubra o nosso paradeiro pois com a maneira de pensar que o mesmo tem e conhecendo como ele conhece a Mirela, Mateo pensará que nós fugimos para uma cidade com milhares de habitantes e que já tenhamos em nosso poder uma casa luxuosa.

Manarola pertence à famosa Cinque Terre do município de Riomaggiore no norte de Itália. É uma aldeia cheia de beleza, principalmente pelas casas coloridas, pelo castelo e pela arquitetura da Igreja Paroquial de San Lorenzo. Os poucos habitantes são extremamente simpáticos, acolhedores, carinhosos e generosos com quem os visita, características essas de uma aldeia turística que gosta de receber novas pessoas.

Durante estes dois dias tenho passeado ao fim da tarde na praia Spiaggio di Vernazza que fica a três quilómetros de Manarola. Caminhar sob as rochas e depois sentir a areia macia nos meus pés enquanto ouço as ondas do mar embater calmamente nas rochas faz-me pensar que é aqui que eu vou passar os últimos dias da minha vida e imaginar como será esse tempo.

Surpreendi-me com a atitude da minha mãe por me ter ajudado visto que a dona Mirela/Milena nunca me viu como sua filha, - ou não demonstrava - até há dois dias atrás quando enfrentou o seu amante por mim.

O Despertar do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora