A Vós, o meu final aviso

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não deixais a caneta cair
pois ela é vossa amante
das horas mais solitárias e inóspitas
não deixais que apaguem vossa memória
daquilo que um dia fostes
eu, por minha vez, estarei sempre convosco
talvez meu corpo não se faça presente
mas isso é apenas um detalhe

quando não souberdes o que escrever
escrevei vosso silêncio, então
e a poesia fará o trabalho por vós
porém, Ó, distante eu:
deixai-vos sonhar, é o que digo
porque as vossas utopias são a vossa esperança
e - ao contrário do que pensais -
também podem ser a esperança de outro ser

um ser que vos ama
das três às cinco, somente
mas ainda assim são duas horas de amor
e por que não frequentar um oásis
se a melhor das visões é apenas uma miragem?

afinal, desde quando estes vossos cansados olhos
já não contemplam as cores da realidade?
há quantos anos eles vos mostram
os turvos relances do bom e velho
sorriso?

eu sou só mais um
que criastes para choramingar
e para não dizerdes adeus
à respiração
agora, pois, eu vos indago
onde está vossa parte restante?
ouvi-me, Ó, distante eu:

usai este último pedaço de vós
e mostrai à vida o que escreveis
dai-lhe a vossa face
para que ela possa beijá-la
ou espancá-la
ou o que lhe parecer
mais conveniente
mas que faça o que lhe aprouver.

Poesia Diversa 3: memórias de um poeta sem nomeOnde histórias criam vida. Descubra agora