2 de dezembro

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O outono já está a acabar, e já se faz sentir.

Lá fora, as folhas, um dia coloridas, estão agora no chão, murchas, pisadas.

Mas a chuva, a chuva cai ainda a medo. Fininha, invisível, mas não deixa de molhar. Tão silenciosa e bela, frágil e fugaz; une-se com o branco do céu, envolto pela névoa que oculta o sol.

Cada vez mais rápida, cada vez mais forte. Cai, cai, determinada, agora. Cai por cima da relva que a absorve, por cima da pedra que a deixa poças se formarem, e por cima se mim, também; sobre os meus inúmeros fios de cabelo, sobre a pele nua das minhas mãos e tornozelos, sobre meu ser sensível a pequenas gotas de água. Tempos em que era silenciosa já lá vão; agora cai, forte, zangada, enchendo meus ouvidos com tal melodia.

Tudo é calmo para além da chuva. Tudo deixa-a cair na sua pele. Todas as folhas secas e insensíveis ao toque a deixam molhá-las. Todo o meu ser a deixa existir, a deixa apurar meus sentidos. Vejo suas grossas gotas, ouço seus barulhos ao cair no chão, cheiro a terra molhada, deixo e sinto a água a cair sobre mim.

A chuva acalma-se. Agora tudo é calmo, até a chuva. Já não a sinto, já não a cheiro, já não a ouço. Novamente a confundo com o branco do céu. Mas continua a cair,  existir. Simplesmente tão invisível que parece que aqui não está.

A chuva, no inverno, em neve se tornará, e, na primavera , silenciozamente derreter-se-á.

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