Mais um Natal triste e banal, incrível como esta altura tinha perdido tanta cor para James ao longo dos anos.
O Natal no lar de idosos tinha muitas decorações, faziam um jantar todo chique e cantavam músicas de Natal, mas nada se igualava aos velhos tempos com a sua família. Família, sabe Deus onde a sua estava agora.
Muito tinha mudado desde que a sua mulher havia falecido. Custava-lhe ficar sozinho em casa e os seus filhos e netos haviam dito que era muito difícil para eles cuidar dele, encaixá-lo na sua rotina tão atarefada que nem tempo livre deixava para a família.
Então deixaram-no ali, sozinho, aos cuidados de umas quantas pessoas desconhecidas que se encarregavam de mais umas quantas já velhas e desgastadas pelos anos e pela tristeza da solidão. De vez em quando, lá vinha a sua filha ou o seu filho, com sorte com os seus netos, para visitá-lo, para perguntar como estavam as coisas e para ele responder repetidamente que por lá nada mudava.
No Natal traziam-lhe algumas camisolas de malha como prenda, mas não era isso que ele queria. Ele queria o passado de volta, queria o calor da lareira da sua casa, o sorriso da sua mulher, as conversas e risos dos seus filhos, as brincadeiras e jogos dos seus netos. Não queria uma visita rápida em que os seus filhos estavam sempre a falar das suas tarefas e do facto pelo qual não podiam ficar muito mais tempo e os netos hipnotizados pelas tecnologias mais recentes.
Talvez este Natal nem viessem. Entre os risos dos outros idosos na sua Ceia de Natal, James olhava apenas pela janela, fixamente, a contar as estrelas e os segundos. Mal tocara no seu prato. Tocavam agora os sinos da meia noite, trauteava a melodia que estes faziam e contava pelos dedos as badaladas que se seguiam a esta, como fazia já desde criança.
De repente, uma luz forte, ofuscante, uma confusão, não sabia o que se passava. Gritos, chamadas e aflição. Tempo depois já estava deitado numa cama de hospital. Abriu os olhos, com dificuldade, e viu os seus filhos e netos, a chorar.
— Porque estão a chorar? É Natal... Estou tão feliz que tenham vindo, afinal - conseguiu pronunciar.
Pouco depois a luz tornou-se mais intensa, anjos levantavam o seu corpo leve naquela noite de Natal. Mas James não estava triste, estava feliz, afinal, pois a sua família tinha acabado por visitá-lo no dia de Natal.
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Calendário de Natal
Short StoryTão óbvio, tão óbvio. Se não posso ser criativa pelo menos que seja direta. Apenas um calendário de Natal, com contos, textos e frases que serão uma contagem até ao dia maravilhoso de Natal. Capa fantástica feita por: @verde_floresta