13 de dezembro

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Sentava-se ela no canto de fora da igreja, como sempre se sentava. Via as pessoas passar, entravam, outras passavam, algumas olhavam, outras falavam, mas principalmente o seu ser ocultavam. Passavam, algumas paravam e tiravam alguns trocos dos bolsos que despejavam nas mãos sujas da rapariga. Não gostava que lhe dessem esmola. Não gostava que as pessoas soubessem que ela não era como elas. Não gostava de sentir a pena dos outros em cima dela, não gostava de se sentir tão inferiorizada. Mas sorria, agradecia com o coração às raras pessoas que deixavam o egoísmo e a pressa por uns segundos. Afinal, eram os trocos que a mantinham viva. Verdades são para ser ditas, por mais que aquilo lhe custasse. Sonhava, sonhava que um dia não teria de viver à custa das pessoas que passavam na igreja. Ela nunca entrara. Não se sentia digna, não ousava sujar o local sagrado principalmente agora que o Natal se aproximava.

Mas não era apenas o dinheiro que a suportava. Precisava de apoio emocional, nesta vida recheada de tristezas. Era na felicidade dos outros que encontrava a sua. Irritava-se por todo o seu ser ser dependente dos outros, desculpava-se mentalmente por isso, e voltava a procurar a sua felicidade emprestada. Passava uma criança a rir-se, um casal de idosos com as mãos dadas, um grupo de adultos a conversar; tudo a tentava a sorrir. Olhava para os pássaros que voavam pelo céu e sonhava voar, libertar-se daquele chão de pedra fria que era praticamente a sua casa.

Um dia, uma criança pequena dirigiu-se a ela e perguntou-lhe:

— Porque não vens à missa?

— Não... -tentou simplificar a resposta - Não posso.

— Porquê? Não gostas do Natal?

— Gosto, mas...

— Não tens Natal? - a criança exaltou-se com essa possiblidade cruel.

— Suponho que não.

— Nada de prendas, nada de pinheiros, nada de canções?

— Não preciso disso... Fico feliz pelos outros.

— Eu também quero ficar feliz por ti - os olhos da criança ficavam carentes - anda, a missa está a começar.

— Eu não sei se...

— Vem!

Ela não se sentiu mal, antes pelo contrário. Era como se finalmente tivesse sido aceite pelos outros, não se sentiu num nível abaixo mas sim num equivalente, sentiu-se como um humano como qualquer outro.

— Mamã, mamã, aquela menina... - segredou a criança de antes ao ouvido da mãe.

A missa acabou, e à saída a rapariga notou que a mãe da criança se dirigia a ela:

— Olá! - sorriu - ouvi dizer que não tinhas Natal... Não queres passá-lo connosco?

— Não... Não quero incomodar... Eu não...

— Está tudo bem. Afinal o que é o Natal se não aproximar as pessoas? Vem, gostavamos muito de te conhecer. Natal é união. - sorriu novamente.

— Obrigado - as lágrimas começaram a vir-lhe aos olhos - Muito obrigado.




(Nota que apagarei brevemente: isto está casa vez pior, estou casa vez com menos ideias e cada vez com mais probabilidade de falhar algum dia. Desculpem-me)

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