6 de dezembro

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Oliver e Jessica estavam sentados no banco de trás do carro. Os seus pais ocupavam os lugares da frente, e tentavam em vão animar os seus filhos, mas não eram uns joguinhos de palavras ou umas músicas banais da rádio que ião faze-los animarem-se neste Natal.

— Já chegamos? - perguntou Jess pela milésima vez.

Essas palavras não caíram nada bem na mente de Oliver, que acabou por explodir:

— Não, não chegamos, e nem estamos perto de chegar. Vê lá se calas essa boca porque se tenho de ir para o fim do mundo para celebrar a porcaria do Natal não quero estar a ouvir a tua vozinha irritante.

— Oliver! Vê lá, não quero que fales assim para a tua irmã mais nova! - exaltou-se a sua mãe - Pede desculpa.

— Desculpa - revirou os olhos.

Olhava pela janela do carro e tudo o que via era neve e mais neve, por cima dos montes, por cima de todo o lado. Não tinha visto mais nada em toda a viagem sobre quatro rodas até à aldeia dos avós onde ia passar o Natal. Estava extremamente irritado com o mundo pois teve de abdicar de planos com os amigos, agora que finalmente estava de férias da cansativa escola, para ir para casa dos seus avós passar uma semana até ao Natal. Ali, no meio do nada, longe da cidade, com pouca rede e sem wi-fi. Era um daqueles sítios onde todos se conheciam e todas as mulheres cochichavam sobre a filha da prima da irmã do Senhor Joaquim, o genro da cabeleireira. Se é que aquele sítio tinha cabeleireiro.

Mas se havia coisa que ele gostava era neve. Não costumava nevar muito na sua cidade, e rever a neve em tamanha quantidade depois de tanto tempo era um alívio para a fúria do seu coração. Aquilo de qualquer forma relaxou-o, e por alguma razão na qual ele não acreditaria se lhe contassem, adormeceu, ali, em plena viagem desconfortável de carro.

Passaram alguns minutos, talvez uma hora, até, e acordou, quer dizer, a Jessica acordou-o abanando-o freneticamente aos gritinhos.

— Oliver! Oliver! Chegamos! Está a nevar!!

— Sim, Jess.

Oliver saiu do carro, e do nada já não tinha razão de estar zangado ou enfurecido, nem o seu orgulho o permitia tal coisa. Quando viu a neve cair no chão completamente branquinho, enquanto via os sorrisos enormes dos seus avós que viam nele e na sua irmã uma luz forte de esperança, todos os insultos que ele fizera àquele local voltavam para dentro da sua boca para nunca mais saírem.

Estava feliz, afinal. Não o tinha valorizado, mas agora ele sabia que tinha encontrado a alegria do Natal.

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