3 de dezembro

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— Quando vamos construir a árvore de Natal?

— Quando quiseres.

— Agora.

Sasha tinha há pouco tempo completado 13 anos, parecia que era considerada adolescente, agora. Mas o Natal continuava a ser a sua altura favorita do ano, o dia que mais esperava, mais até do que o seu próprio aniversário.

Cumprira os rituais de sempre, as tradições que seguia desde criança. Tinha escrito a carta ao Pai Natal, tinha começado a fazer postais à mão, tinha construído o Presépio, tinha comprado o Calendário do Advento, tinha feito biscoitos de Natal e chocolate quente, tinha decorado a casa inteira, tinha começado a comprar e a embrulhar prendas , tudo a abarrotar de felicidade. Para ela não era cedo para começar a festejar. Só faltava agora a árvore de Natal, o símbolo mais conhecido no mundo para representar esta época de paz. Era obrigatório construí-la com os seus pais, todos juntos, e com o seu gato, Minty, a descansar tranquilamente no sofá.

A sua mãe foi buscar à garagem o pinheiro artificial que utilizavam todos os anos, e Sasha foi chamar o seu pai e procurar a caixa das decorações.

Estavam todos agora reunidos na sala de estar, e enquanto os seus pais montavam o pinheiro, Sasha abriu a caixa. Não conseguiu conter um sorriso ao ver fitas tão brilhantes, bolas coloridas de todos os tamanhos e feitios e, entre umas quantas decorações em cartolina que ela fizera na primária, majestosa e divina, a estrela que pertence ao topo da árvore.

Juntou-se, feliz, ao pai e à mãe na construção do pinheiro, mas por mais que tentasse parecer alegre existia uma tensão no ar, um silêncio que a inquietava, uma falta de risos que não se lembrava dos anos anteriores. Ultimamente os pais tinham discutido muito mais, raramente falavam um com o outro, e Sasha tinha noção de que a única razão pela qual ainda estavam juntos era ela. Sasha tivera esperança que o Natal aqueceria de novo os seus corações, que os juntasse, que os transformasse na família feliz que outrora foram, mas a chama dessa esperança apagou-se com este leve sopro.

A árvore de Natal estava a ser mais uma obrigação do que algo divertido de se fazer, e assim que terminaram de colocar as luzes e os piscas nos ramos falsos da árvore, o pai abandonou a sala para ir ver as notícias na televisão da cozinha. Sasha duvidava que ele voltasse, e a mãe pouco se importou com a sua ausência.

Continuaram as duas a decorar o pinheiro, mas nem o Minty conseguia descansar em paz ao calor da lareira. O pinheiro estava sem dúvida a começar a parecer outro, mas não passavam de enfeites falsos, de máscaras que escondiam a frieza de quem os tinha ali colocado.

— Tenho de ir trabalhar - disse a mãe quebrando o silêncio - Acaba-o sozinha.

Sasha tinha um desejo enorme de a impedir, mas deixou-a partir e fechar-se no meio dos papéis do seu escritório, assim como deixara o pai desistir da construção em família do pinheiro.

Agora só restava ela e o Minty, o gato já velhinho, que estava com ela desde os seus 3 anos e que vira o seu coração perdendo-se aos poucos. Tristemente, Sasha colocou as últimas decorações que sobravam.

Ficou, por fim, a olhar para a caixa vazia, cuja única presença era a da estrela, que já não parecia divina nem majestosa. Minty roçou nas suas pernas a reconfortá-la, e ela sorriu tristemente.

Já não era uma criança pequenina, já não precisava das cavalitas do pai e do sorriso da mãe para colocar a estrela no topo, agora chegava lá bem se se esticasse um pouco. Mesmo assim, preferiu não a colocar.

Naquele ano o pinheiro não teve estrela, assim como o Natal não teve união.

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