15 de dezembro

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Courtney estava sentada no sofá, com o portátil ao colo, clicando descoordenadamente nas teclas, enquanto o seu filho estava de joelhos apoiado na pequena mesa, a escrever a carta ao Pai Natal.

— Terminei! - anuncia a criança, pousando o lápis vermelho gasto com que tinha colorido as roupas do Pai Natal desajeitado que acabara de desenhar.

— Muito bem! Posso ler? - pergunta Courtney

— Sim... - o pequeno Zach parece meio hesitante e envergonhado, entrega a carta à mãe num gesto rápido e ágil e corre até ao seu quarto.

Courtney passa os olhos pela carta. Reconhece a letra desajeitada mas redondinha do filho que forma a frase inicial e obrigatória:

"Querido Pai Natal..."

O que seria que o Zach queria para este Natal? Na carta não estavam recortes um tanto mal feitos colados, tirados de catálogos de Natal, como nos anos anteriores.

"...este ano não queria prendas, podes dar as minhas aos outros meninos"

Estranho. Por mais inocente e bondosa que uma criança fosse, qual delas abdicaria dos seus presentes assim?

"É que este Natal estou grande e a mamã contou-me que o papá tornou-se numa estrela e vive bem lá no alto, ao pé dos anjos e das nuvens, onde é Natal para sempre"

A carta estava a tomar um rumo que quebrava o coração de Courtney. Entristeceu-se mas continuou a ler, mesmo sendo muito previsível o que viria a seguir.

"Mas eu às vezes tenho saudades, quero o papá de volta, mesmo que a mamã diga que ele está feliz, mas eu também quero estar feliz com ele"

Os olhos esverdeados de Courtney começavam agora a ficar molhados, e com um pestanejar uma lágrima soltou-se e escorregou pelas sardas das suas bochechas até ao fundo da sua face, e terminou a sua viagem ao cair no chão.

"Então, Pai Natal, este Natal só quero o papá de volta. Quero que ele venha ter connosco, nos ame outra vez e nos leve connosco para as estrelas para vivermos o Natal para sempre"

A primeira lágrima solitária multiplicava-se agora a um ritmo louco, chorava fortemente mas silenciosamente também. Ela queria com todo o seu ser o melhor para o seu filho, ela queria trazer de volta o seu marido, ela queria mas não podia, era indefesa contra as garras sombrias da morte.

Enxugou as lágrimas com um lenço, mas era impossível esconder os olhos avermelhados e molhados. Caminhou até ao quarto do filho para conversar com ele.

— Mamã, estás a chorar?

— Não, não te preocupes. Sabes... Eu também gosto muito do papá, e ele nunca nos deixou de amar.

— Eu sei. - concordou Zach.

— Mas ele partiu para muito longe, para onde nem o Pai Natal é capaz de chegar, percebes?

Zach parecia triste e olhava agora fixamente para o chão, mas ele sabia disto.

— Um dia iremos ter com ele e viver o Natal para sempre. - continuou Courtney.

— Prometes?

— Prometo.

— E o que vamos fazer?

— Com o quê?

— Com a carta. O Pai Natal não pode fazer nada...

— Pode, talvez possa. E que tal se a pusessemos dentro de uma garrafa e a deitássemos ao mar, como os piratas fazem aos mapas do tesouro? - Courtney esforçava-se para animar o filho.

— Sim!

Embora já estivesse de noite e as temperaturas fossem negativas lá fora, Courtney colocou o papel dentro de uma garrafa de vidro e foi com Zach até à praia, a pouco tempo dali. Segurando firmemente a garrafa ao mesmo tempo, contaram até três e deixaram-na ser envolvida pelas ondas que faziam com que ela se afastasse. Quando a perderam de vista ficaram ainda alguns segundos a admirar o céu estrelado, com certeza de que a estrela mais brilhante era o pai de Zach a desejar-lhes um bom Natal.

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