Calendário de Natal

8 de dezembro

O livro de contos de Natal estava na prateleira, como sempre estava. Já se tinham passado algumas décadas desde que alguém o tinha aberto e sentado à lareira a ler as suas histórias, todas sobre a alegria do Natal. Não se sabia se eram as pessoas que tinham ficado sem vontade de ler, se era o seu amor pela época natalícia que havia desaparecido ou se simplesmente andavam muito aterefados para pensar nessas coisas agora ditas superficiais mas que um dia uniram famílias à volta do fogo quente dentro da lareira.

O livro tinha visto pessoas unidas a afastarem-se, não pessoas afastadas a unirem-se como as histórias dentro de si.

Um dia entristeceu-se ao ver que o Natal se aproximava mas que cada um estava no canto da sala, cada um ocupado na sua própria vida. O avô a ver as notícias, a mãe a fazer o jantar, o pai a escrever numas folhas e a pequena Susan a pintar um desenho do Pai Natal. Podia parecer um ambiente natural, mas o livro já se havia fartado daquele silêncio pesado e da falta de sorrisos e carinho.

Então, como por magia, caiu da prateleira que já era até considerada o seu túmulo. Susan sobressaltou-se e foi espreitar o que era. Encontrou o livro no chão, com a lombada já desgastada, com folhas amareladas e um véu de pó a cobri-lo inteiramente. Limpou com os seus dedos delicados e pequeninos o pó que ocultava as palavras do título, e leu, ainda com dificuldade:

– Co... Con-tos de Na.. Natal!

— Já sabes ler algumas coisas! - o avô desviou os olhos da televisão.

— O que é isso? - perguntou a mãe.

— Um livro... - respondeu Susan

— Ah, isso é um livro que me deram num Natal quando eu era criança - lembrou-se o pai.

— Podemos ler? - suplica Susan.

— Não me parece má ideia- concorda a mãe.

— Tens razão, as crianças de hoje precisam de ler - concorda o avô.

E então, como pura magia de Natal, numa roda à volta da lareira, aconchegaram-se a ler contos de Natal, que afinal continuam a unir pessoas atualmente. E o livro, de novo e de repente, ganhou a sua cor.