— Estás pronta?
— Não tenho certeza disto...
— Hannah, são os teus pais.
— Mas... O que vão eles achar? Eles odeiam-me.
— Hannah... De certeza que não. É Natal. É uma das poucas alturas em que te podes encontrar com a família.
— Eu sei, mas eu já não os vejo há quase 2 anos...
— Está tudo bem.
— Eu fugi de casa, Simon.
— Tecnicamente não, já eras maior de idade o que quer dizer que...
— Eu desiludi-os.
— Não, não desiludiste. Fizeste o que achaste certo. Seguiste o caminho que tinha o que sempre quiseste, escolheste a oportunidade perfeita de trabalho e a mim... Arrependes-te?
— Não. Mas fui estúpida. Poderia ter conversado mais com eles.
— Não podes mudar o passado. Tinhas razões, eles não te apoiaram na altura. Mas agora tens a oportunidade de remediar os erros do passado. Não achas que eles deviam saber que são avós?
Hannah olhou para a bebé com quase um ano, que dormia calmamente no seu berço.
— Tens razão. Agora não vou voltar atrás. Vamos.
Agasalhou cuidadosamente o bebé e colocou-o na cadeirinha de grande porte e prendeu-a ao banco de trás do carro. Sentou-se ao seu lado e, com Simon a conduzir, iniciaram a viagem que duraria ainda algumas horas.
No caminho Rose, a bebé, continuou sempre a dormir, por incrível que fosse, calma e alheia às confusões que ocorriam no mundo exterior. Hannah olhava sem olhar para nada pela janela, e um pequeno pedaço de arrependimento ia crescendo no seu coração. Talvez não fosse boa ideia voltar depois de todo este tempo. Simon reparou em como ela se encontrava tensa e disse-lhe docemente:
— Vai correr tudo bem.
Chegaram a uma velha casa, já ao anoitecer da véspera de Natal, amarela clarinha, com um pequeno jardim onde se via um pequeno pinheiro com algumas luzes envoltas.
Saíram ambos do carro, mas deixando Rose lá dentro para que não apanhasse frio desnecessariamente.
Pararam à frente do portão, e Hannah mantinha os olhos fixos na campainha.— Quando quiseres - acalmou-a Simon.
Hannah respirou fundo e carregou no pequeno botão dourado. Pequenos flocos de neve começavam a cair por cima do seu cabelo. Pouco tempo depois uma mulher baixinha apareceu à porta. Ficou momentos a olhar Hannah de cima a baixo, depois na sua cara viu-se um misto de surpresa, saudade e felicidade. Como se uma nova emoção se tivesse criado de propósito para aquele momento.
— Ha- Hannah... És... Hannah!!! - guinchou a mulherzinha à medida que as lágrimas lhe vinham aos olhos.
Abriu o portão num ápice e envolveu a filha num abraço caloroso e duradouro.
— Pensei que nunca mais te fosse voltar a ver... Desculpa, desculpa por tudo. Desculpa-me...
— Está tudo bem, mãe - Hannah também já estava a chorar - Desculpa-me a mim. Desculpa, eu...
— Está tudo bem, querida.- virou-se para a porta e gritou- Adam, anda! É um milagre de Natal! É a Hannah!
Poucos segundos já estava um homem à porta de casa, e apanhado pela surpresa nem conseguiu falar. Abraçou a filha com felicidade.
— Vamos para dentro, lá falamos tudo como deve ser. Está a começar a nevar...
— Pai, mãe, temos algo para vos mostrar...- olhou para Simon.
Deslocaram-se até ao carro e abriram a porta lentamente. A mãe de Hannah começara agora a chorar de emoção num desespero total:
— Somos avós, Adam, somos...
Adam estava simplesmente petrificado com tantos sentimentos de uma vez, mas principalmente feliz.
Entraram em casa e tudo estava como Hannah se lembrara. Tinham preparado a ceia como se soubessem que ela vinha.
— Na verdade... Também fizemos isto no ano passado, com esperança que viesses- esclareceu a mãe.
— Mas não vieste. Mas hoje estás mesmo aqui e... cresceste tanto... - completa o pai.
— Desculpem-me, por favor...
— Oh querida, não há que pedir desculpa. - disse a mãe.
Olhou para o bebé na cadeirinha e disse
— Bem-vinda à família, Rose.— Tu também, Simon - sorriu o pai para a cara-metade da filha.
Afinal, o Natal é família, união. A família estará sempre lá quando caírmos, e não importa quanto tempo demoremos a voltar a levantar-nos, ela estará sempre à nossa espera com a caída da neve de Natal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Calendário de Natal
Short StoryTão óbvio, tão óbvio. Se não posso ser criativa pelo menos que seja direta. Apenas um calendário de Natal, com contos, textos e frases que serão uma contagem até ao dia maravilhoso de Natal. Capa fantástica feita por: @verde_floresta