QUERO UM TEMPO

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O mês se passou rapidamente e cada vez mais Johnatan ficava mais frio comigo.

Até que um dia saio da escola e percebo que Johnatan não estava me esperando, então resolvi ir andando.

-Cadê o seu namorado? -Diz Vitor me seguindo com o carro.

-Não sei, acho que ele larga mais tarde hoje.

-Está certo, quer uma carona para casa?

-Não precisa, obrigado, você sabe que moro dois quarteirões a frente.

-Eu sei, mas não quero que você canse essas suas lindas pernas. -Diz ele com um sorriso malicioso.

Fico sem graça com aquele comentário, mas resolvo aceitar a sua carona, pois a bolsa estava super pesada. -Tá bom, eu aceito.

Ele para o carro e quando eu ia entrando, ele pede para eu esperar.

-O que foi? -Digo fazendo cara de desentendido.

Ele desce do carro, dar a volta e abri a porta para mim.

-Tenho que abrir a porta para a princesa!

Sorrio com aquilo e entro no carro, mas depois me bate uma tristeza em pensar que Johnatan era assim, do mesmo jeito, mas hoje em dia quase não olha na minha cara.

Me perco em meus pensamentos e quando percebo, já estou na frente de casa.

-Não vai descer, dama?

-Vou, sim! Obrigado pela carona.

-Nada! Se pudesse te traria todos os dias.

Dou um sorriso meio sem graça e me despeço.

Chegando em casa ponho minha bolsa no sofá e vou direto para a suíte.

Quando chego lá, dou de cara com Johnatan sentado sobre a cama.

-Oi, amor, por que não foi me buscar? -Tento dar um selinho nele, mas ele desvia.

-Precisamos conversar. -Diz ele num tom ríspido.

-O que aconteceu?

-Faz anos que estamos juntos, exatamente 408 anos, não aguento mais ficar sempre com a mesma pessoa. Eu não estou dizendo que não te amo mais, tanto é que a marca ainda se encontra em nossos pulsos, só estou dizendo que quero conhecer pessoas novas. Enfim, não quero ficar enrolando mais, eu quero um tempo.

-Você está me dizendo que está enjoado de mim? Como você pode ser tão babaca? Não acredito que você tem coragem de me falar isso depois de todos esses anos!

-Desculpa, Esdras, mas estou gostando de outra pessoa na delegacia.

-Como você é idiota! -Falo isso e lágrimas começam a escorrer dos meus olhos, não queria demonstrar fraqueza para ele, mas naquele momento era inevitável segurar as lágrimas.

-Saia da minha casa. Agora! -Grito.

Ele me olha espantado.

-Para onde vou?

-Não sei, se vira, só sai da minha frente, AGORA!

Nesse momento, sinto uma raiva imensa, uma raiva que eu nunca havia sentido na vida, sinto minhas veias em volta dos meus olhos ficarem a mostra, sinto meus dentes ficarem mais afiados, minhas unhas começam a crescer.

Olha para Johnatan e ele está com uma cara de assustado.

-Sai daqui! Agora! -Grito novamente.

Ele pega uma mala rapidamente, entra no closet e começa a jogar as roupas dele dentro da mala.

-Eu vou sair, mas quando eu voltar não quero nem sentir o seu cheiro aqui, quero você bem longe.

Falo isso e vou para fora de casa, precisava me acalmar, não sei porque fiquei daquele jeito. Olho para as minhas mãos e vejo como as minhas unhas estavam enormes, passo a mão sobre os dentes e vejo o quão afiados eles estavam.

Precisava me acalmar. Saio correndo sem destino. Quando vejo ao longe um penhasco, olho para baixo e vejo o mar, não penso duas vezes. Tiro toda a minha roupa e pulo.

Não me importei com a altura, aquele vento batendo contra o meu rosto me acalmou, quando sinto o meu impacto ao cair na água, aquilo foi como se um elefante tivesse saído das minhas costas, sinto uma leveza imensa.

Percebo que tinha voltado ao normal, meus dentes já não eram afiados, minhas unhas já tinham voltado ao normal, e as veias não ficavam mais a amostra em volta dos meus olhos.

Fico por horas nadando, a água estava numa temperatura ótima.
Nado tanto que nem percebo a hora passar.

Quando volta a submergir, percebo que já está de noite, o céu estava lindo, cheio de estrelas.

Faço um redemoinho, é o mesmo leva-me até encima do penhasco, olho em volta e percebo que a minha roupa não estava lá aonde eu havia deixado.

Espero um tempo para poder me secar, mas percebo um barulho vindo de trás dos arbustos.

-Quem está aí?

Quando vejo uma silhueta sair de trás do arbusto, tento pular de volta no mar, mas não consigo, sinto uma mão me segurar.

Olha para trás e percebo que é Vitor.

-Você é uma sereia? -Fala ele arregalando os olhos.

-Por favor, não fala para ninguém, eu posso te explicar.

-Pode começar a partir de agora, sou todo ouvidos.

Nesse momento, o último pingo de água vai no chão e minha calda some, dando lugar as minhas pernas.

Fico pelado, com uma enorme vergonha.

-Antes de conversarmos, você pode me emprestar o seu casaco? Para eu colocar na minha cintura.

Ele vai atrás dos arbustos e pega as minhas roupas.

-Foi eu que peguei, não queria que você saísse correndo daqui.

Levanto-me e fico de costas para ele, percebo o seu olhar sobre mim e ponho a minha roupa o mais rápido possível.

-Para começo de conversa, como você me achou aqui?

-Você passou na frente da minha casa correndo, e parecia aflito, então eu segui você. Te chamei várias vezes, mas você não me escutou. Vi você na beira do penhasco e pensei que iria se matar. Quando você se jogou, senti o desespero tomar conta de mim.
Corri atrás de você, mas você pulou, quando olhei para baixo, vi a sua calda, e fiquei sem saber o que fazer com aquela cena e resolvi te esperar aqui.

-Não era para você ter me visto, você tem que me prometer que não vai contar para ninguém!

-Está bem, eu prometo, agora me explica a sua vida.

-Está bom. Vamos sair daqui, estou morrendo de frio.

-Onde vamos?

-Vamos para a minha casa, estou sozinho, tive uma briga com Johnatan e o expulsei de casa.

-Porque você o expulsou?

-Lá em casa eu te explico, vou acabar congelando aqui.

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