Alemão Narrando:
Tudo o que sei é que ela está bem, e o bebê também. Não quero saber mais; não quero filho nenhum. A Sofia já me chega. Ela não é do meu sangue e, por isso, sei que não vai ter os mesmos pensamentos obscuros que eu. Essa menina, eu aceito. Mas um filho meu? Não consigo suportar a ideia. O JP já conversou sobre a possibilidade, mas só consigo pensar em não, não posso e não quero. E se for, desejo que ele não nasça.
Não quero dar continuidade a uma linhagem como a minha, uma linhagem fodida.
Agora estou aqui na salinha da boca, a mente perdida. Foda-se, estou farto destes zé-ruelas. Só me apetece pegar na minha Glock e rodar nas cabeças deles. Ela me tirou o foco total, levou tudo... a calma, o controle, a razão. A minha cabeça está uma confusão. Quero arrastar ela, nem que seja pelo cabelo ou ao soco, mas, ao mesmo tempo, sinto medo. Nunca senti nada assim, nunca pensei sequer assim. Se eu soubesse que uma puta qualquer estava grávida e achasse que o filho era meu, já tinha rolado a cabeça dela como fiz com aquela outra. Mais uma na minha vida de merda.
Na semana passada, a Sofia fez 2 anos. Ela mandou um vídeo para eu ver. Eu a vi apagar as velas e, ao mesmo tempo, vi aquela barriga... a barriga que poderia ser do meu filho. Penso também nela, mas, foda-se, não quero um filho de sangue meu. Não quero.
E cá estou eu, no dia 25 de dezembro, olhando para a minha Glock e os tracinhos brancos que estão em cima da mesinha. O primeiro Natal da minha princesa e eu aqui numa favela, pensando em merda. O JP já está a comandar a Rocinha, e o CH pegou a Clara e as crianças e foi ter com a Makaila.
Penso nos Natais que passei. Nenhum sem alguma puta no colo, com uns riscos branquíssimos ou uns beck, e agora estou aqui sozinho porque não suporto nem as putas do morro perto de mim.
De repente, começo a ouvir tiros, mais tiros. Salto da cadeira e abro a porta. Um grupo do BOPE está mesmo à minha frente, com as armas apontadas para mim. Sinto um impacto na cabeça e tudo se apaga.
As imagens da Sofia e da Esmii misturam-se na minha mente, mas logo são substituídas pela escuridão. Naquele momento, tudo que posso fazer é esperar, sem saber se acordarei ou se esta será a última vez que penso nelas.
A 7.759 mil k de distancia
Makaila Narrando:
Hoje é dia de Natal e a minha barriga está gigante desde a última consulta. Ele não para de crescer, e a cada dia que passa sinto uma mistura de alegria e ansiedade. Hoje, o Hunter trouxe o pai para passar a ceia connosco. Não sei nada sobre o Brian e não quero que ele saiba que o filho que carrego é dele. O peso dessa revelação é demais para mim. O que ele poderia fazer ao saber? O que ele poderia fazer a mim? Tenho medo.
Estava a colocar a comida no forno enquanto o Damien brincava com a Sofia na sala, junto à árvore de Natal que fizemos. A minha princesa e o meu irmãozinho tão contentes por termos uma árvore pela primeira vez. O meu pai chega daqui a duas horas, e espero que tudo corra bem.
Ouço a porta abrir e vejo o Hunter com um homem mais velho, que tem semelhanças com alguém que conheço, mas não me lembro de onde.
— Makaila! — diz ele, vindo ter comigo, enquanto o homem mais velho se aproxima também. — Este é o meu pai, Renato Silva.
O homem aproxima-se de mim e dá-me um abraço. O cheiro dele é familiar, talvez por causa do perfume ou do tipo de roupa que usa.
— Prazer em conhecer-te, Makaila. O meu filho fala muito de ti e dos pequenos — diz ele. Aquele rosto não me é estranho, e aquelas expressões, mesmo o cabelo, trazem-me lembranças.
![](https://img.wattpad.com/cover/119246353-288-k722174.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
De dois Mundos (antigo No morro sendo reescrito )
RandomA vida dela nunca foi fácil, e ele está longe de torná-la mais simples. Dois mundos completamente diferentes colidem, e ambos terão que descobrir o que realmente significa amar. Ela, uma estudante comum. Ele, um mafioso perigoso. Prepare-se para uma...