Cap 21

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Alemão Narrando:

Uma semana e meia se passou desde que cometi aquele erro imperdoável. Desde aquela noite, o peso da culpa tem sido um fardo que não consigo carregar. Cada dia que passa, cada pensamento que me atormenta, é como um lembrete constante do que fiz. A lembrança do corpo da Makaila ainda queima na minha mente, como uma marca indelével que não posso apagar. Eu não fui apenas um amante; fui um monstro. A cada instante que me lembro dela, sinto uma mistura de desejo e arrependimento que me consome.

Evitei ver minha filha, porque cada vez que a olho, vejo a inocência que destrui. Ela é apenas uma criança, e eu a feri de uma maneira que não consigo compreender. Às vezes, sinto que ela é uma extensão de mim, e o que eu fiz com a mãe dela me destrói por dentro. Mas no fundo, sei que não posso me arrepender do que fiz — não posso. Ela sempre provocou algo em mim, sempre me fez sentir que tinha o direito de agir daquela forma. E agora, estou pagando o preço.

O CH não me dirige a palavra desde então. Ele deve me odiar, e não posso culpá-lo. Fui um monstro. Mesmo assim, preciso do apoio do JP e do CH, preciso da minha família. Sem eles, estou perdido, e a ideia de perder o JP também me angustia.

Depois de um desentendimento com o JP que quase resultou em uma briga de verdade, finalmente ele começou a falar comigo novamente, mas a amizade que tínhamos parece frágil, como cristal prestes a se quebrar. Naquela tarde, estava na boca, fumando um baseado para tentar aliviar a tensão que se acumulava em meu peito. Assim que o JP entrou na sala, seu sorriso irritou.

 — Por que você está tão animadinho?

— O que você tem a ver com isso? — Ele respondeu, com um olhar desafiador, como se estivesse pronto para um combate verbal.

 — Fale comigo com respeito! Já pedi desculpa para você e para o seu pai. Não vou me aproximar mais dela. — Soltei a fumaça, esperando que ele relaxasse.

— Vai se foder. — Ele se sentou, acendendo um baseado também, como se estivesse tentando provar um ponto.

 — Ela não vai sair daqui, você sabe disso. Ela só sairia em um saco preto. — A irritação estava crescendo, e eu já não conseguia me controlar.

 — Você sabe que ela vai sair, e levar a Sofia com ela. — O desdém na voz dele me irritou ainda mais.

— Acabou a conversa. Temos coisas mais importantes para discutir. — Tentei mudar de assunto, focando no plano do assalto ao banco central. A urgência do plano me distraiu momentaneamente.

— Tá, vou buscar os planos. Você chama o Luan. — Assenti, pegando meu rádio para convocar o Luan.

(...)

Minutos depois, o Luan entrou na sala, e começamos a discutir os detalhes da operação. O plano era simples: duas vans com nossos homens e equipamentos, enquanto eu e o JP usaríamos nossos carros blindados para garantir uma rota de fuga, caso a missão desse errado.

 — Escutem, a entrada será pela conduta de ar no lado esquerdo do edifício. Uma vez dentro, vamos perfurar a parede até chegar ao painel de controle. O JP vai hackear o sistema e abrir o cofre.

O banco central era um dos mais modernos do Rio, com tecnologia de ponta, facilitando nosso trabalho, já que o JP não é só um matador; ele é inteligente e sabe tudo sobre segurança.

— E quanto à segurança? Sabemos que eles têm um sistema de alarme fortíssimo. Não podemos dar bobeira.

 — Confia em mim. Fiz meu dever de casa. — O tom de voz dele era firme, demonstrando a confiança que precisava.

Assim que finalizamos os planos, decidimos que era hora de descansar e nos preparar para o baile. O assalto estava agendado para às 4 da manhã. Ao chegar em casa, fui direto para o banheiro, conferindo o relógio que marcava 20h. O nervosismo era palpável.

(...)

Eram 3:40 da manhã. O tempo parecia passar lentamente, e minha mente estava cheia de memórias da Makaila, da noite que a feri. Tentei distrair-me com algumas aventuras, mas a sensação de vazio permaneceu. Saímos da quadra em direção à boca, onde tudo estava preparado. Entreguei uma folha a cada equipe e seguimos para o banco.

Dentro do banco, a adrenalina corria solta. Assim que começamos a encher as mochilas com dinheiro, uma luz apareceu na nossa direção. O coração disparou.

— Rápido! — gritei, enquanto apanhávamos tudo que podíamos. O tempo parecia escorregar entre os dedos.

— Temos que sair agora! — Ele estava claramente agitado, e isso só aumentava minha ansiedade.

 — Foca, cara! Apenas faça o que você sabe fazer. — O nervosismo misturado com a pressão do momento era palpável.

Vendo que eram 6h da manhã, começamos a sair pela conduta, mas ao colocar o pé para fora, um policial de farda preta surgiu na minha frente.

Por um instante, pensei que fosse um membro do BOPE, mas o distintivo no peito me fez hesitar. Ele parecia ter uns 30 anos, a determinação estampada em seu rosto.

Comecei a correr, despistando-o para que os outros conseguissem escapar. Minha mente corria a mil. Eles conseguiram. Entrei no carro e dei partida. A máscara cobrindo meu rosto me deu uma sensação de alívio; ele não saberia quem eu era.

E assim, mais uma missão foi concluída com sucesso, conseguimos levar mais de 800 mil reais.

— Hoje vai ter festa na minha casa, e parabéns a todos pelo trabalho bem feito! — A euforia me invadiu, mas no fundo, eu sabia que havia um preço a pagar. Enquanto dirigia rápido até o morro, uma parte de mim se perguntava se tudo isso valia a pena.

Ao chegar em casa, a música pulsava e as luzes piscavam. Os manos estavam se divertindo, mas mesmo em meio à festa, não consegui me livrar da sombra do meu ato. A Makaila estava longe, e a imagem dela assombrava cada canto da minha mente.

 — Ei, Alemão! Você está bem? — Disse o JP que me observava, preocupado.

 — Estou, só pensando... — O peso das palavras não saía da minha boca. Como poderia compartilhar o que realmente sentia?

 — Não se preocupe, cara. Você sabe que estamos juntos nessa. — Ele bateu no meu ombro, e por um momento, isso me confortou.

 — Eu sei, mas... — A voz dele era firme, mas a incerteza ainda pairava entre nós. O que eu fiz não era algo que podia ser apagado.

No fundo, eu sabia que, mesmo após o sucesso, eu carregava a marca de uma escolha que me separou do que realmente importava: minha família. A dor e o desejo ainda eram reais, mas agora havia algo mais — um vazio que parecia intransponível. A festa continuava, mas eu estava preso em meus próprios pensamentos, lutando contra os demônios que criei.

De dois Mundos (antigo No morro sendo reescrito )Onde histórias criam vida. Descubra agora