Capítulo 01 | "Taylor"

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Me levanto incontáveis vezes daquela desconfortável cadeira, tentando manter meus dentes afiados longe de minhas unhas. Calma era o que eu mais ouvia estando aqui dentro, mas o ato era desprezado por todos.

Não tinha como ter calma. Sobretudo depois de saber que a minha melhor amiga e seu então namorado sofreram um acidente de carro, quando eles saíram do buffet naquela noite de temporal.

Eu também estava prestes a ir embora, quando Alice e Shawn anunciaram a sua ida. Bem que eles queriam me dar uma carona, mas neguei sabendo que meu pai passaria para me buscar. E ele foi.

Mas ao invés de passar pela principal, resolvemos de que passar por um atalho seria mais proveitoso. Ele manteve a velocidade para evitar qualquer tipo de derrapagem na pista e então vimos. O carro onde Shawn e Alice estavam, chocado contra o tronco de uma árvore e a frente parcialmente destruída.

Eu: Para o carro pai! - grito quando o mesmo começa a frear. - Liga pra uma ambulância, pelo amor de Deus.

Pulo do carro e sou tomada pela rajada de água sobre mim. Não me importo para o quão fria e intensa estava aquela chuva, porquê a vida de três pessoas que eu amo estavam em risco.

Me aproximo do carro na parte lateral do motorista e vejo muito sangue na lateral da cabeça de Shawn. Levo a mão a boca suprindo um grito e observo o seu rosto apoiado sobre o volante, de uma maneira atordoante.

Estico as costas da minha mão e aproximo de seu nariz, sinto sua respiração lenta, mas mesmo assim a sinto. Quando olho para o seu lado, não vejo Alice.

Eu: Cadê a Alice? - começo a entrar em total pânico. A situação já era por si o pânico completo e meus pés correm para a porta do carona.

Então vejo o grande buraco no vidro dianteiro e logo em frente o corpo dela estirado no chão, por cima da barriga.

Eu: NÃO! - grito com todas as forças e choro enquanto a chuva lambuzava meu rosto junto com minhas lágrimas.

Corro até a minha amiga, com as mãos levantando aquele maldito vestido de festa e me ajoelho ao seu lado. Pego seu pulso automaticamente e tento sentir sua pulsação, que até então estava ali. Só que eu não poderia saber por quanto tempo.

Ela estava toda machucada e a chuva a cobria completamente, fazendo uma poça rala de sangue se formar entorno de sua cabeça. Procuro pelo meu pai no carro e temo toda aquela demora para a ambulância chegar. Alice poderia morrer. O bebê poderia morrer.

Então os braços do meu pai me tomam para longe, enquanto o barulho incessante da sirene se aproxima sem total despeito. Eu grito o que posso e abraço o meu pai para não ter que ver o momento em que a minha melhor amiga era colocada em uma maca as pressas e levada para dentro da ambulância. Shawn é colocado em seguida, ao lado dela e levados para longe de nós.

Eu: Vamos para o hospital agora! - digo para o meu pai, correndo e entrando no carro.

Sem pestanejar ele o faz.

Fecho meus olhos com força tentando espantar o flashback daquela noite e afastando as lágrimas teimosas que apenas queriam sua liberdade pela minha face.

Encaro meu vestido amassado, molhado e sujo pela lama do local onde aconteceu o acidente e tenho pena do estado em que estou. Eu certamente estava acabada após ficar tanto tempo aqui, em busca de notícias. Assim como os pais de Alice, Anna e Carlos e a mãe de Shawn, Karen, que também estavam lá na mesma aflição que a minha.

Eu tive que ligar para eles e não foi nada fácil ter que ouvir os soluços pelo telefone. Pressiono meus olhos com as mãos e suspiro.

Pai: Aqui filha. - ele me tira de meus rápidos devaneios. Estendia um copo descartável com algo dentro. - Bebe. Vai te fazer bem.

Eu: O-o que é isso? - pergunto desconfiada. Não queria ser sedada e arrastada dali sem antes saber algo sobre o estado dos três.

Pai: Apenas chá. - responde. - Não se preocupe. - passa a mão em meus cabelos molhados e desajeitados, sorrindo amistosamente.

Aceito o copo, mas não consigo retribuir o gesto de sorrir.

Eu: Obrigada pai.

Pai: Alguma notícia? - pergunta se sentando ao meu lado.

Bebo um gole daquele líquido morno e esfumaçante, sentindo cinco por cento da minha tensão diminuir.

Eu: Nada ainda. - aquela resposta me causa náuseas. Se tinha uma coisa que me tirava do sério era esperar e manter uma paciência, proveniente da que eu nunca tive.

Os pais de Alice estão sentados logo a nossa frente. Carlos toma Anna em seus braços acalentando a esposa que chorava, sem parar. Karen andava de um lado pro outro roendo as unhas, enxugando as lágrimas e vez ou outra sumia na ala hospitalar atrás de informações sobre o filho, mas voltava tempo depois mais apreensiva que antes.

Outra coisa de que eu detestava em hospitais. O transtorno que as pessoas sentiam, a aflição, a insônia constante por ficar tanto tempo aguardando apenas uma boa notícia.

Não conseguia entender por que isso teve que acontecer. Justo com os dois que estavam tão felizes e entrando em uma fase onde teriam que cuidar do bebê. E agora não sabíamos se era o fim de alguém.

Os soluços atingem minha garganta e saltam para fora sem cerimônia alguma. Começo a chorar temendo meus pensamentos, enquanto meu pai me abraça novamente tentando me consolar. Meu pai toma o copo descartável da minha mão e o deixa sobre a mesinha de centro. Eu me aconchego mais entre seus braços e continuo chorando.

Pai: Vai ficar tudo bem meu amor. - sussurra passando as mãos pelo meu cabelo. - Seus amigos vão ficar bem.

Eu queria acreditar, por Deus eu queria. Mas aquela demora me fazia temer o contrário e quando crio forças para dizer algo noto os pais de Alice se levantarem para encarar alguém atrás de nós.

Meu corpo me leva para cima e vou de encontro aos olhos de um homem em seu uniforme branco, expressão severa, mãos cruzadas a frente do corpo como uma defensiva. O médico.

Carlos: E então doutor? - se adianta. - O que vai acontecer com eles?

O Idiota Que Me Completa | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora