8.

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As horas pareciam ter voado. Eram agora 17:34 de acordo com o velho relógio a pilhas que o Christian fazia questão de manter em cima da sua mesa de cabeceira.
Adormeci. O cansaço consumiu-me e ganhou esta batalha. O lado do Christian estava vazio e os lençóis encontravam-se frios, o que significa que ele não esteve aqui enquanto eu dormia.
Levantei-me com calma e sem fazer barulho e sai do quarto, encontrando-o a andar de um lado para o outro na sala, como se a sua mente estivesse repleta de pensamentos que o incomodavam.
Encostei-me à parede, como um leão prestes a atacar enquanto marca a sua vítima. Observei-o silenciosamente, decorando todos os seus passos e o som da sua respiração pesada, até que acabei por ficar tonta com tantas idas e voltas que interferi.
- Amor. - sussurro num som baixo mas que lhe foi possível ouvir.
- Sim? - murmurou, parando à minha frente. - Não reparei que já estavas acordada. Como te sentes?
- Um pouco mais capaz... porquê tão pensativo?
- Nada de mais... - olhou-me. Por muito que tentasse, foi-me difícil acreditar no seu olhar.
- Tens a certeza? Pareces incomodado. - murmuro.
- Estou bem, estava só a pensar no trabalho, nada mais.
- Christian, eu disse-te que era melhor teres ficado a trabalhar.
- Não, não. Eu prefiro estar aqui. - deu um sorriso tão leve e tão pouco verdadeiro que a minha vontade de continuar a ouvir aquilo desapareceu.
Caminhei então de volta ao quarto. Vasculhei na minha mala em busca do meu telemóvel que rapidamente encontrei. Não tinha nenhuma chamada do Tyler, o que me levou a concluir que ainda não havia novidades. Voltei a pousa-lo e sentei-me na cama.
Estou a tentar. Estou a tentar vasculhar pela minha mente, razões ou pessoas que possam ter conduzido a esta tragédia. Porquê a Jess? Quem poderia ter feito uma coisa tão horrível como esta? E porque é que o Christian estava desta forma? O que lhe vai na cabeça que lhe possa causar tamanho transtorno?
Talvez esteja a ser paranóica ao pensar que ele estava pensativo demais para me estar a dizer a verdade, mas uma parte de mim dizia, com toda a certeza que ele me estava a mentir.
Eu conheço-o. Ou talvez pense que o conheça. Provavelmente nunca vai ser possível conhecer uma pessoa a 100%. Talvez isso seja só uma desculpa para dizer que passamos demasiado tempo a dedicar-nos a essa pessoa. E eu dedico muito do meu tempo ao Christian.
Desde o primeiro momento em que o vi que ele capta a minha atenção como nunca outra pessoa captou. Desperta em mim todos os sentidos.
Amar alguém desta maneira era para mim impossível. Mas aconteceu.
E o medo de vir a perde-lo é grande. Talvez por isso eu seja tão hesitante.
Tudo isto borbulhava na minha cabeça, fazendo-me ficar tonta. Voltei a pegar no meu telemóvel, vasculhando a galeria de fotos do mesmo.
Encontrei verdadeiras relíquias da minha relação com a minha melhor amiga de faculdade. Jessica sempre mantivera um espírito de equipa, e essa era talvez uma das suas características mais marcantes.
Foi então que me lembrei de um pormenor: A cópia da sua chave de casa estava comigo.
Que lugar será melhor para procurar provas?

Calcei-me e vesti o casaco, pegando na mala.
- Christian. - sai do quarto entrando na sala, onde este se encontrava. - Eu vou sair.
- Onde vais? - olhou-me.
- Vou... a casa da Jess.
- Não. - enrijou o seu olhar. - Não, não vais. A casa dela vai ser alvo de buscas, não podes ir lá. Ainda te culpam.
- Eu tenho luvas e para além disso eu vou pedir um mandato.
- Mas eu não autorizo.
- Christian, eu estou a pedir-te por favor. Deixa-me ir lá.
- Não!
- Mas qual é o problema afinal? Eu sou uma agente policial, tenho todo o direito de pedir um mandato e fazer uma revista pela casa. Se há alguém que pode descobrir alguma coisa, esse alguém sou eu.
- Já te disse que não! - rosnou. - Não insistas! Esta conversa acaba aqui e agora.
- Como queiras. - sai de casa batendo a porta. Ouvi os seus chamamentos mas ignorei-os, chamando o elevador. Entrei e desci, saindo do prédio. Enfiei-me no carro e conduzi até casa dela. Levem-me presa se quiserem. Estacionei perto do portão e calcei as luvas. Abri a porta e fechei-a de seguida, ligando a luz. A casa estava arrumada, não havia sinais de arrombamento, ou violência, pelo menos no piso inferior. A sua loiça estava por lavar. O seu batom bordô ainda estava marcado na sua caneca favorita.
Os meus olhos lacrimejaram no momento em que entrei. Esta casa grita "Jessica" por todos os lados. Tirei algumas fotos e subi para o 1° andar. Entrei no seu quarto. A cama estava desfeita. Havia roupa interior espalhada pelo chão. Desviei levemente os lençóis vasculhando por alguma coisa que me fosse útil. Retirei algumas amostras que guardei. Fotografei tudo novamente e segui para o resto da casa. Quando acabei todas as recolhas, segui para o laboratório. Entreguei algumas coisas ao Henry e voltei para casa. Entrei vendo o Christian impaciente no sofá. Fechei a porta.
- Foste lá, não foste?!
- Fui.
- Tu nunca me ouves?!
- Ouve Christian eu não estou com disposição. - pouso as coisas.
- Como queiras. - levantou-se entrando no quarto e fechou a porta. Solto um suspiro longo e rígido, passando as mãos pela cara.
Preparei o jantar, mas acabei por comer sozinha. Deixei tudo arrumado e caminhei para o quarto. Troquei para o pijama e deitei-me no meu lado, de costas voltadas para ele. Adormecemos no meio de um silêncio duro.

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