24.

4 0 0
                                    

Engoli a seco, relendo a mensagem vezes e vezes sem conta. Era de um número privado, por isso, de nada me valia tentar ligar.

O meu passado... há tanta coisa sobre ele que ninguém sabe. Tantos detalhes, tantas histórias. Mas há uma que é mais importante que todas as outras.
As pessoas nem sempre são o que aparentam. É tão fácil escondermos-nos por detrás de uma máscara, fingir que está tudo bem, que somos felizes. Cheios de sorte por tudo o que temos.
Mas essa não é a realidade.

Estes 5 anos com o Christian foram muito mais do que apenas uma relação amorosa. Foram uma proteção. Um encobrimento de uma mentira.
Esta é uma memória que tento esquecer, todos os dias.

5 anos antes

Caminhávamos agora para fora do restaurante. A minha visão estava tão turva que era para mim uma aventura descobrir onde era seguro pousar o meu pé para poder caminhar.
- Precisas de ajuda? - Christian riu-se num tom de provocação.
- Mas é claro que não. - ri-me. - E de nada me serviria a tua ajuda se ambos sabemos que estas tão ou mais bêbedo do que eu.
- Isso não é inteiramente verdade...
- Não? - olho-o piscando várias vezes os olhos para tentar focar a imagem.
- Não. Pelo menos eu vejo.
- Engraçadinho. Mesmo, extremamente engraçado. - alcancei o seu antebraço e abri a porta do carro. - Bom, analisando rapidamente a situação, nenhum de nós está apto para conduzir. No entanto, não podemos simplesmente deixar aqui o carro e ir embora. Por isso, eu levo.
- Nem pensar. - Christian olha-me. - Eu levo.
- Eu estou ótima.
- Eu também. Eu insisto em conduzir.

Olhei-o durante uns segundos. Não sei se era da bebida, ou apenas das minhas emoções à flor da pele, mas o Christian estava lindo. Despenteado, é certo, mas o cabelo dava-lhe um certo charme, não sei explicar.
- Muito bem. Tu levas. Mas se alguma coisa me acontecer, vais sentir-te muito culpado.
- Verdade. Mas eu não vou deixar isso acontecer. - olhou-me, descansando-me.

Entrámos para o carro. Coloquei o cinto e Christian arrancou. Coloquei música para que não adormecêssemos, e mantivemos a conversa a fluir. Entrámos numa estrada movimentada, no entanto, pouco iluminada.
Tudo corria às mil maravilhas até que tudo ficou preto. Um estrondo enorme ecoou pelos meus ouvidos e senti o meu corpo desligar.
A imagem seguinte escorre-me pela memória, como se de uma pinga se tratasse. Um fio de sangue escorria pelo rosto do Christian, inconsciente no seu lugar. O carro estava capotado. E eu, por mais que me tentasse mexer, não conseguia. Não sentia o meu corpo. E acabei por apagar.

Acordei no hospital, ligada a máquinas. A minha preocupação recaiu no Christian. Estaria bem?
Depois tudo veio, ao mesmo tempo. Tínhamos batido. Íamos em contramão. Chocámos com o carro de uma família, que não sobreviveu. Mas nós sim. Nós íamos ficar bem.
Como nos "safámos"? Pois bem. O pai do Christian era chefe da polícia. E encobriu-nos. Ficámos limpos. Sem qualquer culpa no cartório e concordamos que nunca mais tocaríamos neste assunto. Que seria o nosso segredo. Mas a verdade é que eu penso nisto todos os dias. Na nossa irresponsabilidade. Como é que deixámos isto acontecer?!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 28, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Miami SafeOnde histórias criam vida. Descubra agora