19.

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Os dedos de Christian passavam vagarosamente pela minha pele descoberta. A minha cabeça descansava sobre o seu peito, que agora se movia calmamente, ao ritmo das suas batidas.
Cedi. Cedi sem que pudesse obrigar o meu corpo a ficar longe dele. A ficar longe daquilo que na minha cabeça é tóxico, mas que no meu coração é a minha casa. Eu moro aqui, neste ser que tomou cada recanto meu só para si. Que me guardou e cuidou da melhor maneira possível.
Eu sabia que era errado. Mas a minha vulnerabilidade foi mais forte. A minha fraqueza falou mais alto. E eu entreguei-me sem pensar no resto. Estes dias têm sido maiores que todos os outros, e a minha negação perante ele tem tentado manter-se. Mas hoje, eu falhei redondamente. E até logo à noite, quando me sentar no sofá e sentir tudo remoer, eu não estou arrependida.
- Estás mais calma. - sussurrou contra mim, sem deixar de me mimar.
- Um pouco. - murmuro baixo.
- Oli, deixa-me voltar. Dá-me uma segunda oportunidade.
- Christian, eu não posso fazer isso.
- Porque não?
- Porque não te consigo perdoar.
- Não tentaste. Olivia, eu já fiz muita coisa mal. Em relação a ti principalmente, e sei que os últimos meses têm sido muito complicados para nós com todas as discussões. Mas nada fez com que deixasse de te amar. Nós sempre procurámos resolver os nossos problemas, sempre fomos diretos e honestos sobre as coisas.
- Achas que foste honesto comigo? - sento-me tapando o meu corpo com o lençol.
- Não. Não fui. Mas tenho uma razão para isso.
- Mais uma vez, não estás a ser honesto comigo. Queres voltar, queres que te dê uma segunda oportunidade e continuas e esconder coisas?
- Olivia, é complicado. Podes tentar entender?
- Já estou a entender demais. Estou farta dos teus labirintos.
- Estou a proteger-te.
- A proteger-me de quê?!
- Não recebeste nenhum bilhete?!
Olho-o séria. - Como sabes do bilhete?
- Vês?!
- Christian! Fala!
- Não posso falar. Não posso.
- Já falaste. Foste tu que mandaste o bilhete?
- É claro que não!
- Então?!
- Eu recebi. E a Jessica também.
- Oh... então foi isso. Trocaram os bilhetes e enrolaram-se? Foi?
- Não. - rosnou.
- Não me digas que o bilhetinho dizia que tinham de se envolver.
- Ou então eles viriam aqui. - olhou-me. Olho-o de volta. - Onde tu estavas, sozinha em casa. Doente. Com uma sniper apontada pela janela.
- Christian isso é uma estupidez. E tu caíste.

Ele levantou-se e vestiu os seus boxers. Caminhou até às calças que estavam no chão e tirou o seu telemóvel das mesmas. Voltou à cama e passou-mo. Carreguei no play.
No video, aparecia a minha janela. Poucos segundos depois e o zoom feito na imagem mostrava o meu corpo, deitado sobre a cama e o ponto vermelho da arma no meio as minhas costas. Revi o video algumas vezes.
- Percebes agora? - tirou-me o telemóvel.
- Porque não me contaste?
- Porque eu não podia! E já falei de mais!
- Acaba de falar Christian!
- Não! - vestiu-se.

No momento em que ia retaliar, o meu estômago revirou. Levantei-me e corri para a casa de banho, vomitando. Christian chegou em segundos, segurando os meus cabelos na sua mão.
- Estás bem? - olhou-me preocupado. Puxei o autoclismo e lavei os dentes rapidamente. Respiro fundo, secando os lábios.
- Sim. - assinto. - Podes passar-me o robe?
- Claro. - alcançou-o e passou-mo. Vesti-me e apanhei o cabelo.
- Olivia, o que se passou?
- Uma indigestão. Estou bem. Deve ter sido por causa dos nervos.
- Tens a certeza que estás bem? Estás pálida.
- Estou ótima. Só preciso de descansar.
- Eu fico contigo. - beijou a minha testa.
- Christian, não me parece boa ideia.
- Não era uma pergunta. Era uma afirmação.

Não retaliei. Os seus braços levitaram-me para o seu colo, aninhando-me a cada detalhe do seu corpo. E eu ali fiquei. Perdida no seu mundo complicado.

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