23.

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Entrei no departamento, recebendo de imediato todas as atenções.
- Olivia. - Richard aproxima-se. - Podes chegar aqui, por favor?
Assenti levemente, desviando-me.
- Já todos sabemos o que se passa... eu lamento imenso.
- Obrigado. - murmuro.
- Qualquer coisa que precises, é só avisar.
- Eu agradeço imenso Richard, mas preferia não falar sobre isso agora.
- Eu entendo... bom, como deves calcular, afastaram-no do cargo. Está entregue a ti.
- A-a mim? - olho-o.
- Sim. Se tens capacidade de gerir uma equipa grande, então ser diretora não há de ser nada. Ele está no gabinete a arrumar as coisas.
Assinto. - Obrigada. Qualquer coisa, chamo.
- Sim, Olivia. - assentiu e afastou-se. Segui o meu caminho para o elevador. Mais um assunto para me manter a cabeça num turbilhão. É como se cada vez eu batesse mais fundo.

Entrei e selecionei o andar do gabinete. Imagino como o Christian se deve sentir. Logo ele, que tanto guarda. Que tanto tenta ser imparcial. Que sempre lutou por este lugar e que sempre me tentou afastar no que toca ao trabalho. Destronado por mim.
Sai quando as portas se abriram e caminhei até lá. Com cuidado, abri a porta, vendo-o ao fundo. Havia caixas de cartão espalhadas pelo chão e cadeiras e havia um Christian a enxovalhar tudo lá para dentro, sem prestar atenção ao que possivelmente se pudesse partir. Conseguia sentir o seu sangue pulsar com tanta força que as veias pediam socorro. Ele estava irritado e talvez não seja boa ideia eu estar aqui agora... mas vamos em frente.
- Christian... - murmuro.
- Como é que eles se atrevem?! - rosnou sem desviar o olhar da caixa. - Eu não tive culpa!
- Mas eles não têm provas disso! No entanto, têm provas que te incriminam! O que achas que eles iam fazer?! Deixar-te aqui, no comando da polícia quando tu és o principal suspeito de um homicídio?! Christian... - fui até si segurando as suas mãos. O seu olhar encontrou o meu. - Não está nada fácil. Todos sabem o que aconteceu e sabem que tu és o principal alvo nisto tudo. Que imagem é que ia passar se te deixassem à frente?
- Não quero saber Olivia. Eu fiz tudo por este departamento, tudo! Eu não tive nada a ver com a morte dela! Nada!
- Queres usar a palavra? Contra as provas que existem? Força. Só te vais envergonhar e ainda te prendem! - olho-o. - Ouve, eu sei que é complicado, mas tens de aceitar. Qualquer movimento em falso neste momento pode custar a tua liberdade. Espero que mantenhas isso bem presente.
- Deves estar a adorar isto, não? - sorriu cinicamente.
- O quê? - olho-o, incrédula.
- Sempre quiseste ter liberdade no trabalho. Que todos soubessem quem eras. Poder fazer coisas importantes. Pois aí tens Olivia, a tua grande oportunidade!

Solto bruscamente as suas mãos empurrando o seu corpo contra a parede. - Como é que tu és capaz de dizer isso?! Depois de tudo o que eu passei para aguentar as tuas "ordens" e "decisões ". Eu tentei Christian. Tentei evitar tantas discussões por tu sequer pensares que tens qualquer controlo sobre mim ou o meu trabalho. Eu lutei pelo que tenho. Esforcei-me, dias e noites durante anos para chegar onde cheguei. E estava a destruir a minha carreira por ti! Pelas tuas regras idiotas! Não podia fazer nada, não podia ir a lado nenhum, ninguém podia sequer saber que eu sou tua mulher! Acabou. - rosno. - Tu nunca mandaste em mim e decididamente que não é agora que o vais fazer. E se queres saber, estou muito feliz por ter sido escolhida para este lugar. Eu vou mostrar-te que posso fazer um trabalho melhor que o teu. E se antes ninguém mandava em mim, agora vão ver do que sou feita. - solto-o. - Tens uma hora para esvaziar o meu gabinete e ires à sala dos interrogatórios. - pego na mala e sai, batendo a porta.

Como é que ele tem o descaramento de me dizer uma coisa daquelas?! Eu vim por ele. Para o ajudar, para tentar que pelo menos não o tirassem daqui. E é assim que ele me paga. Eu até estava a considerar reconciliar-me com ele, mas depois desta? Oh, ele vai esperar e aprender a lição. O jogo virou. E agora, agora ele vai ver como se joga a sério. Vou resolver este caso, nem que seja a última coisa que eu faça.

Fui até à sala, reunindo todos os membros da minha antiga equipa.
- Bom dia a todos. - olho-os. - Como todos sabem, o caso da Jessica está a ser investigado e, por tudo o que já se foi apurando, eu sou a vossa nova diretora. Quero que saibam que nada vai mudar. Vou estar disponível para todos da mesma forma que sempre estive. Quando necessário, participarei em todas as atividades que me forem requisitadas e farei parte da equipa que está a tratar do caso da Jessica. Antes de deixar a chefia desta equipa, preciso de deixar alguém no meu lugar. Eu pensei muito sobre isto, e a verdade é que não foi fácil escolher um de vós. Todos têm um talento incrível para o trabalho que fazem. São detentores de um espírito jovem e único. Mas, desta vez, deixei o meu coração decidir. E, pelos anos de experiência e pela confiança que tenho pela pessoa, eu nomeio o Richard como vosso novo líder. - assinto. Aplaudimos em conjunto enquanto o Richard se aproximou de mim.
- Olivia, obrigado. - abraçou-me rapidamente, colocando-se ao meu lado. - É com grande honra que aceito esta posição e que prometo liderar-vos no melhor sentido possível.
- Muito bem. Obrigado a todos e bom trabalho. - assinto e a roda à minha volta foi-se dissolvendo. Todos voltaram aos seus postos e eu aproveitei para passar pela área de investigação.

Rondei todos os placares com todas as informações sobre o caso. Li cada uma atentamente, matutando sobre todas as possibilidades de resolução do caso até ouvir o meu telemóvel. Retirei-o da mala, abrindo a mensagem.

"Passados todos temos, mas o teu vai para sempre perseguir-te. O teu marido já está. A próxima és tu.".

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