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Olivia

O dia custou a passar. Parecia que cada minuto se tinha transformado em horas. Fiquei em casa, todo o dia, enfiada na cama. Não toquei em comida. Não tive fome, ou motivação para cozinhar.
Ligaram-me por volta do meio dia e poucos minutos. O funeral da Jessica será amanhã de manhã, às 09. Eu vou, mas não por querer totalmente. Vou pela minha melhor amiga. Pela minha companheira de quarto, e de trabalho. Não pela mulher que se deitou com o meu marido. Que me atraiçoou. E que morreu levando consigo este segredo.

Eram seis e pouco da tarde quando sai da cama. Caminhei até ao meu telemóvel que começou a tocar sobre a cómoda. Peguei no mesmo, vendo o nome de quem me contactava.
"Pai 💙". - apareceu. Respirei fundo antes de atender. O que lhe vou dizer?
- Estou? - murmuro.
- Liv, filha. - a sua voz calma soou do outro lado.
- Olá, pai.
- Como estás?
- Estou bem pai. - menti. - E tu?
- Também. Não me convenceste com essa resposta.
- Estou um pouco constipada, nada de mais...
- As melhoras. Precisas de alguma coisa? - inquiriu. Fiz um esforço tremendo para não quebrar. Preciso tanto dele.
- Não pai, estou bem.
- Tudo bem. Se precisares, já sabes.
- Eu sei. A mãe?
- Está num jantar com as amigas.
- Ela está bem?
- Está. E o Christian? Já não falo com ele à algum tempo!
- Ele... ele está no trabalho ainda. - uma lágrima escorre pela minha face.
- Está bem. Sendo assim não te incomodo mais! Tem um resto de boa noite querida!
- Boa noite pai.
- Adoro-te.
- Eu também. - murmuro. A chamada terminou e eu pousei o meu telemóvel. A minha mão estava trémula. Custa-me mentir-lhe, mas eu não estou preparada para falar com ninguém neste momento.

Sai do quarto, passando as mãos pela minha face. Ia caminhar para a cozinha quando ouço alguém bater à porta. Apertei o robe e fui até à mesma, abrindo a porta.
- Hey. - Richard olha-me, lançando sobre mim um olhar preocupado.
- Hey. - repliquei. O que é que ele está aqui a fazer? Ou melhor, como é que ele descobriu onde moro?
- Desculpa, não queria incomodar, mas fiquei preocupado, não apareceste no trabalho.
- Como é que descobriste a minha morada? - digo direta. Não estava com paciência para nada.
- Eu procurei nos ficheiros... - confessou, não desviando o olhar. - Desculpa, Olivia.
- Richard, eu estou com alguns problemas pessoais, e não fui trabalhar porque não me senti bem. Agradeço a tua preocupação, mas eu preciso do meu espaço. Desculpa, mas se não te importas está na altura de ires. - digo.
- Eu... tens razão. Desculpa. Se precisares avisa. - pediu.
Assenti em concordância e mais uma vez, agradeci. Fechei a porta quando confirmei que ele tinha entrado no elevador. É preciso ter lata.
Procurar nos meus ficheiros pela minha morada.
Caminhei então para a cozinha, abrindo o frigorífico. Analisei o seu conteúdo, escolhendo os iogurtes que tinha ao fundo. Retirei dois, verificando se ainda estavam no prazo. Apanhei uma colher do lava louça e lavei-a rapidamente. Abri os dois iogurtes e voltei à sala. Liguei a televisão e fiquei a ver um filme.

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