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Faltavam quinze minutos para as nove quando estacionei o meu carro junto do cemitério. Sai do mesmo, vendo a alguns metros de distância a pequena multidão que aqui se aglomerara para prestar a última homenagem a Jessica. Retirei as flores do banco de trás e ajeitei os óculos de sol. Mesmo que quisesse, não havia forma possível de parar as lágrimas. Os meus sentimentos estavam num reboliço.

Caminhei pela calçada, fazendo dos meus saltos o único som que me acompanhava. Familiares, amigos, colegas de trabalho. Todos aqui.
À medida que me aproximei, pude ver as reações das pessoas que aqui se encontravam.

Lágrimas, soluços, gemidos de dor, abraços reconfortantes, memórias.

Aproximei-me dos seus pais, abraçando os dois fortemente.
- Obrigada por teres vindo. - Lilian, na sua voz doce e calma, sussurra junto a mim, pelo meio de lágrimas, passando as suas mãos pelas minhas costas, transmitindo-me conforto.
- Não agradeça. Eu lamento Lilian, Paul. Não quero sequer imaginar a dor descomunal que sentem neste momento. - seguro as mãos dos dois entre lágrimas.
- Nós também lamentamos. Olivia, que esta perda horrível porque estamos a passar, não seja motivo do teu afastamento. A nossa filha considerava-te uma irmã. E nós uma filha. - Paul pede.
- Não me afastaria de vocês. Nunca. Contem comigo para aquilo que precisarem! A pessoa que o fez vai ser encontrada. E pagar por tudo isto.
- Deus te ouça. - Lilian murmura, limpando as suas lágrimas.
Cumprimentei mais algumas pessoas. O funeral decorreu. Triste, silencioso.
Parecia que tinha sido atingida. Sinto-me de rastos com esta situação. Esta imagem na minha cabeça.

Quando a cerimónia fúnebre terminou, e todos se começaram a dispersar, fiquei para o fim. Baixei-me ao nível da terra recém mexida e ergui os meus óculos de sol, deixando a minha face vermelha descoberta. Pousei cuidadosamente as minhas flores.
- Há tantas coisas que te quero dizer e tantas outras que queria ouvir. Foste embora tão de repente, sem que me pudesse despedir de ti devidamente. Não podias partir Jess. Não assim. Causaste-me uma dor tão grande, ao espetar-me uma faca nas costas. Escondeste-me isto Jess... como foste capaz? - choro baixo. - Como foste capaz de me deixar neste vazio? Porquê a mim? Porque a nós? São tantas perguntas, tantas mágoas... vou levar-te comigo para o fim dos meus dias. Vou tentar perdoar, por ti, esta traição.  Pela nossa amizade eu prometo-te que vou descobrir quem te levou e ele vai pagar. Custe o custar. - sussurro erguendo o meu corpo. Afastei-me de volta ao carro entre lágrimas duras. Sentidas.
Entrei no mesmo e respirei fundo, tentando acalmar os ânimos. Olhei pelo espelho quando vi um carro que me era familiar.

É preciso lata. Como é que ele tem coragem de vir aqui sequer.
A minha tristeza começou a desaparecer, dando lugar a raiva. Sai do carro, a passos largos indo até ele. O parque estava vazio, sendo os únicos eu e ele.
- Tu não tens vergonha?! - rosno fazendo-o encarar-me. - É preciso ter muita lata para vir aqui!
- E-eu vim apenas...
- Apenas fazer o quê?! - corto-o. - Despedir-te dela foi?! Deves estar a sofrer imenso Christian.
- Olivia por favor, estou a...
- Cala-te. - rosno limpando as lágrimas. - Vai-te  embora!
- Não. - murmurou olhando-me. O seu olhar desafiava o meu. Não estou com a mínima paciência para isto.
- Vai! Agora. - exijo.
- Não vou. - olhou-me firme. - Tu vais ouvir-me Olivia. Quer queiras ou não.
- Tu não me faças ser mal educada. Não sou obrigada a nada, nada! Não quero ouvir nada vindo de ti sem ser no dia do divórcio.
- D-divórcio. Não. Não! Não vou assinar esses papéis.
- É claro que vais! Nem que vá ao fim do mundo!
- Não vou! - rosnou. - Tu tens de me ouvir!
- Eu não quero! Como é que tu foste capaz?! Com ela, com a minha melhor amiga! Eu confiei em ti! - choro.
Os passos de Christian vieram ao encontro do meu corpo, que se encontrava ligeiramente encolhido. Puxou a minha mão, fazendo-me embater contra si.
O cheiro da sua colónia logo chegou até mim, fazendo com que eu quase parasse de insistir em soltar-me deste aperto. O seu tronco trabalhado cercou o meu.

Ergui o meu olhar até ao seu, entre lágrimas. Senti-me a querer baixar a guarda, mas não o fiz. Esperei que ele libertasse.

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