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Olivia

O dia nasceu por volta das 06:44 da manhã e eu vi-o pela grande janela da sala, enquanto o chá de camomila me aquecia as mãos pela caneca.
Não consegui pregar olho. Por muitas voltas que desse na cama, por mais posições que fizesse e que me parecessem cómodas, nada resultava.
Então desisti. Passei a noite em claro, de frente para a vista da cidade.
Sentia a falta dele. A cama parecia um lugar obscuro sem o seu calor.
Mas depois, tudo me atingia a uma velocidade incrível. E eu voltava a lembrar-me do infeliz acontecimento.
E as lágrimas voltavam a florescer nos meus olhos, e eu nada podia fazer para as manter aqui, quietas e silenciosas.

Não tive coragem de me vestir ou preparar. De pensar sequer em trabalho. Sinto-me demasiado frágil para isso, e eu não gosto. Não gosto de me sentir impotente. Mas é mais forte do que eu.
Na minha cabeça, estava a preparação para o que vinha a seguir e como me prepararia para isso. O divórcio. Como contarei às pessoas que me rodeiam? Como o direi a mim própria?
São demasiadas coisas ao mesmo tempo e a minha pessoa está esgotada.
Levantei-me, finalmente, do sofá. Ao pousar a caneca na pequena mesa de apoio, senti um enjoo enorme. Levei as mãos à minha zona abdominal, tentando perceber o que se passava, mas sem sucesso. Corri até à casa de banho e acabei por vomitar todo o conteúdo que até agora me aconchegava. Puxei o autoclismo e passei a boca por água, lavando os dentes.
Estou demasiado nervosa para funcionar corretamente. Desliguei a luz da casa de banho e caminhei para o quarto, voltando a deitar-me. Tapei o meu corpo e puxei a almofada do Christian para mim. O seu cheiro estava bastante presente na mesma. Como eu adoro esta colónia. Enterrei a minha face na mesma, abraçando-a com força e deixei-me levar pelo cansaço.

☁️ Christian ☁️

Sai do hotel quando o relógio marcava as 07:45. Escusado será dizer que estou mais que bêbedo, mas enfim, o trabalho espera-me. Meti-me no carro e dirigi para a sede. Estacionei e desliguei o mesmo, caminhando para a entrada. Com muita calma, fui andando, tentando não dar nas vistas. Carreguei no botão do elevador. Parecia ter engolido um garfo de tão direitinho que estava. Entrei, ficando à frente de todos aqueles que já se encontravam lá dentro.
- Bom dia chefe. - disseram em coro, fazendo-me soltar uma gargalhada.
- Bom dia chefe. - imito carregando no botão do meu andar. Acabei por me rir durante a viagem de cerca de um minuto até ao 8° andar. Bom trabalho, idiota.
Sai finalmente do elevador e caminhei para o meu escritório. Peguei no café que a minha secretária já segurava junto da porta e ao entrar, bati com ela. Mandei a mala para o sofá e caminhei, desajeitado, até à janela. Olho a mesma, bebendo o café. O álcool começava a querer atingir o meu emocional, que já estava todo alterado. Já tive noites más, mas nenhuma como esta. Nunca pensei que isto fosse doer tanto. Pelo menos para mim.
Não tenho emoções. Ou não devia de as ter. Não gosto de ser débil, fraco, espezinhado. Mas é assim que me sinto agora.
Estou à deriva neste oceano infinito. Não consigo decifrar isto.
Eu não trai a Olivia porque quis. A Jessica não despertava em mim esse desejo, nem ela nem mais ninguém. Eu sei meter as coisas nos seus sítios e a minha mulher é a única que acorda estes sentimentos em mim. Eu sei isso desde o momento em que a vi na Universidade. Desde ai que mais nada me move como ela. Se realmente existem essas crenças inúteis de "almas gémeas" então ela é a minha. A peça fundamental do meu puzzle.
Eu sou dependente dela, o que de certa forma me transtorna. Entreguei-me demasiado para saber lidar com a vida sozinho neste momento. Nela confiei os meus demónio mais profundos. Nela vi o meu futuro.
E agora estou sem ela. Perdido.

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