18.

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O silêncio ficou, a pairar, durante minutos e minutos que pareceram horas. Havia uma espécie de nuvem negra sobre ambos, como se nos aprisionasse das nossas próprias palavras. Eu tenho tanto para dizer, tenho tanto para perguntar, tenho tanto para ouvir. Mas nenhum de nós consegue balbuciar nada.

O meu olhar pousou no pequeno lago que estava a apenas a alguns metros de distância do carro. Nele vidrei a minha atenção até que Christian decidiu quebrar o silêncio.
- Não posso. - murmurou.
- Não podes o quê? - dirijo o meu olhar para si.
- Contar-te. - olhou-me.
- O quê?! - olho-o.
- Desculpa. Não posso por-te em perigo desta forma. Novamente por um erro meu.
- Tu estás a falar a sério?! Não acredito que estás mesmo a fazer isto! Trouxeste-me aqui para quê?!
- Porque pensei que estava a fazer a coisa certa, mas não estou.
- Tu não estás certo. Enlouqueceste. - sai do carro batendo a porta. Caminho a passos rápidos para dentro do parque, ouvindo os seus passos largos atrás dos meus.
- Olivia, pára. - a sua mão alcançou o meu pulso, parando-me fortemente.
- Larga-me. - exijo. - Agora.
- Pára. - repetiu olhando-me.
- Não vou repetir. - rosno. O seu aperto aliviou logo de seguida. Ele percebeu que me estava a magoar. O seu olhar frio desvaneceu dando lugar a um mar de preocupação.
- Desculpa. - murmurou.
- Acabou esta brincadeira. Acabou esta relação. Acabou tudo. Sai da minha vida. - murmuro acabando por quebrar.
- Oli. - sussurrou. - Por favor.
- Eu acabei de sair de um funeral. Podes respeitar-me?!
- Desculpa... eu levo-te.
- Eu sei conduzir e para além disso aquele carro é meu. - pego nas chaves. Voltei para trás e entrei no carro, arrancando.

Deixei as lágrimas cair todo o caminho até casa. Estacionei e subi, entrando no apartamento. Pousei a mala, olhando a janela. O meu choro ganhou intensidade e eu senti a necessidade de o libertar.
Estou frágil de mais para conseguir lidar com tudo à minha volta.
Pensei em meter 3 dias pelo luto da Jessica, mas isso só vai piorar as coisas. Neste momento, o importante é investigar. Conseguir resolver este caso. E é o que eu vou fazer.
Caminhei até ao quarto, tirando os saltos e arrumando-os ao canto. Retirei a minha roupa e deitei-me sobre a cama, que se encontrava meio desfeita. Abracei a minha almofada, adormecendo por algumas horas.

Por volta das 15, despertei com o som das batidas na minha porta. Levantei-me ainda meio ensonada e vesti-me, caminhando até à mesma. Abri.
- Outra vez? - olho-o.
- Preciso de uns papéis que deixei aqui... - murmurou olhando-me. - Estavas a dormir.
- E então?
- Acordei-te. Desculpa.
- Despacha-te. - dei-lhe passagem e fechei a porta. Voltei ao quarto e deitei-me. Conseguia captar o som dos seus movimentos pelo escritório e sala. Uns minutos depois ele entrou no quarto.
- Já tenho o que preciso. - murmurou.
- Leva já tudo.
- Não.
- Como não? - sento-me, olhando-o.
- Qual vai ser o pretexto que vou ter para vir aqui?
- Nenhum. Esta já não é a tua casa.
- É. - pousou a mala e sentou-se à minha frente.
- Não, não é.
- É. Esta é a minha casa, este é o meu quarto, a minha cama, os meus lençóis e a minha almofada. A minha mulher.
- Ex. - murmuro.
- Não. Ainda somos casados.
- Não por muito tempo.
- Não vou assinar os papéis.
- É óbvio que vais. Não era uma pergunta, era uma afirmação.
- Olivia eu não vou assinar nada. Eu tenho as minhas provas!
- Provas de quê?! - olho-o séria.
- Provas de que não te trai porque quis!
- Queres mentir sobre mais alguma coisa ou?
- É a verdade!
- Depois de hoje eu não vou voltar a acreditar em ti! Nunca mais!
- Eu não te posso por em perigo! Entendes isso?!
- O único perigo que eu tenho neste momento é continuares à minha frente e eu pegar naquela arma e acertar-te na garganta. - deixo as lágrimas caírem. - Christian, acabou. Já chega de jogos. Não tens mais nada a perder, se é que isso alguma vez te fez diferença.
- Não digas isso Olivia. Eu vivo para ti e tu sabes disso tão bem quanto eu!
- Vives? Hm. - assinto. O seu olhar continuava em mim. Sempre foi assim. Observador. Cauteloso. Talvez por isso tenha este emprego. Talvez por isso o meu coração salte cada vez que ele está por perto.
- Podes parar de olhar para mim? - pedi limpando as lágrimas.
- Não.
- Christian. - suspiro. O seu corpo ficou mais próximo do meu, assim como o seu rosto. Os seus lábios tocaram os meus tão suavemente que foi inevitável. Não valia a pena lutar contra a maré.

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