Capítulo 26

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Caminhávamos a passos largos. Ele ia à frente com seu ar soturno de sempre. Como Cinco não podia me dizer o que eu queria, imaginei que talvez outra pessoa pudesse esclarecer umas coisas, e não iria perder a oportunidade do dia de folga e da ausência de tio Beto, então sorrateiramente mudei de direção.

- Onde pensa que vai, Stupid Girl?

Ele nem havia olhado em minha direção. Merda.

- A Igreja.

- O que está aprontando?

- Por que deveria está aprontando algo?

- Responda.

- Você não pode me dizer nada, então vou perguntar a Padre Miguel.

- Ele também não vai te dizer.

- Qual é? Ele tem que dar um bom exemplo, afinal ele é um padre e mentir é pecado.

- Vamos. Pra. Casa. – ele disse sério.

- Depois disso prometo ir pra casa.

- Vamos agora – ordenou.

Eu não obedecia nem meu tio, por que eu tinha que obedecer a ele? O dei uma ultima olhada afrontadora e girei sobre os calcanhares andando rápido. Pensei que ele iria me agarrar pelo braço e me arrastar dali, mas ele não fez, somente me seguiu.

Chegando a Igreja de São Bento reparei a recente pintura azul céu da frente, o estilo barroco evidente desde a fachada me trazia nostalgia. A porta estava aberta, adentrei aquele ambiente tranquilo. Não havia ninguém ali.

Cinco sem demora se sentou em um dos bancos. Fiquei de pé sondando cada canto, eu vinha com meus pais aqui quando era criança e não tinha mudado muito desde esse tempo.

Padre Miguel prontamente apareceu se curvou diante do altar e logo veio me cumprimentar como sempre fazia: abraçando-me. Seus olhos redondos notaram Cinco.

- Quanto tempo faz que você não me faz uma visita?

- Tio Beto sempre vem aqui, mas não me traz.

Soltei para ver sua reação.

- Seu tio passa aqui às vezes, mas muito atarefado. Algo especial para vim hoje?

- Preciso conversar com o senhor uma coisa, sobre tio Beto.

- Hum. – Ele me aparentou uma ponta de preocupação. – Vocês podem almoçar comigo e conversamos.

- Boa ideia – concordei.

Estava com fome.

Ele nos conduziu, entramos por um portal lateral e chegamos à casa paroquial. Percorremos os cômodos até a cozinha. Padre Miguel pegou um copo e se pôs a mexer na geladeira, retirou dela uma garrafa d'água e se serviu.

- Se quiserem posso preparar algo – anunciou Cinco de repente.

- É verdade jovem, você possui dotes culinários...

Como ele sabia disso?

- Vocês já se conhecem?! – indaguei.

Revezei a vista entre os dois. Cinco insondável. Padre Miguel tomou uma grande golada de água e sorriu.

- Se não se incomodar pode sim – respondeu o Padre a Cinco. - Sente-se, Eloíze – ele propôs.

Sentei-me. Padre Miguel pegou pratos, talheres e mais dois copos, os colocou devidamente na mesa e depois disso se sentou. Serviu-se mais uma vez com água. Cinco averiguava o que tinha na geladeira e nos armários.

- Roberto me disse que o relacionamento de vocês não está indo bem. Ele disse que você tem tido ataques de ira. Fiquei preocupado.

- Meu tio definiu com ataque de ira? – Eu estava indignada. – Bem, não foi pra falar sobre isso que vim aqui. Vou logo ao ponto: tio Beto é um caçador de vampiros?

Ele se engasgou com a água que estava bebendo.

- Como você supôs isso?

- O senhor é o melhor amigo dele. Ele deve contar tudo pro senhor.

Ele engoliu em seco e olhou de relance para Cinco a beira do fogão.

- Eu sei que Cinco é um vampiro, mas ele não me diz nada sobre o tio Beto e eu preciso sabre de alguma coisa, estou ficando louca – esclareci.

- Eu lamento muito, mas acho melhor o próprio Roberto te dizer. Quando ele te contar garanto que respondo qualquer pergunta.

Mas eu queria que ele respondesse agora. Suspirei.

- Merda. – Levei à mão a boca como um gesto de repreensão a fala. – Ó! Desculpe Padre.

Meu estomago já estava começando a protestar. E graças a Deus, Cinco finalmente terminou o preparo da comida. Ele fez espaguete ao molho branco. Coloquei uma grande porção no meu prato, provei e estava delicioso.

- Não sabia que você cozinhava tão bem – eu disse a Cinco.

- Eu nunca mais tinha cozinhado desde a transformação. - Sentou-se.

E um pedaço do seu conflito interno vinha a toma. Padre Miguel deu a Cinco um olhar de piedade.

- Não foi culpa sua – disse o Padre.

Eu estava provando mais do que ninguém a angústia de Cinco de modo que ele nem estava aberto ao amor. Mas o assunto de hoje não era ele e sim tio Beto.

- Pelo menos me confirme uma coisa, Padre. Água benta que tio Beto pega com o senhor, né?

- Sim, água benta. Se quiser também posso lhe dar.

Suspirei novamente. Mexi no conteúdo do prato com o garfo em modo pensativo.

- Quer um conselho em como interrogar Roberto?

- Quero, por favor.

- Em provérbios 25,15 diz o seguinte: "Pela paciência o juiz se deixa aplacar: a língua que fala com brandura pode quebrantar ossos." Não o confronte com grosseria, seja paciente e mantenha calma, só assim conseguirá que ele te explique alguma coisa.

Paciência era uma virtude. Virtude essa que eu não tinha.

Amo comentário e adoro teorias se puder deixe sua opinião, risos, revoltas, que achou a fala da Lize ridícula : o e o 5 lindo S2... me deixaria muito feliz ; )

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