Capítulo 39

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Fez-se cinco dias que Cinco foi embora. Eu continuava triste, mas estabeleci que tinha que esquecê-lo, seria o melhor a fazer. Apesar de ter tido a incoerente ideia de me matricular num curso Inglês online, coisa que me fazia lembrar dele.

Evitava sair de casa, e quando saia sempre me disfarçava, temendo que alguém me reconhecesse.

Já havia vindo três dias durante essa semana na biblioteca, mas o livro que eu queria insistia em não se encontrar. Eu ainda não tinha desistido e tive que vir verificar hoje. Graças aos céus finalmente eu poderia ter aquele livro em minhas mãos. O apanhei como se fosse uma preciosidade.

Escorregue pela estante e sentei no chão cruzando as pernas. Escolhi um página ao acaso com da última vez, e uma carrada de informações apresentou-se.

"Vampiros não consomem sangue de outros vampiros, por um único motivo, o sabor não é agradável; dessa forma existem duas escolhas: humano ou animal. O vampiro que ingere sangue humano torna-se significativamente mais vigoroso do que aqueles que sorvem sangue animal, ampliando ainda mais suas habilidades. Dentre a variedade de sangue humano ainda podemos encontrar certos tipo que são melhores em termo de sabor e nutrição para tal raça, 'corrupted soul' adoram os melhores sangues e são incapazes de se opor até a ultima gota."

Meu celular vibrou, era Tio Beto.

- Oi, Tio – falei baixo.

- Finalmente você atendeu uma ligação minha.

- Sim, o que foi? – disse de forma branda.

- Vamos jantar na cantina hoje?

A relação com Tio Beto não andava bem. Não tínhamos mais discutido, mas também só falávamos estritamente o necessário um com o outro. Estava na hora de pararmos de agir com crianças e saber lidar com a situação com uma boa conversa, e o restaurante seria um ótimo ambiente para isso.

- Passo na loja, estou na biblioteca agora.

- O que faz na biblioteca?

- Ah, Tio, acho que já sabe a resposta.

- O que especificamente você está pesquisando, mocinha?

O que o senhor não quer me dizer?!

- Tudo que eu encontrar sobre vampiros e caçadores é bem vindo – respondi.

Ele suspirou do outro lado da linha.

- Chego às 6:00 – Desliguei.

Folheie mais um pouco o livro.

"Dependendo do próprio organismo e do tipo de consumo, o vampiro ainda pode desenvolve uma habilidade especial. Tal habilidade está ligada a poderes telepáticos sutis controlando as faculdades mentais dos seres vivos."

Virei à página.

"Alguns desenvolvem o ilusionismo que alterar a percepção, enganando o sistema sensorial; outros podem se comunicar telepaticamente; têm-se também poderes como o consumo de emoções, hipnose e clarividência. Os vampiros abundantemente poderosos podem comandar ao mesmo tempo as mentes de várias pessoas. Ainda estou a averiguar se possui tipos limitados ou se há inumeráveis variedades de tais poderes."

Esse livro era sen-sa-ci-o-nal.

*

O jantar com Tio Beto foi tranquilo e saboroso, pizza de calabresa era a minha favorita. Parecia que ele queria retomar nosso antigo convívio, mas eu já não era a mesma de antes da vinda de Cinco.

Escutei pacientemente que ele queria que eu voltasse a trabalhar na loja, entretanto ele teve que respeitar quando respondi claramente que não pretendia. Ele se mostrou um pouco bravo e eu sabia que ainda iria insistir.

Joguei a toalha que estava a enrolar no meu corpo e vesti o moletom de Cinco pela quinta noite, descontente por não ter mais o cheiro dele por conta das várias lavadas.

Meu sexto sentido me alertou que tinha mais alguém no quarto, mas não era um alerta de perigo e sim um sentimento agradável.

- Eu sei quem você é. Eu vi a incrustação em sua estaca – falei ao ar.

Então, girei o corpo me pondo a olhar o Desconhecido parado perto da janela. Ele tinha me visto vestir a roupa?

Aproximei-me dele, seu os punhos estavam fechados.

Tirei seu boné. Ele permaneceu imóvel. Depois a máscara, revelando sua barba por fazer. E por fim a peruca escrota que escondia suas ondas loiras. O que eu tinha visto na estaca foi uma circunferência com o número 5.

Aqueles jades que eu amava tinha um ar sombrio.

- Você não foi embora.

- Não ainda. Ela está aqui.

- Ela quem?

- A maldita que me transformou.

- Você ainda não esqueceu essa vingança?

- Só vou ficar em paz quando matá-la.

- E depois o que vai fazer?

- Vagar por ai. Esperar alguém me matar ou simplesmente morrer de sede.

- Não diga isso.

- Eu sou um monstro.

- "O mundo parece cheio de homens bons, mesmo que nele existam monstros." – cite uma frase que li em Drácula. - Para mim você é um homem bom, não um monstro. Você me salvou varias vezes. E você pode fazer algo bom, mesmo estando nessa forma. É algo que não se pode mudar, mas você ainda pode ser você mesmo, independe em que forma esteja.

- Eu... eu só vim me despedir – disse ele de cabeça baixa.

- Mesmo que você diga que não sente nada por mim. Eu te amo, Oliver.

- Eu não mereço seu amor... eu só destruiria sua vida. Vou embora depois de acabar com a maldita. Encontre um cara que te faça feliz, quem sabe o Túlio seja capaz.

- Não, Túlio não. Não namoraria aquele cara de novo.

Ele segurou minha cabeça delicadamente e deferiu um beijo demorado em minha testa. Eu queria está para sempre sem seus braços, mas eu não podia obrigá-lo. Ele não podia esquecer todo o rancor e ressentimento de seu coração e se abrir para o amor? Se abri para mim?

Uma solitária lágrima desceu pelo meu rosto. Passei rapidamente a mão para limpá-la. Eu tinha decidido esquece-lo, não podia ceder ao meu desejo e arrastá-lo para minha cama...

Cinco me soltou, pegou suas coisa das minha mãos e passou pela janela. Pus-me a observar ele sumindo gradativamente pela rua, como se um pedaço de meu coração fosse junto com ele. Nunca mais o veria. Como eu faria para arrancar esse amor e essa dor do meu peito?

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