Capítulo 36

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Cinco saiu rapidamente de cima de mim. Sentei-me e vestir novamente a camisa xadrez em tons de azul, que tinha deixado no braço do sofá, sem me importa mais se iria sujá-la. Tio Beto estava parado na entrada, de frente para nós. Ele fitou por um bom tempo meu pescoço antes de dizer:

- Eu confiei em você, Oliver. Você prometeu que não iria machucá-la. Isso eu não posso perdoar – falou Tio Beto, tomado pela raiva - Pegue suas coisa e saia dessa cidade. Agora.

Tio Beto saiu da frente da passagem, Cinco se dirigiu com a cabeça baixa, sem falar nada. Meus olhos se encheram de lágrimas quando Cinco já não estava mais ali. Tio Beto não tinha o direito de falar assim com ele quando a responsável por isso tudo fui eu.

- Fui eu. Sou eu a culpada. Fui eu que ofereci meu sangue.

Toda a face de Tio Beto franziu-se.

- Lize, por que se submeteu a isso? – disse, espantado.

- Porque estou apaixonada por ele – eu disse, um pouco descontrolada.

E corri para fora a procura de Cinco. Ele já sumira na escuridão, mas minha visão foi capaz de identificá-lo. Alcancei-o e agarrei seu braço, puxando para que ele parasse.

- Por favor, Cinco. Fique, por favor. – Lágrimas rolavam de meus olhos.

Ele finalmente parou, e olhou meu rosto fixamente.

- Não posso – Sua voz saia como um lamento.

- Não ligue para o que tio Beto disse, ele estava com raiva e não entendeu a situação.

- Ele tem razão para sentir raiva.

Então se desvencilhou de mim.

- Não, por favor – supliquei.

Mas ele me deixou, chorando no meio da rua. Por quê? Por que eu fui tão imbecil de me apaixonar?

Voltei a casa quase me arrastando de tristeza.

- Vá tomar um banho – Tio Beto aconselhou.

O sangue que escorreu de meu pescoço acabou manchando camisa favorita dele.

- E lave a camisa – acrescentou, zangado.

Ele subiu as escadas. Decidir não obedecer, pelo menos por um momento.

Liguei o aparelho de som em um volume elevado. Coloquei uma música de Rock com melodia triste. Quando alguém estava triste era uma má ideia escutar músicas melancólicas, mas era o que eu queria no momento. Far Away começou a tocar.

Pegue uma esponja e detergente, comecei a limpar a mancha de sangue que se fizera no sofá creme, mas ela insistia em permanecer. Desisti da limpeza, peguei meu laptop quase inutilizado na estante, sentei e pesquisei a tradução da música que tocava. A medida que as palavras em inglês entravam em meus ouvido acompanhei, seguindo cada estrofe da tradução da letra. Minhas lágrimas não suportaram a força que fiz para empurrá-las para dentro de volta e saíram contra minha vontade.

Passei a noite em claro pensando em como Cinco deveria estar, e meu coração murchava.

*

Quando cheguei à loja no outro dia, Tio Beto estava ao caixa, coisa que fazia muito tempo que eu não via, desde que eu me formara no ensino médio e começara a ser uma funcionária assalariada permanente da Loja Castelo Conveniências.

Senti que faltava alguma coisa naquele ambiente. Cinco não estava mais ali com seu mau humor matinal, com sua cara amarrada e sombria que sempre assustava os clientes. Principalmente as senhoras idosas, que passaram alguns dias sem frequentar a Castelo até se acostumarem com a presença de um cara que parecia um delinquente pronto a assaltá-las.

- Desistiu da demissão? – Tio Beto perguntou com esperança.

Ele precisava de alguém para ajudá-lo, não podia fazer tudo sozinho, especialmente podendo ter uma crise de asma a qualquer momento.

- Não. Eu vim ver... se Cinco realmente se foi...

- Eu não volto atrás do que fiz.

- Eu também não, e, faria de novo se fosse para ajudá-lo. Era eu quem o senhor não deveria perdoar.

- Você foi seduzida por ele e então, ele se aproveitou de você.

- Ele recusava meu sangue, ele me ignorava e tratava com grosseria. Eu que insisti em tudo e acabei me apaixonando, mas o senhor nunca vai entender.

Deixei Tio Beto e fui para aquele que tivera sido o quarto de Cinco, uma lágrima caiu, me apressei em enxugá-la. O moletom que eu o dera estava em cima da velha cômoda. O abracei sentindo o cheiro que o Vampiro Arrogante que eu amava deixou. Eu amava Cinco, esse era o real sentimento.

Sentir o quão importante sentimentalmente aquele objeto se tomou e me arrependi de ter pegado a foto da mulher que acreditava ser o amor de Tio Beto. Iria devolvê-la a ele.

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