Capítulo 22

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Fechei os olhos, suspirei. Eu tinha acabado de tomar a coragem de me cortar. Porém, a mão de Cinco deslizou delicadamente do meu braço até minha mão. Um arrepio subiu pela minha espinha. Abaixei a adaga e permitir que ele a apanhasse.

Meus olhos se abriram somente para deparar com o jade dos dele. Pensei ter visto sentimentos por mim perpassando por eles.

- I wanted to have your bravery, I'm a coward – murmurou e desviou seus olhos de mim para a adaga em sua posse.

Queria poder compreender o que ele dizia em Inglês, pois quando estamos em situações como essa, suas palavras soavam tão intensas.

- Venha – eu disse de forma suave.

Inclinei a cabeça de lado oferecendo o pescoço.

- Eu vou ficar bem – encorajei.

Seus olhos apresentaram os primeiros raios vermelhos. Então ele colocou a adaga num canto e suas presas se apossaram de meu pescoço. Meu corpo tombou com o agressivo movimento, me fazendo encostar na porta do Fusca. A dor era infernal. Mas eu era capaz de suportá-la se significasse que ele ficaria bem.

Aproveitei do momento para contemplar seu toque pelo meu corpo. Cinco se inclinava sobre mim, seus joelhos cercando minha perna, uma mão agarrando fortemente meu braço enquanto a outra deslizava por minha coxa de forma provocadora. Minhas mãos se atreveram por baixo de sua camisa, apreciando suas costas largas e firmes.

Então, de repente terminou. Ele ofegava, sua boca suja.

Cinco pegou meu rosto analisando-o, e ainda estávamos naquela posição embaraçosa. Encarou-me com um semblante aflito por um bom tempo.

- Eu estou bem – confirmei.

Eu não me sentir tonta como na outra vez. Só cansada. Conformado com o que viu voltou a assumir o banco do motorista, uma expressão pensativa permaneceu em sua face. Recostei-me no banco sentido as pálpebras pesadas.

Durante o percurso fiquei entre a consciência e a inconsciência, mas pude perceber o momento que chegamos em casa.

- Me dê suas chaves.

Eu não obedeci, abri a porta. Num piscar de olhos ele já tinha dado a volta ao redor do carro quando cambaleei.

- Espere! Você está fraca – disse enfurecido quando me segurou.

- Nem tanto. Acho que você tomou menos dessa vez.

- Eu tomei muito mais – disse, zangado.

Cinco arrancou a chaves de mim, eu não tinha condições de revidar. Segurando minha mão e agarrando minha cintura ele me ajudou a entrar no recinto e a subir as escadas.

Cai na cama e apaguei.

Ao abrir os olhos percebi que ainda era noite. O relógio digital na penteadeira indicava 00h05mim. Desenrolei-me e levantei. Eu estava com meu pijama de bolinhas, mas não me lembrava de tê-lo vestido. Cinco. A ideia dele me trocando era perturbante e ao mesmo tempo formidável.

Passei pelo quarto de tio Beto. Nada dele. O que será que ele ainda fazia tão tarde?

Desci as escadas. Meu coração deu um pulo quando vi Cinco na cozinha. Ele consertava a porta do armário quebrado há semanas.

- Já acordou?!

- Por quanto tempo fiquei dormindo?

- 35 minutos.

Sério que foi só isso? Eu estava completamente disposta. Não imaginava que ficaria bem tão rápido depois que ele bebeu tanto sangue quanto disse. Parecia que quanto mais meu corpo se machucava mais rápido se curava. Mas esse pensamento era ilógico.

Ele estava com a blusa de NY que havia me emprestado há um tempo. Isso me deixava um pouco triste, eu ainda queria dormir com ela viárias noites.

O som da máquina de lavar ecoava. Fui ao seu encontro. As roupas estavam em centrifugação e naquele exato momento a máquina tinha terminado o processo. Tirei as roupas dali e as estendi.

Quando retornei a cozinha ele tinha terminado com o armário e estava apoiado na pia, girando a adaga entre suas mãos.

- Então era por isso que queria aprender dirigir? Caçar corrompidos? – ele perguntou em tom repreendedor.

Acho que ele podia identificar de quem era aquele sangue pelo cheiro.

Balancei a cabeça negando.

- Era para espionar tio Beto. Ele sai às vezes a noite...

- E como isso aconteceu?

Ele passou o indicador pela lâmina suja de sangue seco e o esfregou no polegar.

- Eu vi... eu vi uma garota sendo atacada e não aguentei... Senti que tinha que fazer alguma coisa.

- Isso foi bastante co...

Ele começou a frase, mas pensou melhor e não a completou.

- E você o que estava fazendo? – perguntei.

- Você estava demorando, então eu estava indo te procurar.

Ele se preocupou comigo e eu quase o matei.

E a droga do carro estacionando na garagem fez toda a nossa conversa se desvair.

- Droga. E o Fusca?

- Já deixei na loja. É minha hora de ir.

- Não, você vem comigo.

O puxei pela mão, subindo silenciosamente os degraus em direção ao meu quarto.

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