Capítulo 14

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Capítulo 14

Jessie e eu tínhamos saído juntos três vezes nas últimas três semanas. Nos víamos quase todos os dias e estávamos mais próximos do que nunca. Estávamos tendo momentos extremamente agradáveis juntos e, claro, eu estava mais apaixonado por ela a cada dia que se passava. Ao final do nosso terceiro encontro, ela havia me dado razões para acreditar que o sentimento era recíproco. Tudo bem, foi apenas um singelo beijo no rosto, mas eu estava chegando à conclusão de que, talvez, meus esforços para conquistá-la estivessem sendo retribuídos.

Porém, apesar de todos esses fatos, eu estava convencido de que, quando a hora certa chegasse, eu iria saber. De que assim que surgisse o momento perfeito, eu saberia exatamente o que fazer. Eram esses os pensamentos que eu tinha até Matthew chegar e destruir tudo.

Posso dizer que Matthew, nesse caso, não foi um ser humano. Ele era um furacão. Literalmente.

Se você vivia em qualquer parte informatizada do mundo no final do ano de 2016, você certamente ouviu falar sobre Matthew, o furacão que devastou o Haiti deixando quase mil mortos e centenas de milhares desabrigados. Passou também pelo Caribe, deixando um grande estrago. Depois, veio direto para a Flórida.

Ainda me lembro de quando o então presidente Barack Obama declarou estado de emergência federal nos estados da Florida, Georgia e Carolina do Sul. As pessoas estavam aterrorizadas, muitas começaram a sair do estado tão logo souberam da tempestade que se aproximava. Rick Scott, então governador do estado da Flórida, decretou um toque de recolher para todos os cidadãos do estado, nos dias que antecederam a chegada do ciclone. As pessoas que moravam no litoral, considerada uma área de alto risco, foram orientadas a evacuar suas casas e procurar por para abrigos improvisados do governo, ou seguir em direção a outras cidades no interior do estado, onde a ameaça era menor.

O caos estava instaurado. As pessoas tinham medo de abandonar suas casas e não mais terem para onde voltar. As lojas e mercados estavam ficando sem suprimentos, os postos de gasolina sofriam com falta de combustível, as estradas estavam abarrotadas de carros daqueles que tentavam desesperadamente fugir da calamidade.

A chegada do furacão em Daytona Beach só estava prevista para o fim da semana, mas as autoridades locais, assim como os cidadãos, começaram as medidas preventivas dias antes. Os alunos de Embry-Riddle foram orientados a deixar o campus. Muitos foram para casas de parentes, outros, assim como eu, foram direcionados para abrigos provisórios, saindo da zona de risco.

Em meio a toda essa confusão, Jessie me ligou em uma quarta feira a tarde. Como não podíamos estar na rua depois das aulas, eu não tive como ir vê-la naquela semana, então nos comunicamos somente por telefone durante alguns dias. Ela me disse que estava indo para Nova York com Jenna e Amelia. Que iriam encontrar Jolene lá e esperar até que a tempestade passasse. James permaneceria no hospital, para ajudar os feridos quando o pior já tivesse passado.

Seus planos, porém, foram frustrados quando centenas de voos foram cancelados, inclusive o delas. Mais tarde naquele mesmo dia, ela me ligou novamente, quando estavam prestes a sair, de carro, em direção à Tallahassee.

- Vem com a gente, Sammy. Vamos ficar em um hotel lá até as coisas melhorarem em Daytona - ela disse. A angústia em sua voz era notável.

- Não dá... - respondi pesaroso - já estou a caminho de um dos abrigos para alunos da universidade. Tivemos de evacuar o campus às pressas.

Ouvi um breve suspiro e então ela continuou:

- Toma cuidado!

- Eu vou ficar bem - tranquilizei-a. - Se cuida, Jessie.

Nós ainda conversamos por mensagens de texto durante horas naquela noite, enquanto Jessie e sua família viajavam rumo à capital do estado. Ela tinha a tarefa de ficar acordada e garantir que seu pai, que estava dirigindo, fizesse o mesmo. E eu precisava de uma distração. O clima no abrigo não era dos melhores, então me esforçava para pensar em outras coisas.

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