Eu nunca beijei ninguém de verdade.

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— Eu posso deixar que treine, Camila. — A treinadora Fields disse me encarando seriamente.

Ela ainda não havia superado o fato de eu ser péssima aluna.

— Mas só poderá participar do campeonato se passar nas provas.

— Pra mim é o suficiente, e eu estou me esforçando. — Disse ajeitando minha toca de plástico.

Ela assentiu respirando fundo e me deu as chaves do ginásio, com instruções detalhadas sobre como trancar tudo depois de sair. Mergulhei na piscina olímpica sentindo um arrepio em todo o corpo. Estar na água era a minha forma de escape dos problemas cotidianos. Sem pais brigando o tempo todo, sem irmãzinha para se preocupar. Sem namorado e amigas falsas para me encherem o saco. Era só eu, Camila. Todas aquelas vozes na minha cabeça estavam começando a me enlouquecer. E ainda havia Lauren, eu precisava mesmo me desculpas com ela. Havia sido uma verdadeira vaca com ela na tarde passada. Mas então, continuei nadando por horas até perceber que já começava a escurecer do lado de fora. Saí da piscina direto para tomar uma ducha. Vesti meu conjunto de moletom com o brasão do colégio e dirigi para casa, torcerndo lara receber uma mensagem de um alguém qualquer me convidando para sair, assim não teria de encontrar meus pais, porém, aquele não era o meu dia. Estacionei meu novo carro na garagem e entrei em casa respirando fundo. Até o ar parecia mais pesado ali.

— Estou em casa! — Cantarolei largando minhas chaves e bolsa na mesinha de centro.

— Karla? — Ouvi os saltos da minha mãe batendo contra o mármore, sua voz soava ansiosa, mas não do tipo bom.

— Tudo bem? — Franzi o cenho.

— Cadê o seu pai? Ele disse que ia te buscar no colégio! — Ela cruzou os braços já perdendo a paciência.

Era só o que me faltava, e eu sequer estava surpresa. Meu pai sempre mentia para minha mãe e saía fazer sei lá o quê. Se estavam tão mal, por que não pediam o divórcio de uma vez?

— Acho que nos desencontramos. — Dei de ombros.

Ela simplesmente pegou as chaves do meu carro e saiu batendo a porta. Ótimo, mais um dia normal e feliz na casa dos Cabello. Bufei e subir as escadas procurando por minha irmãzinha, ela dormia tranquilamente em seu quarto, os cabelos molhados cobriam seu rosto e ela estava encolhida. Poxa mãe, você já foi melhor! Peguei um cobertor e afastei os cabelos de seus olhos. Fechei a porta do quarto suspirando e fui para o meu. Tomei outro banho para tirar de vez todo o cheiro de cloro do corpo e lavei meu cabelo, quando saí pude ouvir a porta da casa batendo com força e toda a gritaria começar. Será que eles não se tocavam? Se não por mim, pelo menos por Sofia. Coloquei minha calça cor-de-rosa do pijama e uma blusinha regata preta, sem os sutiãs, era um alívio me livrar deles. Penteei os cabelos enquanto ouvia cada palavra de difamação um do outro.

Por que você está mentindo, Alejandro? — Minha mae gritava.

Não estou mentindo, Sinuhe. Precisei passar no escritório. — Meu pai tentava manter a voz controlada.

Eu sei que você tem outra família! Fala de uma vez!

Então eu saí do quarto, esperando pela resposta do meu pai. Não posso mentir e dizer que não desconfiava de uma traição, mas seria tão mais simples se ele dissesse. Às vezes a verdade pode doer, mas ela também liberta.

Eu não tenho outra família, quantas vezes vou ter que dizer? — Ele esbravejou irritado.

A campanhia começou a tocar fazendo com que eles abaixassem o tom, mas ainda estavam discutindo.

Conqueror  G!POnde histórias criam vida. Descubra agora