Você se importa se eu te tocar lá?

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Encaro o teto branco acima de mim. O abajur faz com que sombras irregulares enfeitem a minha visão, mesmo que esteja embaçada já que não estou com os óculos.

Preciso manter meu corpo preso à cama sabendo que Camila está no quarto ao lado do meu. O impulso para ir até lá é grande e quase impossível de suportar, mas me mantenho firme.

Agora há milhares de perguntas rondando a minha mente, parte delas são sobre o porquê de seus pais brigarem tanto, e outra parte são sobre o que vai acontecer quando formos ao colégio amanhã. O que vai acontecer quando Camila passar no teste de química? Vamos continuar nos vendo ainda assim? Porque agora não teremos mais nada em comum.

A ideia me assusta mais do que deveria, eu estou ciente de que me deixei levar por ela, mesmo sabendo que isto não deveria ter acontecido. E tenho medo que Camila rejeite o meu coração, como Alexa disse.

Eu sou mesmo muito estúpida.

Remexo o corpo mais uma vez na cama e soco o travesseiro, tentando fazê-lo ficar mais confortável, mesmo sabendo que não é isto o que me incomoda. Então, deslizo para fora da cama e toco o chão frio com as pontas dos dedos. Caminho lentamente até a porta e a abro, verificando se o corredor está vazio. Mas só o que vejo é escuridão, e a sombra que vaza da janela pela escadaria.

Tateio a parede para seguir meu caminho até a porta à minha direita.

─ Puta que pariu! ─ Ouço a familiar voz forte de Camila enquanto sua mão toca a minha.

─ O que você está fazendo? ─ Pergunto num sussurro, tentando encontrar o calo do seu corpo.

Ela agarra minha mão com força e eu a puxo para o meu quarto, alcançando o interruptor ao lado da escrivaninha.

A latina fecha os olhos com força devido à claridade e me encara em seguida. Os cabelos castanhos estão desgrenhados e os pés descalços.

─ Estava vindo falar com você. ─ Ela responde. ─ E você?

Engulo a bile e me afasto sentando em minha cama bagunçada.

─ O mesmo. ─ Sorrio fraco.

Camila assente e vem para o meu lado.

─ Você está bem? ─ Pergunto analisando todo o seu rosto. Vejo quando uma sombra de tristeza e confusão passar por todos os seus traços, em seguida, ela força um sorriso.

─ O quanto posso estar. ─ Ela dá de ombros. ─ Meus pais... Estão me deixando maluca.

Camila suspira e eu seguro sua mão.

─ Vai ficar tudo bem, Camz. ─ Digo com certeza. Ainda me lembro de ouvir meus pais discutindo no meio da noite, porque talvez eles achassem que eu não ouviria, e já era bastante horrível quando tentavam esconder.

Ela sorri mais uma vez e me encara.

─ Aconteceu uma coisa estranha lá embaixo com a sua mãe. – Diz.

Franzo o cenho imaginando se minha mãe havia a ameaçado caso me tratasse mal. Seria muito do feitio dela mesmo.

─ Que coisa? ─ Viro meu corpo de frente para a latina, ficando na posição de índio.

Camila balança a cabeça.

─ Ela disse que minha mãe é uma boa pessoa, tipo, como se soubesse do que estava falando.

Penso à respeito, minha mãe e Sinuhe nem eram tão próximas assim. Mas trabalharam juntas por algum anos, quando meus pais ainda eram donos da empresa.

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