Plaquinhas.

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A primeira vez em que eu tive ciência de que era diferente foi aos nove anos. Eu queria fazer uma festa de aniversário na piscina porque era aquilo que estava na moda.

Meus pais disseram que eu não poderia e aquela foi a primeira vez em que eu tive uma conversa séria com eles.

Meu pai me explicou que eu era semelhante à ele em algum ponto do meu corpo e eu franzi o cenho, não sabendo o que aquilo significava. Quando percebi o que significava, eu chorei por três dias seguidos e não fui à igreja ao domingo, porque eu temia que tivesse sido castigada por algo que eu não fizera.

Meus colegas não entenderam muito bem porque eu não quis comemorar aquele aniversário e aos poucos eles foram desaparecendo, ou eu fui os abandonando. Não parece ter tanta diferença agora.

Mas então, por que me diziam que eu era mulher se tinha um pênis?

Minha mãe disse que meus hormônios eram todos femininos, e as pílulas que eu tomava o tempo todo eram para equilibrar esta linha tênue entre ambos os gêneros.

Eu pedi para ir ao médico, e eu perguntei se poderia reverter isto. E resposta fora um grande e sonoro não. O doutor não entendia muito bem porque de repente eu queria escolher entre os dois, acho que ele nunca esteve no ensino médio, de qualquer forma.

Minha mente me trouxe de volta à realidade quando eu ouvi a voz de Dinah e Alexa do outro lado da porta.

Fechei os olhos com força, finalizando meu segundo banho naquele dia.

"Você não precisa se envergonhar de nada". Fora o que Camila dissera, mas eu suspeitava que ela estivesse mentindo.

— Já vou. — Tentei dizer para as garotas, mas minha voz parecia estar sendo arranhada num disco velho.

Sequei meu corpo rapidamente e coloquei a calça de moletom e a camiseta vermelha.

—Por que você está com essa cara? —Dinah perguntou quando me viu abrir a porta do banheiro.

Revirei os olhos para ela e fui até a cama organizada com uma bandeja e dois pratos de comida.

Que merda Camila!

— Está esperando alguém? – Alexa perguntou desta vez, semicerrando os olhos.

— Estou resfriada. Achei que seria bom comer um pouco.— Dei de ombros, fungando o nariz.

— Cara, pegou pena de morte? — Dinah riu, balançando a cabeça enquanto ligava minha TV.

Alexa cedeu e sentou-se ao meu lado, pronta para me dar um beijo. Eu tentei inutilmente não me esquivar, mas fora impossível.

— Não quero que fique gripada. — Menti terrivelmente.

Ela forçou um sorriso e então me abraçou enquanto eu comia o almoço.

[...]

Camila POV.

O meu primeiro beijo aconteceu aos treze anos de idade, naquela época eu já começara a perceber que passava tempo demais admirando garotas mais velhas, mas não como se fossem mais bonitas do que eu, não. Como se as desejasse.

Tinha essa garota, ela estava na oitava série e usava roupas estranhamente largas e seu cabelo loiro batia na orelha. Os olhos verdes dela me fascinavam.

Nós nos tornamos amigas em algum momento, e passávamos muito tempo juntas. Então, eu fui para sua casa em uma tarde depois do colégio, e nós jogávamos God Of War, quando ela pediu que eu a acompanhasse até seu quarto, para ver o novo disco que ela havia comprado da One Direction.

Conqueror  G!POnde histórias criam vida. Descubra agora