Euforia.

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No meu primeiro dia de aula no ensino fundamental, eu tinha seis anos e um pouco mais de discernimento do que as outras crianças da minha idade. Eu era diferente e sabia disso, então minha mãe me passou uma lista pequena, com coisas que eu deveria lembrar sobre mim mesma:

1 - Não ir ao banheiro acompanhada.
2 - Evitar os esportes com bola se eu não quisesse me machucar.
3 - Não deixar que as demais crianças soubessem que eu era diferente.

Até o momento, todas as normas haviam funcionado bem. Mas agora elas já não valiam.

E preciso dizer que não era muito interessante ser exposta para todo o colégio. Meus pais já haviam sido comunicados, assim como os pais de Camila, que não pareciam muito preocupados com o assunto.

Minha mãe, por outro lado, estava desempenhando muito bem o papel materno, por ela e por Sinuhe. Ela já havia ameaçado processar o colégio mais de três vezes.

O meu pai não havia dado as caras, o que não era nenhuma surpresa. Mas aquela pontinha de esperança ainda crescia em mim.

— Controle-se, senhora Jauregui. — A treinadora Fields estava parada no canto da sala, pacificando a briga entre minha mãe e o conselho da escola. — A direitora Moe já disse que identificou os responsáveis pela exposição.

— Sim. — A diretora assumiu. — Cabello e Jane apresentaram provas sobre Jessica Sanderson e Harry Collins.

Minha mãe se calou por um segundo. E eu permaneci afundada sobre a cadeira estofada.

Como Camila e Dinah haviam conseguido provas? E quais tipos de provas?

— Então, eu posso processar alguém finalmente? — Minha mãe explodiu novamente, cansado a todos com seu ataque de nervos. — A minha filha foi exposta, assim como a filha de outras pessoas. Vocês vão só cruzar os braços?

Cutuquei o cotovelo dela por debaixo do blaser grosso.

— Não, senhora Jauregui. A decisão cabe à vocês. A senhorita Cabello não quis se pronunciar sobre qualquer punição e deixou que você decidisse. — A diretora Moe me encarou com as sobrancelhas arqueadas e grossas. Sua voz demonstrava algo mais profundo do que o que ela realmente estava dizendo.

— A Camila não disse nada? — Perguntei mais uma vez, mais para mim mesma.

Minha mãe me encarou com os olhos verdes ligeiros de sempre.

— Eu não quero processa-los, mãe — Disse prontamente, eu deveria estar com raiva, mas eu estava longe de me sentir assim. Eu só não queria que as pessoas me julgassem por ser diferente. —, quero que se desculpem com Camila e eu. E que os vídeos sumam da internet.

— Já cuidamos disso, senhorita Jauregui. E também instalamos políticas anti-bullying. Nada mais passará despercebido neste colégio!

— Eu quero a expulsão dos alunos! — Minha mãe interrompeu novamente. — Minha filha escolheu não abrir um processo, mas eu como mãe, os quero o mais longe possível de Lauren.

Ela trincou o maxilar, parecendo mais brava do que realmente era. E por alguns segundos eu pude entender toda a sua fúria. Ela só queria me proteger.

— Entendo. — A senhora Moe disse suspirando, enquanto massageava as têmporas.

Acho que estava de saco cheio das reclamações da minha mãe, e certamente ela não gostaria de ter problemas com uma juíza.

— Espero que isso seja tudo. — Minha mãe disse, levantando-se da cadeira e me puxando junto.

A senhora Moe nem mesmo se deu ao luxo de nos conduzir até a porta ou se despedir. Do lado de fora da sala, os pais de Jessica juntamente da filha, esperavam para ser atendidos com feições nada boas.

Conqueror  G!POnde histórias criam vida. Descubra agora