A Audiência Final

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Pov Narrador

15:30h – 07/01/2017 – Seul

Ano novo, vida nova. Todos os anos o mesmo acontece. O vento leva sempre o ano que passou com as suas aventuras e trás consigo um ano novo em folha cheio de viagens novas, peripécias novas; novos amores e, até, desamores. Com esta mudança pode acontecer qualquer coisa: podemos ganhar a lotaria, conhecer o amor da nossa vida, podemos viajar pela Europa toda, ou então só temos que levar com o divórcio dos nossos pais.

Este último era o caso de um jovem de quinze anos chamado Luhan. Desde que este começou o secundário, que os pais estão em processo de divórcio e isso afeta-o mais na escola do que aquilo que ele pensara meses antes. Por mais que odiasse as discussões que já há seis meses se têm tornado constantes na sua sala a partir da hora em que ele vai para o quarto, ele ainda queria que os seus pais estivessem juntos. Porém, agora, já não há nada a fazer. A partir de hoje, os seus pais estariam livres um do outro e ele descobriria com quem iria morar.

Esse era outro motivo para o nervosismo de Luhan. Ele ainda não sabia com quem iria viver. A sua mãe não tinha uma casa para onde ir depois de pedir o divórcio ao seu pai, tendo vivido o último mês num quarto de hotel por conta disso, mas o seu pai tem uma longa história no mundo da droga. Ele acredita que passaria a viver com a sua mãe, mas a pergunta que o assombra há mais de um mês é só uma: onde?

No dia da audiência final, o rapaz encontrava-se à porta do tribunal com um fato azul-escuro que contrastava com a sua gravata vermelho-vivo. Ele ajeitava os seus cabelos loiros enquanto esperava pelo seu melhor amigo, atrasado como é hábito. Durante a sua espera, eis que chega o seu pai e vem cumprimentá-lo.

– Olá, meu campeão! Já não te via desde o Natal! - o homem relembra o filho, atirando-lhe subtilmente à cara a forma como ele abandonou a família. Luhan conhece o pai bem demais.

– Oi, appa! Podias ter-me visto. Há quanto tempo é que não falas com a tia Sooyoung? - pergunta Lu o mais cordial possível.

– Desde de que ela decidiu ficar de acordo com a tua mãe por causa dos meus “negócios”. - cospe o pai do jovem rispidamente, fazendo aspas com os dedos.

Esses malditos “negócios” têm sido a desgraça da família Lu desde março do ano passado. No início, a mãe do loiro ainda tentava superar a situação e tenter fazer o pai do menino sair dessa vida, mas, quando esta percebeu que o marido só se queria afundar mais e mais nessa vida, o céu adquiriu um tom cinzento. As discussões começaram e, numa certa ressaca, as agressões também. Essa foi a gota de água para a mulher pedir o divórcio. No meio destes acontecimentos, Luhan, por stress, fugiu para casa da sua tia, onde tem vivido desde o início de setembro.

Durante a conversa, o mais baixo sente os olhos serem cobertos por duas mãos. Ele leva as suas mãos a essas e logo percebe de quem se trata. Aquela pele macia e suave não deixa duvidas.

– Ya! Bem podes tirar daí essas mãos, princesa. - diz e o seu pai ri.

– Bolas! Tu descobres-me sempre. - protesta a figura portadora das melhores mãos em que Luhan já havia tocado.

Zhang Yixing, o seu melhor amigo, havia acabado de chegar para lhe fazer companhia durante a audiência. Quer fossem bons ou maus os momentos, o loiro sabia que podia contar com o outro para os enfrentar.

Desde que se conhecem, Luhan não se lembra de um marco importante da sua vida que não tivesse partilhado com Yixing.

Quando o Lu caiu da bicicleta, o Zhang estava lá a pôr-lhe o penso no joelho; o moreno estava lá quando o Luhan chorou a noite inteira porque o seu hamster tinha sido comido pelo gato do vizinho quando o loiro tinha apenas sete anos; o seu melhor amigo até tinha lá estado no seu primeiro beijo.

Controvérsias RuraisOnde histórias criam vida. Descubra agora