30/12
Subúrbios de Daegu
Coreia do Sul
Estava horrivelmente frio naquele dia. As festas de fim de ano já haviam começado, mesmo durante aquela terrível nevasca que estava engolindo a nação. Meus pezinhos estavam afundando abaixo de uma grossa camada de neve, e eu já sentia o gelo derreter e molhar minhas meias, mesmo meus pés escondidos dentro de dois pares de meias de algodão e uma bota que era grande demais para mim. Graças aos céus meus dois casacos de lã grossa e um suéter um pouco mais fino do mesmo material e as duas calças de moletom que eu estava usando me aqueciam bem, além das luvas. Eu era muita agradecido ao Jin hyung, que era quem me doava elas, já que meus pais eram muito mão-fechada comigo.
Na realidade, a minha mãe era até bem sensível comigo, só que raramente demonstrava por causa de meu pai, que dizia que sempre que ela era gentil comigo, ela estava me mimando e me pondo no caminho errado. Então nós dois éramos repreendidos. É por isso que eu tenho um certo rancor do meu pai. E também medo dele. Ele bebe muito depois do trabalho, e quando volta minha mãe me manda imediatamente pro meu quarto, por algum motivo. E eu só consigo ouvir ele gritando por alguma razão que não dá pra saber qual.
Eu suspirei e ajeitei minha mochila nas costas, me preparando para ir pra casa depois de ter comprado um espetinho de carneiro para ir comendo no caminho. Eu não estava com pressa alguma apesar de estar terrivelmente frio. Andava devagar e sempre pegava os caminhos mais longos para ir.
Quando finalmente consegui entrar num lugar sem neve mas com uma fina camada de gelo extremamente escorregadia um movimento capturou minha atenção. Olhei para o lado e vi a cauda de um gato se escondendo entre várias caixas de papelão. Eu suspirei e continuei o meu caminho, até que ouvi um soluço baixinho vindo das mesmas caixas. Curioso dessa vez, fui até lá.
Ao puxar uma das caixas, um miado assustado junto com mais um movimento se deu, dessa vez para embaixo de uma caixa maior do que as outras.
- Calma, gatinho, eu não vou te machucar... - Eu tentei chamá-lo fazendo sons, mas a caixa não saía do lugar, além dos soluços terem ficado mais fortes, se tornando um choro mesmo. Aquilo me intrigou, e eu fui para perto daquela caixa, a abrindo lentamente.
Dentro daquela caixa, havia um garotinho coberto por apenas um trapo sujo de pano, que estava tremendo de frio e chorando muito. Senti meu coração se despedaçar com a cena, mas quando eu entrei na caixa ele se afastou se encolhendo, e eu ouvi outro miado.
- Ei... calminha.- Eu fui me aproximando aos poucos, com receio de assustá-lo. - Você deve estar com fome e frio... e o seu gatinho também. - Eu disse por ter certeza que ele estava com um gato.
Mas quando puxei aquele pedaço imundo de pano dele, tive uma surpresa.
O gato era ele.
Era um híbrido, com certeza. Mesmo com os projetos de hibridismo do mundo terem sidos, supostamente, extintos. Por isso ver aquele ser ali me deixou assustado e curioso ao mesmo tempo.
Ele parecia ter uns 4 ou 5 anos apenas, tinha bochechas rosadas embora magras por causa da má nutrição dele, possuía olhos dourado-mel com pupilas alongadas, exatamente como um gato, mesmo. Seus cabelos ou pelos... enfim, eram de um tom um pouco mais claro que seus olhos, mas do mesmo dourado-mel.
- ...Gatinho? - Eu arrisquei. Ele se encolheu mais e continuou chorando. Com o coração em pedaços, eu retirei uma de minhas jaquetas, a mais grossa e fui pôr nele. Ele se encolheu e escondeu o rosto na hora.
- Nhaum machuca o Taetae! - Ele gritou numa clara voz de bebê, mas com o "não" parecendo um miado. Com certeza ele deve ter sofrido muito nas mãos dos marginais para reagir assim. Eu suspirei e pus a jaqueta encima dele com muito cuidado para não machucar seu corpinho frágil, e ele me olhou com as pupilas arredondadas agora.
- Eu não vou te machucar, Gatinho... - Eu estendi o meu ainda inteiro espeto de carneiro para ele, e ele encarou avaliando se devia pegar ou não. Eu retirei um pedacinho de carne de o ofereci. - Pode comer, não tem nada nele... e você precisa mais do que eu.
Ele olhou o pedaço de carne e abriu a boca, e eu pus o pedacinho de carne nela. Ele mastigou com gosto, até fechou os olhinhos para apreciar o sabor. Eu sorri ao ver aquela criaturinha tão delicada.
- Mais? - Eu ofereci. Ele imediatamente assentiu, e quando eu menos esperava, ele pegou o espetinho da minha mão e devorou tudo num segundo, soltando um suspiro pesado de satisfação.
- Obigada, moxu... - Ele disse fungando e logo depois espirrando. Eu ri e acariciei seus cabelos (ou pelos...).
- Moço, não. Eu tenho apenas 7 anos. - Eu ri. - E você, tem quantos?
- Taetae tem quato aninhos! - Ele sorriu quadrado, revelando seus dentinhos afiados. Eu me segurei para não apertá-lo.
- Seu nome é Taetae? - Eu peruntei, o encarando. Ele assentiu.
- Na vedade, o nome do Taetae é Kim Taeyung. Mai todo mundo sama o Taetae de Taetae. - Ele fez um biquinho fofo.
- Kim Taeyung?
- Não, num é Kim Taeyung. É Kim Taeyung. - Eu só consegui imaginar que deveria ser "Taehyung", porque ele claramente tinha dificuldade de fazer alguns sons.- E o moço, como sama?
Eu ri do jeitinho fofo que ele falava.
- Não sou um moço ainda, Taehyung. - Eu vi ele sorrindo e só pude pressupor que era realmente esse o nome dele.- Meu nome é Yoongi.
- Yoonie? Yoonie é nome de menina. - Ele inflou as bochechas, me fazendo rir.
- Yoongi. Tente dizer.- Eu fui o ensinando até ele falar certo.
- Entom Yoongi é hyung do Taetae! - Ele sorriu fofo, mas fez uma careta ao mesmo tempo que sua barriga roncou.
- Ainda está com fome... - Eu ponderei por um momento na possibilidade de levá-lo comigo. - Taetae... você tem casa?
Ele apontou para a caixa, e eu pude constatar que ele estava abandonado.
Honestamente, não sei que tipo de pessoa seria cruel o suficiente para abandonar uma criaturinha dessas na rua. Exceto meu pai porque ele seria sim. Mas para mim já era difícil ver um gato na rua, que dirá mais uma criança de 4 anos! Eu soltei um suspiro.
- Taetae, vem cá.- Eu me levantei e tirei a caixa de cima de nós. O híbrido veio engatinhando até mim. - Eu vou te levar pra casa.
- Mai Taetae zá tem casa. - Ele fez um bico olhando pra caixa. Eu suspirei novamente e o peguei no colo, me surpreendendo em como ele era leve para uma pessoa da idade dele.
- Para a minha casa. Você vai morar comigo. - Eu sorri e ele arregalou os olhinhos, brilhando.
- Y-Yoongi hyung tá falano sério? Taetae vai molar numa casa de vedade? - Eu assenti e ele me abraçou. - Obigada, Yoongi hyung...
- De nada, Taetae...- Eu sorri me segurando para não chorar junto.
Foi assim que eu adotei meu gatinho.
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Kitten? (myg + kth)
FanfictionEle estava abandonado. Ele não sabia sequer falar. Eu o trouxe comigo, e isso mudou completamente meu modo de viver. Para melhor. -Mestre? O que está escrevendo? -Gatinho? [Também disponível no Spirit]