O Fim

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Fazia exatamente 3 meses que Taehyung havia saído da casa de Jin hyung. Nesse meio tempo, consegui comprar uma casa para mim. Era simples e faltava um tanto de coisas, mas dava para morar tranquilo.

Continuei indo à escola, mas me escondia sempre que via Taehyung. Ele parecia acabado... Várias vezes apareceu ferido e sujo na escola... Os cabelos outrora sedosos estavam parecendo um ninho de ratos, e profundos arcos negros haviam se formado embaixo de seus olhos, que sempre estavam inchados e vermelhos pela falta de sono e por chorar. Ver ele naquele estado deplorável me doía... Porque eu o amava... Mas o que ele fez comigo doeu ainda mais.

Finalmente, o ano estava acabando, e eu planejava fazer uma faculdade, pois agora que não tinha nada pra me preocupar; eu podia.

Na verdade, minha única preocupação era meu cachorro, Min Holly. Eu o havia adotado porque sentia falta de ter um bichinho, porém não queria gatos. Não mais. Mas Holly era inteligente, e eu sempre podia contar com Jin hyung. Minha vida sem Taehyung, embora triste e meio monótona, era suficiente para tentar voltar ao normal.

Sexta à noite.

Estava frio porque o inverno novamente havia começado. Chovia levemente do lado de fora, e uma brisa gelada fazia todos se encolherem até os ossos dentro de seus agasalhos. Alguns flocos de neve caíam vagarosamente, fazendo uma fina camada de gelo se formar no chão.

Eu estava encolhido no sofá vendo um filme qualquer. Me sentia mal... Não pelo frio. Era que... Eu achei Taehyung num inverno. Abandonado, morrendo de frio e fome. Ainda era uma criança quando o encontrei. E pensar que ele não estava aqui comigo agora... Isso fazia meu coração se dilacerar em milhões de pedacinhos. Tudo o que eu queria era sentir o calor do corpo de Taehyung junto ao meu... A leve respiração dele em meu peito... O leve ronronar que ele soltava quando estava comigo... O brilho feliz em seus olhos cor de mel...

Quando notei, já estava chorando. Eu sentia tanta falta dele...

Holly pulou no sofá e me encarou como se perguntando o que estava acontecendo. Eu apenas solucei mais. Por mais que eu amasse Holly, fui um tolo ao imaginar que ele substutuiria Taehyung...

- Desculpa o papai, Holly... - choraminguei pegando o cão no colo e o acariciando. - Aaah... Queria que você tivesse conhecido o Taetae... Ele teria sido uma ótima companhia pra você. Senão um padrasto maravilhoso.

Holly pareceu se compadecer de mim e ficou quietinho no meu colo, de cabeça e orelhas abaixadas.

Olhei para o meu celular na mesinha de centro. Queria muito ouvir a voz de Taehyung...

Porém ao pegar o celular, desabei chorando novamente. As fotos da tela de bloqueio e da principal tinham como papel de parede fotos de Taehyung que eu mesmo havia tirado... Uma dele dormindo e outra dele sorrindo enquanto abraçava uma de suas pelúcias.

Eu tirava fotos de Taehyung sempre que podia... Era um dos meus hobbies favoritos. Eu tinha uma pasta enorme cheia de fotos dele, fora as do meu computador. E os dois monitores do meu estúdio tinham como papel de parede edições de fotos de Taehyung. E também havia várias fotos reveladas dele... Que eu pendurava num varal. O meu quarto era uma fusão dos quartos em que eu e Taehyung ficávamos. As paredes eram em preto e branco, mas as paredes brancas tinham cerejeiras floridas. Taehyung adorava cerejeiras. Minha cama vivia coberta com o lençol favorito dele, e as pelúcias dele estavam todas em minha cama, ainda com o delicado aroma de Taehyung neles. Aquilo era uma tortura... Mas era a única maneira de eu me lembrar de Taehyung.

Não sei exatamente quando dormi. Só me lembrava do sonho que tive.

Eu estava numa banheira... A água quente me fazia relaxar naquele frio, e o vapor subia. Mas isso era o de menos... Taehyung estava deitado em meu peito. Parecia tranquilo... Como se nada tivesse acontecido entre nós dois.

- Taehyung...? - eu perguntei, o erguendo levemente para olhar para mim. Ele parecia exatamente como da última vez... Sorrindo, bonito, os cabelos sedosos... A única diferença era a cor de seus olhos e do cabelo. Os cabelos dele estavam cinzentos, e os olhos num estranho tom castanho azulado. Mas ele era o meu Taehyung. Eu sabia que era.

- Hyung... - ele disse num tom triste e desesperado, totalmente diferente de sua face sorridente. - Acorde... Hyung...

Eu não sabia o que fazer. Em horror, vi o rosto dele ir ficando pálido e cheio de feridas... E não podia fazer nada. Mas o sorriso continuou.

- Tae?! O que está acontecendo?! - tentei dizer, em pânico. Mas ele nada fez.

- Hyung... Eu te amo... - vi lágrimas brotarem no canto dos olhos dele. - hyung.. SOCORRO!!!

Foi a última coisa que ele disse antes de cair morto em meu colo.

Acordei suando frio, e pelos latidos de Holly, soube que estava gritando. Porém, de uma coisa eu sabia: Taehyung estava em perigo. Eu sentia isso.

Num ato de desespero, peguei meu celular para ligar para Jungkook. Porém ele foi mais rápido: na tela, o nome dele piscava repetidamente. Atendi num movimento rápido, nem mesmo sabendo o que dizer.

- Jungkook...? - eu disse ofegante.

- Hyung...

Pelo tom de voz dele, soube que ele estava chorando.

- Jungkook...? O que aconteceu? - perguntei, temendo o pior. Jungkook fungou.

- É o Taehyung... Ele sumiu.

Por alguns momentos, senti meu mundo desabar.

- Mas... Ele não estava na sua casa?!

- Era isso o que eu queria dizer, hyung... - ele soluçou. - Eu não posso... Ficar com ele. Meus pais não deixam.

Eu gelei. Taehyung estava novamente nas ruas.

- Jungkook... Pegue roupas de frio. Vamos sair agora. - foi tudo o que eu disse antes de pegar as chaves do carro que eu ganhei (sim eu tinha ganhado um carro de presente de aniversário, e daí?) e corri para a casa de Jungkook numa velocidade perigosa demais para uma pista congelada.

Eu sabia onde ele estava. Só havia um lugar para onde Taehyung iria numa situação assim.

Para a plataforma de petróleo abandonada, que há muito retirou todas as reservas de petróleo abaixo de um lago enorme.

Eu o levava lá às vezes... Ele sempre gostou muito de ficar em contato com a natureza, e aquele lugar era um dos favoritos dele. O único problema... É que ficava perto da minha antiga casa. O lugar onde Taehyung viu a morte pela primeira vez.

Desde que abandonei aquele lugar, a casa havia se tornado um cenário bizarro e melancólico, além de um tanto mórbido: paredes mofadas e quebradas pelo tempo, chão escurecido pela sujeira dos anos, telhas quebradas e encardidas pelas chuvas... Enfim, algo terrível, além do terrível cheiro de mofo. Os policiais encontraram o corpo do meu pai e tudo lá, porém... Eu nunca fui suspeito. Acho que de alguma maneira Chaerin, minha irmã, conseguiu me livrar disso.

Mas Taehyung... Eu nunca o imaginei indo até aquele lugar para isso... Mas precisava socorrê-lo a qualquer custo. Ele foi a única pessoa que eu amei de verdade. Não ia desistir dele assim. Não pela segunda vez.

Porém... Ao chegar lá era tarde demais.

Com a vista embaçada pelas lágrimas, vi Taehyung se erguer na última torre da plataforma... A mais alta...

Meu grito foi reprimido no momento em que ele simplesmente despencou de lá.

Minha vida havia acabado.

Kitten? (myg + kth)Onde histórias criam vida. Descubra agora