7 - Dardos e beijos

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Acompanha o capítulo a canção Ciego - Reik

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Altagracia estava abatida. Foram longas horas ao lado da filha doente. Somente a deixou porque realmente viu que ela estava bem. Mas avisou a Carolina que estaria lá no dia seguinte à primeira hora. Isabel era seu tesouro. A pessoa que lhe deu forças para seguir em frente depois do desamor e das perdas. E, além de tudo, era fruto do amor. Do amor que, ao menos da parte dela havia sido infinitamente sincero. E era bonito que um amor como aquele, tão intenso, tenha tido continuidade em uma filha. Era incrível, Isabel apenas começava a balbuciar suas primeiras palavras, há pouco havia dado seus primeiros passos e ocupava toda a mente e o coração de Altagracia. Ela queria um futuro para a criança, se preocupava pelas convenções da sociedade e pelos preconceitos dos quais ela podia ser vítima. Por isso também não considerava separar-se de Saúl.

Naquele momento ela entendeu a atitude dele de reclamar-lhe, ela havia estado muitas horas longe de casa, chegado tarde da noite, mas não podia dizer-lhe a verdade, não queria.

_ Vamos, Altagracia, não fique calada! Onde estiveste durante toda a tarde e a noite?

_ Eu tive um compromisso importante...

_ Por favor! Compromisso... – repetiu ele cínico – Eu vi quando saíste desta casa correndo e entrastes na carruagem. Estavas aflita como se tivesses algo urgente para fazer.

Saúl não podia disfarçar sua alteração. Ainda mais ao dar-se conta que Altagracia não tinha intenção de dizer-lhe a verdade.

_ Sim, era algo urgente. Graças a Deus está tudo resolvido e eu pude chegar em casa. Estou muito cansada. Vou preparar um banho e descansar porque amanhã preciso sair muito cedo.

Disse Altagracia começando a caminhar e ameaçando passar por Saúl que a deteve segurando-a fortemente pelo braço.

_ Não vais a lugar nenhum antes de me dizer onde estiveste, Doña! – ele gritou

_ Por favor, Saúl, solte-me! – disse puxando o braço e soltando-se dele – Abaixes a voz, estás louco? Queres que todos saibam as verdadeiras condições de nosso casamento?

_ Todos? – Ele repetiu esboçando um sorriso – Que todos? Todos estão dormindo nesta maldita casa! A distância para os vizinhos é imensa. Ou não te destes conta que passa das 11 da noite?

_ Eu peço desculpas. – Altagracia tentou abrandar o seu tom. – De fato me envolvi demais no meu compromisso. Não devia ter chegado a essa hora. Ainda mais que amanhã, já sabes, temos uma reunião com alguns amigos.

_ Que vá para o inferno! – gritou Saúl descontrolado. – Que vá para o inferno essa maldita reunião, quem quer saber de festas numa hora dessas?

_ Ora, Saúl... Entre nós quem mais se encantava por esses eventos sociais típicos de pessoas ricas eras tu. Inclusive essa reunião eu estou fazendo para agradar ao meu marido e ao estilo de vida que ele tanto ambicionou. Eu nunca me iludi con a pompa dos salões.

Altagracia às vezes desfrutava de humilhar a Saúl e deixar claro quais eram suas condições dentro daquele casamento. Nos momentos que ela mencionava, mesmo que de maneira velada, cada um de seus defeitos ele se sentia o pior dos homens. Era nesse momento que ela se mostrava mais altiva e inalcançável para ele e isso o desesperava.

_ Até quando, Altagracia? – Ele voltou a gritar – Até quando vais me humilhar e atirar em minha face os meus muitos defeitos? Eu já sei que fui um néscio e te magoei. E não consigo me perdoar por isso. Mas será que tu... – se aproximou dela e a segurou pelos braços surpreendendo-a – Será que tu nunca vais conseguir deixar de me ver com tanta mágoa?

Casamento ArranjadoOnde histórias criam vida. Descubra agora