18 - Ultimo beijo (+18)

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Canção Manías - Thalía.

***

Quando os olhos desse casal se encontravam, o mundo se detinha, era inevitável. Era algo inexplicável, nenhum dos dois podia entender e muito menos explicar. Era o estremecimento do desejo que nascia no mais íntimo da alma, onde se esconde o amor, e furtivamente vai embebendo os sentidos e tomando conta do corpo interna e externamente.

O fato de esse amor estar escondido provocava ainda mais intensidade quando esse sentimento encontrava oportunidade de transbordar, de sair à superfície. Altagracia não podia esconder a tristeza que tomava conta de seus olhos e muito menos o impacto que aquelas tão sentidas e significativas palavras de Saúl tinham sobre ela. Ele estava indo embora, era o fim e ela não tinha como detê-lo, não queria fazê-lo, jamais o faria!

Saúl sem esperar a resposta foi aproximando seu rosto do dela. Altagracia baixou os olhos, permaneceu imóvel, fez uma leve menção de se afastar quando ele levou a mão à sua cintura e a deteve junto de si. Ela não resistiu. Quando ele se aproximou, ela finalmente levantou os olhos e não pôde evitar que uma lágrima escorresse por eles. Saúl por muito pouco não foi às lágrimas também.

_ É só um beijo, Altagracia. Um único beijo... o último.

As palavras quase não puderam sair de sua boca quando ele disse "o último". Aquilo provocava uma dor infinita, dilacerante com a qual ele tinha dificuldade de lidar.

_ Por que não? - respondeu Altagracia lânguida. - Já foi tanta coisa que tu levaste de mim...

🎵La noche huele a ausencia
La casa esta muy fría
Un mal presentimiento
Me dobla las rodillas🎵

Saúl em um arranque chegou por completo seu corpo para junto de si. Ainda teve tempo de maravilhar-se com o aroma e o calor da respiração de Altagracia antes de envolver sua boca com uma ânsia jamais experimentada por nenhum dos dois.

Altagracia logo que sentiu a voracidade dos lábios de Saúl sobre sua boca também lançou-se com desesperação naquele beijo. Buscava seu sabor, sua calidez como que para apreendê-los e mantê-los com ela quando ele não estivesse mais. Suas salivas se misturavam em um afã de ambos de sugarem no beijo partículas que se materializavam daquele amor, como se desejavam!

🎵Te busco en el espacio
De mi angustiada prisa
Y solo encuentro rasgos
De tu indudable huída🎵

O beijo se profundizou de uma maneira que eles não conseguiam desvencilhar-se dele. Altagracia envolveu o pescoço de Saúl entre seus braços e ele colou o corpo dela no seu de tal maneira que parecia que os dois se haviam fundido em um só como de fato desejavam que acontecesse. O calor e as batidas dos corações mantinham-nos assim como se nada mais fosse necessário apartado daquele beijo, nem sequer respirar.

Os dois lutavam de toda maneira para saciarem aquele amor que os consumia e que ambos temiam admitir e decepcionar-se, perder-se na vergonha no escárnio do outro. Isso era o que mais lhes consumia: o temor de constatar que apesar de tudo se seguiam amando, mas que inevitavelmente amavam sozinhos por tanto mal que haviam feito um ao outro a despeito daquele sentimento que contra tudo que podia comprovar a lógica, seguia intacto, talvez ainda maior em meio à tantas dores.

Nenhum tinha coragem de lançar a moeda para pôr fim à dúvida. Os dois, por temor à perder as migalhas, não se animavam a lutar pela amplitude daquele sentimento que lhes envolvia, aquecia e, ao mesmo tempo, dilacerava a alma. Então faziam tudo para saciarem-no com os corpos, como se isso fosse possível, como se isso fosse suficiente... Como se algum amor verdadeiro se contentasse apenas com o físico, como se a paixão somente satisfizesse o amor, esse amor sublime que tanta gente luta por encontrar, mas parece residir apenas nos romances, na imaginação dos escritores, na alma dos poetas.

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