11 - Te amo, mas não confio em ti (+18)

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Forçando seu corpo contra a porta de seu quarto Altagracia chorava apoiando a cabeça na porta. Sentia que sua resistência se esvaía e toda sua força escorrer pelos dedos. A dor a estava consumindo, não podia mais suportar, sentia que ia sucumbir à ela. Em sua mente, a voz imponente de Saúl ecoava aqueles versos tão profundos:

Quando me tratas mal e, desprezado,

Sinto que o meu valor vês com desdém,

Lutando contra mim, fico a teu lado

E, inda perjuro, provo que és um bem.

Será que haviam sido fortes demais seus golpes contra os brios de Saúl? Será que o havia alvejado no mais íntimo? E, sobretudo, o que realmente a consumia era saber que suas atitudes feriam ao homem que ela tanto amava. Entretanto, ele também a havia machucado e as feridas estavam vivas, abertas, como recuperar-se delas? Seu rosto estava banhado de lágrimas quando sentiu os impactos do pulso de Saúl sobre a porta.

_ Abra, Altagracia. Quero falar com você.

Não teve forças para mover-se e permaneceu paralisada. Ainda ouvia a voz de Saúl:

Conhecendo melhor meus próprios erros,

A te apoiar te ponho a par da história

De ocultas faltas, onde estou enfermo;

Então, ao me perder, tens toda a glória.

_ Meu amor, abra. Por favor! - Saúl insistia.

"Meu amor?" Por que ele a chamava assim depois da atitude tão hostil que ela havia tido com ele ao falar sobre a noite que passaram juntos? Seria verdade que a amava?

Mas lucro também tiro desse ofício:

Curvando sobre ti amor tamanho,

Mal que me faço me traz benefício,

Pois o que ganhas duas vezes ganho...

_ Altagracia, eu não vou embora até você abrir. - Saúl era persistente.

_ Assim é o meu amor e a ti o reporto: Por ti todas as culpas eu suporto. - Repetia Altagracia baixinho tentando controlar as lágrimas.

Abriu a porta e caminhou até o meio do quarto. Saúl entrou, olhou-a emocionado. Ela virou-se para ele e, entre soluços, pediu:

_ Fale. O que você quer?

_ Eu não sei o que dizer. - Saúl disse quase sendo acometido pelas lágrimas.

_ Ah, Saúl... Eu... Eu não aguento mais! Não aguento mais!

Disse Altagracia lançando-se nos braços de Saúl que a amparou como que sustendo a seu bem mais precioso. Acariciava seus cabelos enquanto ela segurava-se firme em seu abraço, sentindo-se segura em seu afago, nos braços de Saúl. Ele afastou o rosto dela com as duas mãos e, sem evitar chorar, disse:

_ Perdoa-me. Perdoa-me por te fazer sofrer. Eu posso com tudo nessa vida, Altagracia, exceto com as tuas lágrimas. Eu faria qualquer coisa, qualquer coisa para que nunca mais tivesses que chorar.

Altagracia o olhava tomada pela emoção. Não conseguiu responder nada. Durante alguns segundos os dois se olharam descortinando as emoções um do outro através de seus olhos até que se lançaram em um beijo dramático. Se encerraram naquele beijo com exasperação e o gosto da boca deles se misturava ao sabor das lágrimas de Altagracia que banhavam seu rosto incessantemente. Logo Saúl a comprimiu contra si pela cintura com a mão direita e com a mão esquerda seguia segurando sua cabeça que girava no ritmo da voracidade do desejo dos dois. Os lábios de Altagracia se condensavam com os de Saúl que invadia sua boca com sua língua e encontrava uma receptividade na boca da Altagracia ditada pela paixão que não deixava e nenhum dos dois livres. Lentamente os dois foram deixando de beijar-se, mas não se soltaram por sentir a necessidade do calor do corpo um do outro.

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