Minguante

Capítulo 1

2015, Florida

     Finalmente, a tão esperada última aula da sexta-feira já estava acabando. Pessoalmente, nunca me agradou a ideia de ter que vir ao colégio todos os dias. Os assuntos, que cada vez mais se acumulavam, nunca foram uma dificuldade para mim. Costumava tirar notas razoáveis, apesar de não gostar de estudar, forçava-me a exercitar os conteúdos trabalhados em sala, isso fazia meu pai ficar bastante orgulhoso. Meu pai, umas das únicas pessoas que realmente me importava à opinião, já enfrentou, e enfrenta vários obstáculos um tanto quanto estressantes na vida, não queria que minhas notas se tornassem mais um obstáculo.

     Durante aquela aula, meus pensamentos já iam tão longe que nem sequer consegui ouvir o tocar do sino, anunciando o término das aulas. Finalmente. Liberdade!

     Como de costume, esperei que a maioria das pessoas se retirasse da sala. Nunca gostei de multidões, principalmente aquelas repletas de pessoas fúteis que não conseguem enxergar um palmo à frente do nariz. Pessoas que só se importam com elas mesmas. Meninos medindo forças. Nenhum deles queria saber, realmente, quem era mais forte ou não, apenas queriam chamar a atenção das garotas. Estas todas maquiadas e de cabelos bem arrumados, muito diferentes dos meus, que sempre estavam bagunçados. Não que isso me importasse. Algum tempo atrás não me atreveria a colocar a cabeça pra fora de casa com aqueles cabelos. Hoje em dia, tanto faz.

     Levantei-me da cadeira apressadamente, pois não via a hora de chegar logo em casa. Não odeio a escola, mas, apesar de muitos acharem que não, a vida de aluno é um tanto quanto cansativa. Passei rapidamente pela multidão e já estava no pátio do colégio, a poucos passos da saída.

     — Ângela! – gritou uma voz logo atrás de mim, e eu conhecia bem aquela voz. Por isso mesmo, fingi não ter escutado e continuei a andar em direção ao portão, agora num ritmo mais rápido.

      — Ângela, eu quero falar com você! — apertei mais o passo, já estava a uns 5 metros do portão, quando senti o dono da voz puxar meu braço.

     — Ei, por que não me respondeu?— era Michael. Meu ex-namorado. Havia apenas uma semana que nós tínhamos terminado. Que EU terminei. Nunca o achei chato, ele era legal. Um dos meninos mais populares do colégio, jogador de futebol. Qualquer garota fútil ficaria feliz em sair com ele, mas tudo mudava quando o assunto era namoro. Quando nós namorávamos, ele não me tratava bem, ignorava-me, saía com outras meninas e fazia de tudo para conseguir o que queria. Esse tipo de comportamento realmente me fazia sentir nojo dele.

     — O que foi dessa vez, Michael? – agora já estava de frente para ele; comecei a encará-lo, mas não durou muito tempo, Michael já sabia que não queria conversar com ele. Rapidamente, ele desviou o olhar.

      — Eu só queria saber se você poderia me dar mais uma chance. Eu realmente gosto de você — dito isso, ele agora me olhava com uma expressão tristonha. Se fosse a primeira vez que ele estivesse fazendo isso, eu ficaria de coração partido, como fiquei todas as outras cinco vezes que Michael fez isso. Ele me prometia mudar dizendo que tudo iria melhorar. Realmente, durante a primeira semana, ele mudava. Depois desse período, voltava a se encontrar com outras meninas em bares, motéis, casas de prostituição, todos esses lugares que contam com a presença de pessoas com muito "estilo" e pouca roupa.

     — Michael. Já conversamos sobre isso. Pra mim não dá mais. Já tô cansada de todas as suas mentiras e conversas fiadas. Pra mim já chega. Já deu.

     — Mas Ângela, eu posso mudar!— ao escutar isso, ignorei-o completamente, virei-me, e fui em direção ao portão, enquanto ele me xingava com alguns adjetivos muito "educados" – Isso não vai ficar assim, Ângela!— foi a ultima coisa que o ouvi dizer.