Capítulo 18

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     Minha cabeça girava num turbilhão de pensamentos. Depois do que Martin dissera, eu não tinha mais sono, não tinha fome, nem cansaço. Uma das únicas coisas que me restaram, era uma dor inexplicável em meu peito. Ele doía por Martin, pelo sofrimento solitário que ele vinha suportando desde que descobrira sobre seu "dom".

     Sim, meu peito doía por Martin, porém o foco da dor era por Raphael. Eu não sabia como, mas tinha que achar uma forma para impedir a visão de Martin! De todas as pessoas que poderiam querer a morte de Raphael, minhas principais expectativas caíam sobre Michael. Mesmo já tendo certa desconfiança, nada daquilo fazia sentido. Ele já havia se desculpado com Raphael pelo que tinha ocorrido comigo, e obteve perdão. Apesar da mudança repentina nas atitudes de Raphael, Michael não tinha o direito de matá-lo. O direito à vida é exclusivo de quem a ela pertence. Quanto mais o tempo passava, mais eu pensava e tudo fazia menos sentido.

     Talvez algumas coisas não sirvam pra fazer sentido.

     Nesse momento, minha vontade era voltar no tempo... Voltar pra uma data onde Raphael ainda era apenas ele. E, não um anjo que tenta dominar nossa cidade. Se bem que o "apenas ele" era muito mais do que o suficiente pra mim.

     Somente imaginar o que poderia ocorrer nas próximas vinte e quatro horas, fazia meu corpo tremer, minha mente perder o foco e minha visão ficar turva. Eu precisava fazer tudo, ao mesmo tempo em que não queria fazer nada. Martin me contou que suas visões não costumam errar. Não posso negar: isso abalava minha força de vontade para continuar.

     —Vamos Ângela! Pense positivo! – Eu disse enquanto olhava para o teto. – Raphael não desistiria de você... 

     Levantei-me num pulo do sofá e fui em direção à porta da frente. Ao me aproximar, algo me agarrou pela cintura.

     — Ângela! –Chamava-me, Alice. –Vocês estão me escondendo algumas coisas, posso ver isso em seus olhos e nos de Martin. Se estiverem mesmo fazendo isso, tenho certeza que deve haver algum motivo muito bom! – Eu não conseguia ver seu rosto, mas, pela sua voz, podia dizer que estava chorando. – Independente desse motivo, eu imploro: salve meu neto, não o abandone! Por favor! – Alice se esforçava ao máximo para falar. Sua voz falhava, seus braços me apertavam com mais força. E eu conseguia sentir o calor de suas lágrimas molhando minha camisa.

     — Eu jamais o abandonaria. Do mesmo jeito que ele jamais abandonaria nenhum de nós. – Me virei para abraçá-la enquanto segurava minhas lágrimas ao máximo. Eu queria chorar, queria muito, mas não podia. Tinha que passar a impressão de que era forte, tinha que passar confiança às pessoas que estavam ali. Às vezes, eu só queria não ser forte o suficiente. – Eu vou salvá-lo!

     Soltei-me de Alice e continuei em direção à porta da frente. Ao abri-la, toda a luz, que pertencia às lanternas das pessoas que ali estavam, entrou na casa. Era uma tanto quanto revigorante ver a quantidade de pessoas que se juntaram para ajudar Raphael. E pensar que ele já teria ajudado todas as pessoas que estavam ali presentes... Definitivamente, Raphael era incrível!

     Mal pude sair de casa e Antônio já vinha correndo em minha direção, chamando a atenção das pessoas pra mim.

     —Ângela! – Chamava-me. – Falei com alguns contatos e consegui arrumar algumas pistolas tranquilizantes, afinal, não queremos machucar ninguém.

     — Ótimo! – Apesar de não saber como ele fizera isso, Antônio era altamente prestativo. Ele conseguira atrair toda aquela multidão até ali, motivara todos eles e ainda conseguira armas ideais para alguns de nós. – Junte todos, tem algo que preciso explicar-lhes.

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