Capítulo 2

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2011, Florida

     Era uma bela manhã de domingo. Meu pai e minha mãe estavam de folga de seus trabalhos. Como estava um dia agradável, decidimos passear pela cidade. Fazia pouco tempo que tínhamos nos mudado. E em nossa antiga cidade não havia vistas tão belas como as daqui.

     O passeio tinha sido muito agradável. Definitivamente, esse era um daqueles momentos em família dos quais jamais iria esquecer. Apesar de ser muito nova, já tinha ciência que um dia meus pais podiam não estar mais ao meu lado. Infelizmente, essa era uma triste realidade. Já ouviram aquela frase bem famosa "tudo que é bom, dura pouco"? Pois é, eu também já havia escutado ela. Só não esperava que fosse durar tão pouco assim...

     Já estava escurecendo. Depois de um dia tão cansativo, tanto eu quanto meus pais, estávamos exaustos. Queríamos logo chegar a nossa casa, mas isso não iria fazer com que meu pai dirigisse mais rápido. Ele sempre fora um homem calmo na vida e na direção. Nunca passava dos 100 km/h. Apesar da velocidade em que estávamos, eu já conseguira ver a cidade pela janela do carro. Meu pai e minha mãe conversavam e riam da forma mais inocente e pura possível. Eles eram classificados como um dos casais mais perfeitos juntos. Por um momento, perguntei-me se algum dia também iria achar alguém assim, que me completasse e me fizesse feliz do mesmo jeito que minha mãe aparentava ser.

     De repente escutei um cantar de pneu e os gritos estridentes de agonia e terror que minha mãe dera. Sem ainda entender bem o porquê daquilo, consegui visualizar um clarão enorme na minha frente. Depois disto, não me lembro de mais nada, havia apagado. Perdera a consciência.

     Acordei algumas horas depois, ainda estava meio desorientada, deitada numa cama de hospital. Ao meu redor, vários amigos e familiares dos meus pais, todos estavam com olhares pesados e tristes. Apesar de ter apenas alguns arranhões leves, contaram-me que fiquei desacordada por 2 horas. Ainda não tinha entendido direito a situação que me encontrara. Afinal, o que tinha acontecido?

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     Hoje fez um ano que minha mãe faleceu e desde então não havia derramado uma única lágrima. Não que não sentisse falta dela. Eu sentia, e muita. Pensamentos tristonhos rondavam minha cabeça. Vontade de chorar não me faltava. Porém, de um ano pra cá, tudo havia mudado. Meu pai antes era calmo e focado, tanto na felicidade quanto no trabalho. Agora vivia embriagando-se em diversos bares. Raramente o via sóbrio e quando o via, não eram momentos tão felizes assim. Como já estava maior, eu começara a me parecer muito com minha mãe. Em momentos de embriaguez, ele me confundira com ela. A conversa começava do mesmo jeito de sempre. Ele perguntava por que eu havia o abandonado, por que eu tinha partido... E tudo acabava com ele me batendo e tentando violar-me.

     Todos da minha família haviam sofrido bastante após a morte de minha mãe. Eventualmente, afastaram-se de mim, pois meu rosto os fazia lembrar ela.

     Os primeiros meses após o acidente foram os piores possíveis. Apesar da dor e do sofrimento, recorrentes da perda, eu convivia com um sentimento não muito agradável: a solidão.

     Por mais que meus olhos pesassem, tive de passar várias noites em claro, pois nem nos meus sonhos conseguia encontrar sossego. As memórias daquele final de domingo sempre voltavam a atormentar-me. Por mais que tentasse esquecê-los, os gritos daquele dia jamais iriam parar de ecoar em minha mente.

     Com o decorrer dos meses, percebi que não iria adiantar de nada ficar em casa junto aos meus próprios pensamentos. Decidi então ir ao colégio. Ainda não conseguia sorrir, mas para conseguir novos amigos e popularidade, teria que sorrir, mesmo que fosse um sorriso falso. Acordei-me cedo. Era o primeiro dia de aula e eu tinha que estar devidamente arrumada e bonita, para que todos se aproximassem de mim. Sinceramente, não sabia quanto tempo iria aguentar sustentar aquela farsa.

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