Capítulo 3

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2015, Florida

     Como sempre, permaneci sentado e em silêncio durante todas as aulas. Sou o tipo de cara muito relaxado e isolado, mas nem sempre fui assim. A partir do meu décimo primeiro aniversário, comecei a sentir de alguma forma, quando as pessoas estavam , ou não, sendo verdadeiras com os demais e comigo. Quanto mais me aproximava das pessoas que pensava serem meus amigos, mas eu sentia que elas estavam mentindo. No início, realmente fiquei desesperado, pensava que iria viver apenas com a solidão como companheira fiel. Por muito tempo tentei ajudar os meus amigos a mudarem de atitude, fazendo-os repensar seus atos. Alguns me escutaram, outros há anos que não falam comigo. Isso me fez aumentar consideravelmente o número de amigos que tinham me bloqueado no Facebook.

     Sento-me na última cadeira da sala. Apesar de não ter muitos amigos, jamais evitei fazer novas amizades. Mas pelo fato de ser uma pessoa muito isolada, a maioria das pessoas me via como um "pobre coitado", isto é, quando me via. Muitos nem sequer sabiam o meu nome e, isso, às vezes me incomodava, fazendo com que eu sentisse um vazio por dentro. Porém, os poucos amigos que tenho nunca me deixavam ficar pra baixo. Costumavam subiam minha autoestima.

      —Graças a Deus! – gritou um garoto da primeira fila, assim que o sino tocou, anunciando o término das aulas. Pus meus fones de ouvido e fui em direção ao meu armário. O corredor estava lotado de alunos desesperados para irem embora, tal desespero era explicável. Meu colégio tinha um sistema de estudo muito avançado, fazendo com que os alunos se dedicassem ao máximo.

     Quanto mais me aproximava do local onde se encontrava meu armário, mais eu notava as pessoas me olhando de forma curiosa. Aquilo era estranho, muito estranho. Sempre consegui passar por multidões gigantescas sem ser percebido e agora estava chamando a atenção de todo o colégio. Será que eu estava fedendo?

     —Olha, é aquele ali! – escutei uma menina sussurrar no ouvido de sua amiga. Minha audição era excelente. Ao escutar aquilo fiquei ainda mais curioso. Afinal, o que teria acontecido? A resposta estava pichada na frente do meu armário: Vai ter troco, Raphael!

     Assim que abri o armário. Um bilhete caiu de uma das prateleiras:   

     Você foi um estúpido ao pensar que as coisas iriam ficar do jeito que estão. Se for homem de verdade, venha atrás do colégio assim que terminarem as aulas.

Obs.: se você não comparecer, ou contar a alguém sobre isso, eu irei atrás da Ângela, de novo!

     Estremeci assim que terminei de ler o bilhete. Não pelo fato da ameaça direcionada a mim. Estremeci pela ameaça feita a Ângela. Três noites atrás o ex-namorado dela, Michael, havia-lhe enganado e a atraído para o colégio tarde da noite. Na intenção de fazer "sabe lá o que" com ela. Mas ele jamais armava essas armadilhas sem a ajuda de ninguém. Todo o time de futebol estava presente para ajudá-lo. Por sorte, naquele dia eu havia esquecido a minha bolsa no colégio e precisava estudar. Vim buscá-la no mesmo horário que ele havia marcado com Ângela. Assim que percebi o que estava acontecendo, não sei de onde arrumei coragem e forças, fui ao encontro do grupo de jogadores que já estavam fazendo uma "rodinha" em Ângela e os impedi de fazer qualquer coisa com ela.

     Nunca gostei de brigas ou confusões. Acho que nunca teria a capacidade de machucar alguém, mas quando o assunto era a proteção de um amigo, tudo mudava. Guardei rapidamente o bilhete em meu bolso e pus uma boa quantidade de livros em minha bolsa, isto já poderia me servir como uma proteção contra qualquer ataque nas costas. Fui em direção ao pátio que ficava na parte de trás do colégio e, a essa hora, não haveria quase ninguém; apenas eu e Michael.

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