Capítulo 8

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     Abri os olhos e não fez muita diferença. O quarto estava completamente escuro, a não ser pela luz do carregador de meu celular. Eu havia acabado de acordar de mais um pesadelo. E sempre o mesmo pesadelo: Uma andorinha branca que percorre o céu azul, depois ela começa a escurecer até chegar ao ponto em que o único branco presente em seu corpo era seus olhos. E a sensação de não poder mover-se para ajudar a andorinha era horrível. Ouvi dizer que sonhos tentam te dizer ou avisar alguma coisa. Mas, por Deus, o que aquele sonho significava?

     —Que horas são? — Perguntei. Só depois de alguns segundos percebi o quão estupida tinha sido aquela pergunta. Afinal, eu estava sozinho em meu quarto. Levantei-me ainda um pouco desequilibrado e parecia que estava mais do que o normal. Minhas costas estavam pesando como se eu ainda estivesse com a mochila do colégio com todos os livros dentro. Acho que havia dormido de mau jeito. Isso é normal de acontecer com as pessoas, ainda mais se você se meche mais enquanto dorme do que quando se está acordado.

     Caminhei em direção a cômoda onde se encontrava meu celular. Eram 04h15. Virei-me na esperança de pegar no sono novamente, mas dificilmente iria conseguir. Eu conseguia dormir por muito tempo, mas depois que acordasse... Não conseguia dormir mais.

     Escutei o barulho de algo caindo atrás de mim. Era um abajur que minha avó insistira para que colocasse no quarto. Ele estava em pedaços no chão. Como ele havia caído? Ele estava no meio da cômoda. 

     Virei para apanhar os pedaços de porcelana no chão e escutei outro barulho de algo caindo. Desta vez havia sido um dos meus livros de geometria. Não era minha matéria favorita, mas não queria que ficasse caído no chão. Pelo menos eu sabia o que havia batido no livro.

     —Ah... Foram às asas. — Parei um minuto para pensar no que havia dito — As asas? — Saí rapidamente do quarto e fui correndo em direção ao banheiro, desnecessariamente grande, no final do corredor. Abri a porta às pressas e liguei a luz. Havia um espelho enorme na parede do banheiro. Eu não conseguia acreditar no que estava diante dos meus olhos. Fiquei paralisado de surpresa por alguns segundos. Pus a mão em minha boca para evitar soltar um grito. Afinal, aquilo havia me assustado. Eu não estava entendendo absolutamente nada que estava acontecendo.

     Eu estava com asas. Asas gigantescas e alvas como o pelo de um coelho. Elas tinham mais ou menos 4 metros de uma ponta a outra. E eram repletas de penas, sem haver uma falha sequer. "Deve ser só mais um sonho louco" pensei.

     Eu queria tocá-las. Hesitei por alguns instantes. Por fim, decidi tocá-las. A maciez das penas era tanta que não me recordo de alguma vez ter tocado num travesseiro ou cama tão fofa. Era simplesmente inacreditável, mas aquilo não era um sonho. Era tudo real! Tentei olhar a parte de trás das asas. Tentativa falha. Derrubei duas toalhas de banho e três sabonetes líquidos. Eu iria demorar pra me acostumar com aquilo e muito.  

     —Raphael? — era minha avó, provavelmente teria sido acordada pelo barulho de coisas caindo — O que é esse barulho todo?

     Tranquei a porta do banheiro.

     —Não é nada vó.

     —Raphael, você sabe muito bem que é péssimo em contar mentiras não é?

     —Apenas prometa que não vai se assustar.

     —Eu sei que quando os meninos chegam numa certa idade, eles ficam com algumas necessidades... Só não quebre nada por aí.

     —Não é nada disso vó.

     —Então o que é?

     —Calma, eu vou sair! — destranquei a porta e fui surpreendido pelo olhar inquietante de minha avó.

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