Capítulo 13

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     Alguns dias após a revelação de Raphael, eu comecei o interrogatório sobre algumas curiosidades: Como ele voava, como ele sentia as coisas ao seu redor, como via o mundo...

     — Bem, — Começou Raphael. – há um tempo eu acreditava num mundo perfeito, quase uma utopia... – Enquanto falava, Raphael olhava sonhador para acima das nuvens. No banco em que estávamos sentados era possível ter uma vista deslumbrante do Céu. Não havia nenhuma árvore nem muito menos postes, atrapalhando nossa vista. — Eu sonhava com um mundo onde as pessoas não julgavam umas as outras, onde o preconceito não existisse. Pelo que vi e ainda vejo, percebi que esse foi um dos meus primeiros erros: Pensar que esse sonho poderia mesmo se realizar. Confesso que ainda não desisti dele. Porém, à medida que conheço mais a humanidade e seus verdadeiros instintos, essa idealização se torna cada vez mais distante. Ultimamente eu venho pensando muito sobre isso... Sabe, Ângela, – Disse-me, deitando sobre o banco e apoiando sua cabeça em minhas coxas. – o mundo não está nenhum pouco corrompido. O que está corrompido são as pessoas que o habitam. E mesmo assim, você não foi "contaminada" por essas pessoas. Como você consegue? Me ensina? – Falou, sorrindo em minha direção.

     — Você fala como se não fosse capaz disso também. Você é um anjo! – Disse-lhe sussurrando.

     — Mas, Ângela, assim como já aconteceu no passado, os anjos também podem ser contaminados. Como você acha que os Anjos são expulsos do Céu? Nós também estamos sujeitos a erros. Alguns conseguem voltar atrás, outros não... – Disse Raphael enquanto virava vergonhosamente sua cabeça.

     — Eu não deixaria você ir. – Falei como se fosse capaz de ajudá-lo em algo. Eu sabia que não era, mas acho que só pelo fato de dizer aquilo, já o tranquilizava.  

     — Ainda bem que tenho você ao meu lado. – Disse-me, agora olhando em meus olhos enquanto tocava meu rosto com as costas de sua mão. Seu toque era quente e macio. Ruborizei e virei o rosto. Ele percebeu e logo riu de mim. Raphael também sempre fora vergonhoso, mas isso não impedia que ele tirasse sarro de mim quando ficava vermelha. Ele acha "bonitinho". Claro que não era bonitinho, eu ficava vermelha igual um tomate! Que tipo de pessoa olha pra um tomate e diz que ele é bonitinho?

     Em meio às risadas e vermelhidões, o sol se afastava cada vez mais de nós. Eu sempre perdia totalmente a noção do tempo quando estava com Raphael. Às vezes, parecia uma eternidade e que o mundo ao nosso redor "congelava". Às vezes, parecia passar rápido como se uma tarde inteira não fosse nada além de um simples piscar de olhos. Era bom estar perto dele e era ruim saber que iríamos nós separar em breve. Tal pensamento parecia muito meloso até dentro da minha cabeça, e há um tempo eu sentiria até repulsa a esse tipo de sentimento. Hoje, não faria muita diferença. Ele podia saber o que se passava dentro da minha cabeça mesmo.

     Por alguns segundos, eu havia esquecido essa habilidade dele e fiz o possível para não pensar essas coisas. Novamente, ruborizei.

     — Raphael. – Chamei-lhe.

     — Que foi Ângela? – Disse-me calmamente.

     — Quero que me prometa uma coisa.

     — Pode dizer.

     — Prometa que não vai olhar dentro da minha cabeça de novo.

     — Mas porqu...

     — Apenas prometa, logo! – Pedi antes que ele pudesse fazer alguma coisa. Raphael não era o tipo de pessoa que quebrava promessas.

     — Prometo! – Ele me sorriu. 

      Aquela promessa me tirou um peso enorme das costas. Resolvi trocar de assunto antes que Raphael começasse com questionários.

     Raphael me acompanhou pacientemente por praticamente todo o percurso até minha casa, até um momento em que ele pareceu ter esquecido algo.

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