Capítulo 5

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     "Perdoe-nos por tudo, Raphael!" Passei a noite toda pensando no que poderia ter acontecido de tão grave para eles terem feito aquilo. Será que algum coordenador do colégio havia descoberto o ocorrido e os mandado fazer aquilo? Mesmo sem saber os motivos concretos, aquela cena jamais sairia da minha cabeça; Ainda que eu quisesse, não iria esquecê-la.

     Acordei mais cedo do que de costume. De alguns dias pra cá, estava conseguindo acordar em horários mais favoráveis para o meu dia a dia. A cada manhã, eu acordava mais energético e ativo. Era como se de um dia pro outro, alguém tivesse finalmente me ligado na tomada. Depois de tanto tempo isolado e sozinho, agora minha quantidade de amigos havia aumentado muito, eu não passara uma aula sequer sozinho, no fundo da sala, como antes... Por mais que tantos pensamentos positivos assim me fizessem feliz, eu não podia perder tempo com eles, era melhor vivenciá-los.

     Levantei-me rapidamente da cama, tomei meu banho matinal, arrumei-me e desci as escadas para ir ao encontro da minha avó. Na parte superior da nossa casa, existiam apenas os quartos, o meu e o dela, e na parte inferior ficavam os demais cômodos.

     Embora eu estivesse conseguindo acordar mais cedo, ela ainda conseguia superar-me. Minha avó acordava extremamente cedo. Dizia-me constantemente que não conseguia passar muito tempo deitada sem fazer nada. Apesar da idade, ela era uma das pessoas mais dispostas que eu conhecia, jamais ela teve preguiça de fazer algo. Principalmente se fosse um pedido meu. Sempre tive conhecimento disso, mas nunca quis usufruí-lo. Eu queria que ela fosse mais relaxada, descansasse mais e não se preocupasse tanto comigo. Nós tínhamos muitos anos de diferença de um para o outro, mas ela com toda certeza se movimentava muito mais do que eu. Preguiça era uma palavra que definitivamente não parecia existir em seu dicionário. Jamais a vi se queixar de dores ou de cansaço.

     Ao chegar à cozinha, a primeira coisa que conseguir ver foi vovó. Ela estava usando um vestido longo, não era dos mais bonitos, mas ela dizia que era bastante confortável. Seus cabelos eram grisalhos e curtos, com comprimento próximo ao ombro e com um brilho absurdamente perfeito. E, apesar de cabelos brancos serem sinônimo de idade avançada, isso não a fazia parecer mais velha. Além disso, ela tinha um corpo magro e com poucas rugas. Diferente da maioria, minha avó havia envelhecido mantendo a forma. Quando em sua fase juvenil, certamente atrairá muitos olhares.

     —Bom dia, vó! –gritei assim que cheguei à cozinha, eu estava bastante feliz.

     —Que susto, Raphael! – disse ela, assim que percebeu minha discreta presença – Quer me matar do coração? Não pense que vou morrer assim tão fácil. Estou na flor da idade – riu, enquanto aproximava-se da mesa com uma frigideira com ovos e bacon. Pode não ser muito, mas minha avó era uma excelente cozinheira. Somente o cheiro de sua comida já era suficiente para me deixar faminto.

     —Sente-se também, vó. – ela assentiu, enquanto se sentava a mesa, colocando nossos pratos e talheres.

     —Como você está se sentindo, meu neto? – perguntou-me enquanto colocava sua comida – esses dias você me pareceu estar mais agitado.

     —Na verdade, estou me sentindo ótimo. Nunca me senti melhor. De um tempo pra cá, parece que tudo ao meu redor está mais nítido. É como se eu finalmente tivesse despertado...

     —Como o quê? – ela mal terminara de falar, quando o prato escorreu de sua mão. E agora ele havia se estilhaçado todo ao bater contra o chão.

     —Cuidado vó! – falei preocupado – A senhora está bem? Machucou-se?

     —Eu estou bem, só um pouco desajeitada. – ela parecia nervosa – Não devo ter dormido direito, deve ter sido isso!

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