Capítulo 11

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     Durante os primeiros 45 minutos de aula, tentei me focar ao máximo no professor de história. Passado esse tempo, até uma mosca se tornava a coisa mais interessante do mundo. A ideia de passar quatro horas, QUATRO LONGAS HORAS, sentada numa cadeira nunca me agradou muito e tudo piorava quando os únicos pensamentos que me vinham à cabeça eram referentes a Raphael. Fazia muito tempo desde que o vira. Foram três longas semanas que, sem a presença dele, pareciam meses ou até mais. Havia visitado algumas vezes a casa dele, mas sempre a encontrava vazia. Nenhum sinal de Raphael ou de sua avó. Confesso que fiquei bastante preocupada. Quanto mais o tempo passava, mais preocupações me alcançavam.

     Porém, o que mais me chamava atenção era o fato de que apenas eu e os amigos mais próximos parecíamos notar sua falta. Por mais que perguntasse às pessoas que há pouco tempo estavam tão juntas a Raphael ao ponto de me causar ciúmes, a resposta era a mesma: "Ele faltou? Não havia percebido...". Sempre desconfiei que esses novos "amigos" de Raphael apenas falavam com ele para pedir ajuda em seus próprios problemas. Mas eu jamais teria coragem de contar-lhe sobre isso. E mesmo que contasse, acho que Raphael não deixaria de ajudá-los por isso. Ele se sentia bem em ajudar as pessoas ao seu redor, chegava a ser algo impressionante o modo como ajudava sem outras intenções. Ele sempre fora a pessoa mais pura e gentil que eu havia conhecido. Me ajudou com problemas pessoais e nunca me pediu nada em troca.

     Um dos mistérios que passavam pela minha cabeça eram os problemas de Raphael. Apesar de sempre ajudar os outros, ele nunca havia permitido que alguém o ajudasse. E não gostava quando alguém se preocupava com ele. Ele sempre soube cuidar dos próprios problemas, que por sinal nunca me contava sobre nenhum...

     Mal tive tempo de concluir o pensamento e o sino havia tocado, sinalizando o término das aulas. Não demorei a organizar meu material.  

     No entanto, o pouco tempo que passei fora suficiente para ser a última pessoa a sair de sala. A maioria saía rapidamente. Era como se alguém tivesse aberto a porta de uma gaiola em que estavam presos centenas de pássaros.

     O corredor estava semivazio, o que me restara agora era seguir o mesmo caminho de todos os dias, mas não tinha Raphael para me acompanhar até minha casa. Passei pelos corredores frios de cabeça baixa, em direção à porta da frente do colégio. Para combinar com meu excelente humor, estava chovendo e eu não trouxera meu guarda-chuva. Subi o capuz do casaco que estava usando e fui em direção à gélida chuva que a cada segundo passado parecia se tornar mais forte e mais fria.

     A partir de um momento, o frio ficou tão intenso que meu desejo de rever Raphael já não era tão fixo. Queria vê-lo, para ter seu abraço quente por perto. Queria vê-lo, porque estava com saudades. Queria vê-lo, porque me sentia triste sem ele.

Em meio às memórias e devaneios, eu andava cada vez mais rápida. Naquele momento, se tinha uma coisa maior que o frio, era a vontade de ir direto pra casa, deitar na minha cama e me enrolar em algum cobertor bem macio e quente.

     O que antes parecia mais com passadas largas, agora se tornava quase uma corrida. A rua estava vazia e livre para poder correr o quanto quisesse. Fiz o possível para não parecer alguma fugitiva da polícia. Apenas corria as partes em que eu estava sozinha na rua. Não queria assustar ninguém.

     —Ângela! – Uma voz masculina atrás de mim havia gritado. Eu estava tão concentrada em não assustar as pessoas ao meu redor que acabei me assustando. Eu nem notara a presença daquela pessoa se aproximando. Não sabia ao certo se foi a minha falta de atenção, ou se foi o homem que se aproximou sorrateiramente. – Espere!

     Meu coração acelerou de tal maneira que por alguns segundos jurava que havia escutado ele bater, porém a tonicidade naquela voz não me era estranha. Era uma voz calma e tranquila, daquelas que você gosta de ouvir. Será que era...

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